O mercado imobiliário de alto padrão tem encontrado um novo nicho entre os ultrarricos: os bunkers de luxo, projetados para garantir conforto e segurança diante de cenários apocalípticos, de guerras e pandemias a desastres climáticos. O conceito, que une fortificação e sofisticação, tem atraído figuras como Mark Zuckerberg e Jeff Bezos, e movimentado empresas especializadas em construções subterrâneas de alto nível.

Diferente dos abrigos tradicionais, voltados apenas à sobrevivência, esses empreendimentos prometem transformar a experiência do isolamento em algo próximo a um resort subterrâneo. Entre os diferenciais estão spas, restaurantes de alta gastronomia, áreas de lazer e sistemas de projeção que simulam paisagens externas, proporcionando aos moradores uma sensação de normalidade mesmo debaixo da terra.

Um dos exemplos mais emblemáticos é o complexo construído por Mark Zuckerberg, fundador da Meta, na ilha de Kauai, no Havaí. Avaliado em cerca de R$ 1,3 bilhão, o projeto ocupa 566 mil metros quadrados e inclui um abrigo subterrâneo de 1,5 mil metros quadrados, interligado a duas mansões principais por um túnel com escotilha de fuga e sistema de vigilância.

Documentos obtidos pela revista Wired revelam que o terreno abrigará mais de 12 edifícios, com 30 quartos, academia, piscinas, sauna, banheira de hidromassagem, quadra de tênis e cozinhas industriais. A propriedade é cercada por muros de quase dois metros e monitorada por seguranças, o que reforça o caráter de fortaleza particular.

Um detalhe que chama atenção é a porta à prova de explosões, reforçando o caráter de “bunker premium”. Apesar das especulações, os representantes de Zuckerberg e de sua esposa, Priscilla Chan, preferiram não comentar o projeto.

Empresas especializadas também têm lucrado com o medo do colapso global. A americana Safe, por exemplo, lançou o projeto Aerie, uma rede de “santuários globais” com abrigos subterrâneos de luxo em diversas cidades do mundo.

Segundo Naomi Corbi, diretora de Operações e Prevenção Médica da empresa, o Aerie funciona como um clube exclusivo, com adesão apenas por convite. Um abrigo de 185 metros quadrados custa cerca de US$ 2 milhões (R$ 10,8 milhões), mas há unidades que ultrapassam US$ 20 milhões (R$ 108 milhões).

Corbi explica que as instalações são autossuficientes, com sistemas de energia próprios, alimentos, água e atendimento médico ilimitado. “Elas não dependem de rede elétrica, o que as torna à prova de pulsos eletromagnéticos”, afirmou.

Um dos aspectos mais curiosos é a inclusão de uma “prisão interna” em cada bunker, destinada a lidar com eventuais conflitos entre residentes e funcionários. “Sempre existe a possibilidade de comportamentos inaceitáveis. Cada instalação possui uma suíte preparada para manter pessoas em isolamento, mas que permite comunicação e interação”, explicou Corbi.

As estruturas seguem o padrão Sensitive Compartmented Information Facility (SCIF), usado em instalações de segurança máxima, como a sala de crise da Casa Branca, protegendo os espaços contra vigilância eletrônica.

Corbi acredita que o aumento da instabilidade política e climática mundial impulsiona a demanda por esse tipo de abrigo. “A humanidade está em um caminho perigoso, a ser digitalmente aprisionada e completamente controlada. O Aerie é soberano: a privacidade reina, o acesso é ilimitado e a discrição é absoluta.”

Questionada sobre a presença de clientes brasileiros, a executiva preferiu não confirmar, mas afirmou que “o Brasil não está alheio às preocupações com segurança global”.

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