Armínio Fraga diz que EUA pegaram pesado com o Brasil e não vê motivo ou onde país quer chegar

12 agosto 2025 às 17h19

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Armínio Fraga, economista e ex-presidente do Banco Central, reconhece que a sobretaxa de 50% anunciada pelos Estados Unidos afetará setores do comércio exterior brasileiro, mas avalia que os fatores que mais limitam o crescimento do país são domésticos: fiscal, juros elevados, segurança e corrupção.
Fraga também afirmou, em entrevista ao GLOBO, que o Pix é um modelo vencedor que dificilmente será objeto de retrocesso. Fraga diz esperar impactos setoriais mais visíveis do que uma queda acentuada do PIB como um todo.
Segundo ele, parte da preocupação vem dos efeitos sobre cadeias produtivas específicas (cafés, carnes, frutas), embora o Brasil mantenha mercados fortes em outras frentes, especialmente a China.
A imposição do adicional de 40% que compõe, na prática, os 50% anunciados foi formalizada pela administração americana nas últimas semanas. O economista destaca que, apesar do choque externo, os principais freios ao crescimento estão dentro do país.
Saúde das contas públicas, custo do dinheiro (juros reais ainda muito altos), baixa produtividade, problemas de segurança e corrupção. Para Fraga, qualquer pacote de socorro às empresas afetadas precisa levar em conta a “situação fiscal frágil” do Brasil, e evitar repetir políticas insustentáveis do passado.
Política e comércio
Fraga considera que a resposta americana foi “pesada” e distinta daquela aplicada a outros países porque incorreu em argumentos ligados ao Judiciário e à política brasileira. Ele classificou como preocupante associar medidas comerciais a pressões políticas e defendeu que eventuais processos sejam tecnicamente bem fundamentados para evitar erros do passado.
Sobre a pressão externa para discutir o Pix, Fraga disse que o sistema brasileiro de pagamentos instantâneos é “um espetáculo” e não vê chance real de retrocesso. “Eles é que têm que se mexer”, afirmou, indicando que a concorrência internacional terá de se adaptar ao modelo brasileiro.
Fraga vê espaço para negociações bilaterais em temas como terras-raras e modelos de exploração mineral, e para desonerar barreiras protecionistas no arcabouço do comércio exterior.
Sobre o pacote de socorro às empresas, ele recomenda cautela, intervenção seletiva e com foco em evitar um agravamento da fragilidade fiscal, sobretudo num momento em que o país ainda arca com juros reais elevados.
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