Vacinação infantil em alerta: Goiás não atinge metas e pais expõem crianças a doenças evitáveis
16 dezembro 2025 às 10h26

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A vacinação infantil é uma etapa fundamental para o desenvolvimento saudável de todas as crianças. Em Goiás, os dados mais recentes da Secretaria Estadual de Saúde revelam que nenhuma das oito vacinas obrigatórias para crianças de até 5 anos atingiu cobertura total em 2025, embora alguns índices estejam próximos ou acima das metas estabelecidas pelo Ministério da Saúde.
A cobertura vacinal contra a Influenza no Estado de Goiás, em crianças de 6 meses a 5 anos, é de 50,07%. Já a vacinação contra catapora atingiu apenas 56,07%, bem abaixo da meta de 95%. Outro dado preocupante diz respeito à imunização contra febre amarela, cuja cobertura foi de 74,32%, quando o ideal também seria 95%.
Segundo levantamento da Secretaria Estadual de Saúde, apesar de não haver cobertura plena, os índices superam 80% contra doenças como hepatite A e poliomielite. A cobertura é superior a 90% contra pneumonia e hepatite B. Além disso, Goiás superou a meta do Ministério da Saúde na vacinação de crianças contra tuberculose, com índice de 93,67%, acima da exigência mínima de 90%.
Em entrevista ao Jornal Opção, a médica alergista e associada à Associação Brasileira de Alergia e Imunologia (ASBAI), Michelle Machado, explicou que, ao nascer, a criança ainda está em desenvolvimento imunológico. “Toda a imunidade do bebê ao nascer vem da mãe, principalmente no caso dos que nascem no tempo certo. O bebê prematuro é mais complicado. Esse bebezinho nasce praticamente sem nenhuma imunidade”, afirmou.
A médica explica que o papel das vacinas é treinar o sistema imunológico. “Ensinar o nosso sistema imune quem é inimigo e quem não é. Por exemplo, quando a criança se alimenta, o alimento não deve ser um inimigo. Já quando a criança tem uma infecção, o sistema imune precisa entender que aquele microrganismo é um inimigo”, esclarece.
Michelle Machado enfatiza que as vacinas são “ouro” na vida das pessoas, por oferecerem proteção contra desfechos graves. “A vacina faz com que o paciente não morra ou não vá para um desfecho grave, como a UTI, muitas vezes com sequelas. A vacina não impede necessariamente a doença, mas impede que ela evolua de forma grave”, destaca.
Segundo a médica, a falta de vacinação ainda resulta, diariamente, em casos graves de doenças que poderiam ser evitadas. “Isso é muito triste para nós, médicos. Quando sabemos desses casos, ficamos indignados, porque as vacinas não causam os males que são divulgados em fake news”, afirma.
O que precisa ser melhorado em Goiás?
Na avaliação da imunologista, o acesso às vacinas em Goiás é adequado. O estado conta com centros de referência para imunizações especiais, inclusive para crianças alérgicas, com vacinas disponíveis pelo Sistema Único de Saúde (SUS). “Basta o pediatra fazer um relatório e encaminhar. Estamos muito bem servidos de vacinação aqui em Goiás”, completa.
Para Michelle Machado, o principal desafio está na comunicação com a população. “O que talvez precise melhorar são as campanhas. O que o Jornal Opção está fazendo, com uma matéria de utilidade pública, é excelente. Quanto mais falarmos sobre o assunto nas redes sociais, no rádio e na TV, melhor. Precisamos educar a população com uma linguagem simples. Acho que falta isso”, argumenta.

A médica alerta que a falta de esclarecimento e o descuido com a vacinação infantil não prejudicam apenas as famílias. “É um prejuízo para o futuro do Brasil e do mundo inteiro”, afirma.
A vacinação infantil é obrigatória no Brasil, conforme o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). O descumprimento dessa exigência pode resultar em penalidades, como a suspensão de benefícios sociais, a exemplo do Bolsa Família.

No país, o Programa Nacional de Imunizações (PNI), criado em 1973, é considerado um dos mais completos do mundo. Ele oferece gratuitamente vacinas que protegem contra doenças como tuberculose, hepatite B, coqueluche e rubéola. Segundo o Ministério da Saúde, o Brasil conseguiu eliminar a varíola e reduzir drasticamente os casos de poliomielite. No entanto, surtos recentes de sarampo demonstram a necessidade de manter a vacinação constante e vigilante.
As vacinas são fundamentais para prevenir doenças, pois estimulam a produção de anticorpos contra vírus e bactérias causadoras de enfermidades graves. Ao se vacinar, o organismo cria proteção antes mesmo de entrar em contato com essas ameaças.
De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), as vacinas previnem cerca de três milhões de mortes por ano em todo o mundo. Doenças como poliomielite, sarampo, difteria e tétano, que historicamente causaram epidemias devastadoras, estão controladas ou erradicadas em muitas regiões graças à vacinação em massa.
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