A representante de Comércio dos Estados Unidos, Katherine Tai, afirmou que o Brasil deve ter cuidado ao aderir ao projeto chinês de investimentos em infraestrutura, conhecido como Nova Rota da Seda. A fala ocorreu em evento em promovido pela Bloomberg Media em São Paulo.

“Soberania é fundamental, e essa é uma decisão do governo brasileiro. Mas eu encorajaria meus amigos no Brasil a olhar a proposta com as lentes da objetividade, com as lentes da gestão de risco”, disse.

O governo brasileiro ainda não se posicionou sobre uma eventual participação no projeto chinês. Grupos, no entanto, pressionam o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para que o anúncio seja feito durante a visita do presidente chinês Xi Jinping, em novembro.

A ala econômica do governo defende que qualquer acordo inclua mecanismos como transferência de tecnologia e salvaguardas para defender a produção industrial nacional e alavancar o comércio de alto valor agregado.

“O Brasil deve se perguntar qual é o caminho que leva a mais resiliência não só da economia brasileira, mas da economia global”, disse a autoridade econômica dos Estados Unidos.

A representante do governo estadunidense falou sobre a redução da dependência de cadeias de suprimento da China. O governo dos EUA deve anunciar, em novembro, um acordo para que o Brasil seja fornecedor preferencial de minerais críticos para os americanos.

Minerais como grafite, lítio, manganês, terras raras e níquel, são essenciais para a fabricação de vários produtos de alta tecnologia e energia verde. Entre os principais produtos estão baterias de veículos elétricos e painéis solares, que são apontados como setores preocupantes por estarem concentrados em produtores chineses.

“Se olhar os segmentos da produção de módulos para energia solar, a China tem entre 80% e 100% da cadeia de suprimento em cada um deles. É uma dependência efetiva de uma só economia, com risco importante para a cadeia de suprimentos, como aconteceu na pandemia com as máscaras e outros equipamentos de segurança”, afirmou.

Tai afirmou que o governo dos Estados Unidos está concentrado em discutir “instrumentos de comércio que possam fortalecer as cadeias de suprimento”. Isso deve se aplicar também a produtos feitos por empresas chineses em outros países, como México e o próprio Brasil.

A análise leva em conta quatro critérios de transparência sobre a relação entre o fabricante e o Estado. “Se uma montadora chinesa vai fabricar seus veículos no México, nós estaremos preocupados com quem está trabalhando nessas fábricas, qual a regulação trabalhista, qual o impacto ambiental e, principalmente, se há uma conexão transparente entre empresa e Estado.”

“O que os economistas identificaram é que, no período pós-colonial, países que desenvolveram instituições inclusivas foram mais bem-sucedidos em gerar riqueza, em relação aos que seguiram caminhos mais extrativos. Em nossas parcerias com amigos e vizinhos, temos que usar nossas ferramentas de comércio para reforçar instituições inclusivas”, disse Tai.

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