Banco digital prenuncia privatização da Caixa, segundo presidente da Fenae
05 janeiro 2021 às 21h13

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“O projeto deste governo e da direção da Caixa é dividir o banco em várias partes (subsidiárias) e vender cada uma delas — uma privatização disfarçada para burlar a Lei, que não permite a venda da empresa-mãe sem aval do Congresso”, disse Sergio Takemoto
Com a criação do banco digital, o presidente da Caixa, Pedro Guimarães, pretende transferir a responsabilidade do pagamento de todos os benefícios sociais operados pela instituição a uma outra instituição financeira, com outro CNPJ.
Além do pagamento de todos os benefícios sociais como o Bolsa Família e o Minha Casa Minha Vida (que será substituído pelo Casa Verde e Amarela), o banco digital vai liberar microcrédito para, no mínimo, 10 milhões de clientes. Também vai fornecer crédito imobiliário para famílias de baixa renda.
O presidente da Federação Nacional das Associações da Caixa Econômica Federal (Fenae), Sergio Takemoto, considera a criação do banco digital mais uma etapa para privatizar a Caixa.
“O projeto deste governo e da direção da Caixa é dividir o banco em várias partes (subsidiárias) e vender cada uma delas – uma privatização disfarçada para burlar a Lei, que não permite a venda da empresa-mãe sem aval do Congresso”, disse Takemoto.
O presidente da Fenae considera ainda que a criação de mais uma subsidiária como o banco digital tem um objetivo mais “ousado e perigoso”.
“O coração da Caixa, a função pública e social do banco será transferida para um outro CNPJ que não é o da Caixa. Qual será o futuro dos programas e benefícios sociais se estiverem nas mãos do mercado privado, que só visa o lucro? As políticas públicas que atendem a população mais carente do País serão garantidas?”, questionou.
“Quem ganha são os investidores”
Para a representante dos empregados no CA/Caixa, Rita Serrano, a medida é grave e coloca em risco a sustentabilidade e integridade do banco. “O banco digital nada mais é do que um outro banco, com outro CNPJ, para onde serão transferidas as principais operações da Caixa. Num outro momento esta nova instituição será privatizada”, alertou.
Com o pagamento do Auxílio Emergencial, a Caixa foi responsável pela inclusão bancária de milhões de brasileiros que não tinham acesso aos bancos. Cerca de 105 milhões de poupanças digitais foram abertas para o pagamento do benefício por meio do aplicativo Caixa TEM — o coração do banco digital.
Todo esse salto de qualidade tecnológica, segundo Serrano, deveria ser usado para fortalecer o banco e impulsionar o seu papel como instituição pública. “Mas o que a direção do banco vai fazer é o contrário – transferir toda esta herança positiva para outra instituição”, explicou.
A representante dos empregados ainda lembrou que o Banco do Brasil e os maiores bancos privados como Bradesco, Itaú e Santander têm plataformas digitais. A diferença é que foram criadas para agregar público, em especial o público jovem, e entrar na concorrência com as fintechs, que tomam grande parte deste público.
“No caso da Caixa é diferente – ela já possui a plataforma digital, que é o Caixa TEM, já conquistou um público grande com a abertura das poupanças sociais digitais e fez a inclusão bancária de milhões de brasileiros que não tinham acesso aos bancos”, disse Serrano.
“Tudo isso já é um patrimônio da Caixa. O que está se falando é criar um outro CNPJ, transferir esse patrimônio já conquistado para outra instituição e, no momento seguinte, fazer a abertura de capital desta instituição, privatizando parte ou todo o banco”, alertou a conselheira. “Quem ganha são os investidores que vão comprar um patrimônio que a Caixa construiu com recursos públicos. Nós temos o dever e o poder de impedir mais esse absurdo contra o patrimônio dos brasileiros”, acrescentou.