Aranha da Chapada dos Veadeiros intriga ciência por veneno que pode causar ereção prolongada
13 setembro 2025 às 09h06

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A Phoneutria eickstedtae, conhecida popularmente como aranha armadeira, é uma das espécies mais temidas e curiosas do Brasil e pode ser encontrada nas margens de cachoeiras da Chapada dos Veadeiros. Seu veneno contém a toxina Tx2-6, responsável por provocar priapismo — uma ereção dolorosa que pode durar mais de quatro horas. Embora raro, esse efeito vem chamando a atenção de pesquisadores pelo potencial de uso no desenvolvimento de medicamentos contra disfunção erétil e outras doenças.
Segundo o guia local Mauro de Araújo, a aranha é facilmente avistada tanto de dia quanto à noite, com coloração semelhante às rochas da região, o que dificulta a identificação. Ele ressalta que, apesar da fama, os acidentes são incomuns: “Elas raramente atacam. Quando percebem aproximação de animais maiores ou humanos, se afastam um pouco. Nos passeios que acompanhei, nunca houve acidentes”, explicou ao Metrópoles.
A bióloga Nancy Lo Man Hung, pesquisadora de pós-doutorado no Instituto de Biociências da USP, destaca que a armadeira tem comportamento defensivo característico: ergue as patas dianteiras, faz movimentos laterais e pode até saltar para intimidar. Além da potente ação neurotóxica, cumpre papel ecológico relevante como predadora de insetos e presa para outros animais.
O priapismo, definido como ereção que persiste por mais de quatro horas sem estímulo sexual, ocorre em cerca de 4% dos casos graves de envenenamento pela armadeira. Os sintomas incluem dor intensa, suor excessivo, taquicardia e náuseas. O quadro exige atendimento médico imediato para evitar complicações como necrose ou danos permanentes.
Apesar dos riscos, a toxina que provoca o priapismo vem sendo estudada como base para novos fármacos. Pesquisadores tentam desenvolver moléculas sintéticas capazes de estimular vasodilatação com menos efeitos colaterais, além de investigar aplicações em tratamentos para dor crônica, infecções e doenças neurológicas.
Assim, a armadeira que assusta banhistas da Chapada também se revela peça importante para a ciência. O guia Mauro reforça: “É sempre bom manter cuidados em qualquer trilha e principalmente em regiões que possam conter algum tipo de animal peçonhento. Todo cuidado é pouco”.
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