Um artigo publicado nesta quinta-feira, 4, pelo jornal inglês Financial Times destacou que os principais bancos brasileiros se tornaram peças centrais de uma crise diplomática inédita entre o governo dos Estados Unidos, liderado por Donald Trump, e o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes.

Segundo o texto assinado pelo correspondente Michael Pooler, instituições como Itaú Unibanco, Bradesco, Santander Brasil, BTG Pactual e o estatal Banco do Brasil estão sob pressão do Departamento do Tesouro norte-americano para aplicar sanções contra Moraes, enquadrado na Lei Magnitsky. Ao mesmo tempo, o STF ameaça punir os bancos que adotarem qualquer medida nesse sentido, criando um dilema jurídico e financeiro sem precedentes.

O jornal relembra que, em 19 de agosto, as ações dos principais bancos brasileiros tiveram queda expressiva, puxando o Ibovespa para baixo após decisão do Supremo que blindava Moraes contra sanções internacionais. A oscilação refletiu a preocupação de investidores com a possibilidade de punições mais duras vindas de Washington.

“Todo o mercado financeiro vê isso com extrema preocupação. Nenhuma instituição financeira brasileira quer estar no meio dessa briga política”, afirmou um banqueiro ouvido pelo jornal britânico.

A situação é considerada grave porque os bancos receberam cartas do Tesouro dos EUA exigindo a aplicação das sanções. Caso não cumpram, podem enfrentar restrições severas, como bloqueios no sistema financeiro norte-americano — medida que afetaria diretamente o crédito em dólar e operações internacionais.

STF x Tesouro americano

De um lado, os EUA exigem que os bancos brasileiros executem as penalidades contra Moraes, o que pode proteger as instituições de sanções externas. De outro, decisões do STF, como a do ministro Flávio Dino, proíbem qualquer tipo de penalização ao magistrado em território nacional.

A incerteza abre um risco jurídico inédito: qualquer escolha pode representar violação de normas e expor os bancos a retaliações, seja em Brasília ou em Washington.

O Financial Times também destacou que executivos do setor financeiro analisam o alcance das sanções. Há entendimento de que elas se aplicariam apenas a operações em dólares ou a transações feitas por meio de bandeiras internacionais de cartões de crédito, como Visa e Mastercard. No entanto, o jornal pondera que, por razões políticas, a Casa Branca pode endurecer a interpretação e ampliar a pressão contra o sistema bancário brasileiro.

O cenário mais extremo envolveria a restrição de acesso de bancos nacionais a empréstimos em dólar, o que teria impacto direto sobre a economia do país.

Silêncio estratégico

Até o momento, os bancos mantêm discrição. O Santander declarou à BBC News Brasil que segue todas as normas locais e internacionais, sem detalhar a situação. A Febraban afirmou que não recebeu notificações formais, ressaltando que eventuais comunicações do Tesouro americano seriam sigilosas.

O Financial Times conclui que, embora o impasse esteja focado em Moraes, o risco sistêmico é evidente: caso outros ministros do STF sejam alvos de sanções, a crise pode se expandir, gerando instabilidade diplomática e financeira de grandes proporções.

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