Nos últimos anos, os avanços da medicina vêm contribuindo significativamente para ampliar a expectativa de vida dos brasileiros. Se nos anos 1980 a média era de aproximadamente 66 anos, atualmente muitos almejam chegar aos 77 anos ou mais. Essa evolução positiva na longevidade também se estende às pessoas com Síndrome de Down.

No início do século XX, aqueles nascidos com uma terceira cópia do cromossomo 21 tinham uma esperança de vida de apenas 10 a 12 anos. Hoje, graças a novos tratamentos médicos, um estilo de vida mais ativo, o apoio de grupos de suporte e leis que promovem a inclusão no trabalho e na educação, testemunhamos uma transformação notável.

A expectativa de vida das pessoas com Síndrome de Down, que era de 25 anos em 1983, atingiu a marca de 60 anos em 2018, com muitos indivíduos superando essa estatística. O avistamento de senhores e senhoras com Síndrome de Down nas ruas está se tornando cada vez mais comum.

A Síndrome de Down é uma condição genética que afeta aproximadamente 1 em cada 700 nascimentos no Brasil, de acordo com a Federação Brasileira das Associações de Síndrome de Down. As pessoas com essa síndrome apresentam características físicas e cognitivas distintas que podem influenciar seu desenvolvimento e qualidade de vida.

No entanto, é crucial destacar que a trissomia do cromossomo 21 não é uma doença, e, por isso, mais indivíduos com Síndrome de Down estão quebrando as barreiras do preconceito e desempenhando papéis ativos na sociedade, contribuindo com seus talentos. Muitos frequentam escolas regulares, cursam o ensino superior, trabalham e desfrutam de autonomia.

Um exemplo inspirador é Estela Brick, de 57 anos, que possui Síndrome de Down e foi contratada pelo Serasa por meio do programa de empregabilidade da Associação para o Desenvolvimento Integral do Down (ADID). Ela atua como auxiliar de escritório há mais de 15 anos, sendo responsável pela organização de planilhas, arquivos, e-mails, cálculos, clipping e atendimento por telefone. Mesmo durante a pandemia, Estela trabalhou em casa, mantendo sua reputação de ser altamente organizada.

“Eu cuido da minha saúde, tomo muita água, cuido de minhas coisas, faço a minha cama todos os dias, separo a minha roupa de trabalho, mas se for preciso peço ajuda, sim, porque eu gosto de fazer tudo direitinho. Gosto de trabalhar, de dançar, de ir à piscina, à praia, e adoro ir também ao Chaverim. Lá eu converso bastante e conheço outras pessoas”, conta Estela.

No entanto, é importante destacar que os desafios em relação à inclusão ainda são significativos. Para garantir que mais pessoas com Síndrome de Down, como Estela, tenham uma vida ativa e se sintam plenamente integradas e apoiadas, é crucial que tanto a sociedade quanto o poder público se envolvam, respeitando as diferenças e protegendo os direitos desses indivíduos.

Isso implica em oferecer cuidados de saúde específicos, como avaliações cardiológicas, oftalmológicas e auditivas, estimular o aprendizado desde a infância, adaptar atividades educacionais e profissionais para incluir essas pessoas e combater a discriminação.

O Defensor Público Federal André Naves, especialista em Direitos Humanos e Inclusão Social, destaca a urgência de o Brasil avançar ainda mais na adoção de políticas públicas inclusivas que garantam direitos, cidadania e dignidade para pessoas com Síndrome de Down.

Esses direitos incluem o recebimento do Benefício de Prestação Continuada (BPC), isenção do Imposto de Renda, passe livre no transporte público, cotas em concursos públicos e empresas privadas, bem como cotas em universidades públicas.

“A inclusão plena ainda é um desafio para as pessoas com Síndrome de Down, mas é um objetivo que vale a pena ser perseguido. Afinal, elas são como qualquer outra pessoa, com sonhos, sentimentos e capacidades. E têm muito a ensinar sobre diversidade, resiliência e amor”, conclui André Naves.

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