No trânsito de Goiânia, os motociclistas que são vítimas fatais representam 57,2% dos óbitos. Já as mortes de ciclistas praticamente dobrou entre 2019 e 2020


O período de isolamento social, devido a pandemia da Covid-19, impulsionou o comércio eletrônico no Brasil, via sites e aplicativos e, consequentemente, fomentou o mercado das entregas, aumentando, dessa forma, a presença de motoboys e cicloboys nas ruas, transformando os serviços de delivery.

O iFood, maior das plataformas do tipo (detém cerca de 75% do mercado nacional segundo pesquisa da consultoria CVA Solutions, 2020), praticamente dobrou o número de restaurantes cadastrados entre outubro de 2019 (116 mil) e agosto de 2020 (236 mil) no país. Dos 4,4 milhões de trabalhadores do setor de transporte no Brasil, 1,4 milhão são entregadores e motoristas de aplicativos, de acordo com um levantamento feito pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea – 2021).

Segundo os dados, no primeiro trimestre de 2016, o número de pessoas ocupadas no transporte de passageiros, como Uber e 99, entre outros, era cerca de 840 mil motoristas. Já o transporte de mercadorias, passou de 30 mil trabalhadores em 2016 para 278 mil no segundo trimestre de 2021, o que representa uma expansão de 979,8% no período. Somados aos demais entregadores de mercadoria, esses trabalhadores formam um total de 700 mil pessoas, segundo dados do último levantamento da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) Covid do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) de 2021.

Para o coordenador técnico do Mova-se Fórum de Mobilidade, Miguel Ângelo Pricinote, é preciso que a legislação de trânsito se aperfeiçoe mediante o aumento das motocicletas e bicicletas nas ruas. “Causas como a exigência de entregas rápidas, desrespeito às leis de trânsito e a necessidade de fazer lucro com o delivery estão provocando sérios efeitos. São motociclistas mutilados e mortos”, comenta Pricinote. Tal situação é refletida pelo número de acidentes com vítimas fatais com motocicletas, que representam 57,2% dos óbitos no trânsito, em Goiânia. Além disso, o número de óbitos de ciclistas quase dobrou entre 2019 para 2020, saindo de 9 para 17 mortos, segundo dados da Secretaria Municipal de Saúde da capital.

Em âmbito nacional, a quantidade de indenizações por morte pagas pelo seguro DPVAT, em 2011, 48% das vítimas eram de acidentes em automóveis e 38% em motocicletas. Porém, em 2020, houve uma inversão: 51,9% das indenizações foram para familiares de motociclistas vítimas de acidentes fatais e 33,52% para famílias de condutores de automóveis vitimados.

No ranking mundial de vítimas de trânsito, o Brasil ocupa o 5º lugar no número de mortes, ficando atrás apenas da Índia, China, Estados Unidos e Rússia. A cada 100 mil habitantes, é contabilizado cerca de 22 mortes e mais de um terço dessas ocorrem por acidentes envolvendo motociclistas, segundo dados publicados pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea, 2021).