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O Brasil registrou crescimento nas exportações em agosto, mês seguinte à adoção da tarifa de 50% pelos Estados Unidos sobre produtos brasileiros. O resultado foi sustentado por vendas de soja, carne, milho e minério de ferro, mas a medida americana provocou incertezas em setores que dependem de forma significativa do mercado norte-americano.

Segundo dados oficiais, os Estados Unidos respondem por aproximadamente 12% das exportações brasileiras. O impacto imediato sobre o Produto Interno Bruto foi estimado em 0,2%, índice considerado baixo devido à diversidade de destinos das mercadorias nacionais. Ainda assim, economistas alertam que a continuidade do cenário tarifário pode comprometer segmentos industriais que não têm a mesma capacidade de redirecionar vendas.

Setores mais afetados

No setor de mel, as dificuldades foram mais evidentes. O Brasil destinava 80% da produção ao mercado americano e agora enfrenta retração na demanda. A indústria de máquinas e equipamentos, que representa produtos de maior valor agregado, também foi afetada e registrou queda de 10% no volume exportado em agosto.

Em contrapartida, outros setores compensaram parte das perdas com a ampliação de mercados alternativos. As vendas para a China e países da América Latina cresceram 4%, com destaque para a soja e o milho, que tiveram aumento superior a 10% nas exportações. O setor de carnes reduziu em 46% os embarques para os Estados Unidos, mas a forte demanda de outros mercados elevou a receita total em 56%, alcançando 1,5 bilhão de dólares em agosto.

Apesar das tarifas tarifa, exportações de carne cresceram 50% | Foto: Russ Schleipman – Getty Image

A indústria madeireira foi uma das mais impactadas negativamente. Estima-se que cerca de 4 mil postos de trabalho foram eliminados em um universo de 180 mil empregos formais. Trabalhadores também foram colocados em férias ou afastamento temporário diante da queda na produção. Já a indústria calçadista, que mantém parte expressiva das vendas para o mercado interno, sofreu retração de 17% nos embarques para os Estados Unidos.

Reação do governo e negociações diplomáticas

Diante do quadro, o governo federal lançou o programa Brasil Soberano, voltado para reduzir os efeitos do tarifaço. O pacote prevê crédito subsidiado, adiamento no pagamento de tributos e redução de impostos para exportadores diretamente afetados. A expectativa é de que as medidas aliviem pressões de curto prazo, embora autoridades reconheçam que a solução de longo prazo dependa de avanços diplomáticos.

Na esfera internacional, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva conversou de maneira informal com o presidente norte-americano Donald Trump em Nova York durante a Assembleia-Geral da ONU, em 23 de setembro. A reunião abriu a possibilidade de um encontro bilateral futuro, mas não há até agora confirmação oficial.

O empresariado acompanha as negociações de perto. Setores dependentes do mercado americano cobram avanços que possam reduzir ou flexibilizar as tarifas impostas. Já exportadores de commodities avaliam que a diversificação dos destinos será fundamental para sustentar o ritmo atual, especialmente diante da instabilidade global e da competição com outros países fornecedores.

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