O Brasil apresenta nesta segunda-feira, 18, sua defesa ao Escritório do Representante de Comércio dos Estados Unidos (USTR), em meio à investigação aberta contra o país.

Trata-se da única oportunidade de negociação formal com os EUA, já que as altas tarifas impostas ao Brasil têm motivação política ligadas ao julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro, e não apenas comercial.

Segundo especialistas, o envio da resposta não deve reverter imediatamente o tarifaço imposto pelo governo Trump, mas servirá para medir se a hostilidade contra o Brasil pode aumentar.

Se o país for considerado “culpado” de práticas desleais, Washington poderá usar isso como justificativa para abrir novas ações comerciais. A investigação norte-americana tem como fundamento a Seção 301, que trata de práticas consideradas injustas no comércio.

O governo brasileiro preparou uma resposta detalhada, apresentando argumentos técnicos, econômicos e jurídicos em diferentes frentes. Entre os principais pontos da defesa do Brasil estão:

  1. PIX – O governo argumenta que o sistema representa uma evolução natural dos meios de pagamento, ampliou a inclusão financeira e não afeta os interesses de empresas americanas, como as operadoras de cartões de crédito.
  2. Patentes da indústria farmacêutica – O Brasil se compromete a avaliar prazos mais curtos para decisões sobre reconhecimento de patentes.
  3. Combate à pirataria – No comércio popular da 25 de Março, em São Paulo, o Brasil apresentou dados que comprovam ações efetivas contra produtos falsificados.
  4. Questão ambiental – Washington citou o aumento do desmatamento, mas o governo brasileiro destacou que houve forte redução sob a gestão de Luiz Inácio Lula da Silva, após o crescimento durante o governo Bolsonaro, apoiado por Donald Trump.

Relação diplomática desgastada

Além dos questionamentos formais, a defesa brasileira ocorre em um momento de isolamento diplomático. Os canais de diálogo com o governo americano foram reduzidos. Geraldo Alckmin teve contato interrompido com o secretário de Comércio dos EUA, Howard Lutnick.

Além disso, o chanceler Mauro Vieira iniciou conversas com o secretário de Estado Marco Rubio, mas não houve continuidade, e o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, teve reunião cancelada com o secretário do Tesouro, Scott Bessent.

A primeira sessão de encontro entre Brasil e EUA está prevista para setembro. Até lá, entidades como a Amcham e associações empresariais afetadas também apresentarão suas defesas.

Para analistas, o desafio é negociar com um governo norte-americano que fecha portas e centraliza decisões em Donald Trump. O Brasil, por sua vez, busca mostrar abertura e disposição ao diálogo, reforçando que a disputa não é apenas comercial, mas política.

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