Após pressão do Centrão, Hugo Motta admite discutir anistia após julgamento do 8 de Janeiro

03 setembro 2025 às 16h31

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A possibilidade de votação de um projeto de anistia aos envolvidos nos atos golpistas de 8 de Janeiro, que poderia beneficiar o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), ganhou força nos bastidores da Câmara dos Deputados. O presidente da Casa, Hugo Motta (Republicanos-PB), que vinha resistindo a pautar o tema, reconheceu nesta terça-feira, 2, o aumento da pressão de líderes partidários para que a proposta seja discutida após o julgamento do Supremo Tribunal Federal (STF) sobre a suposta trama golpista, previsto para encerrar no próximo dia 12.
“Os líderes estão cobrando, estamos avaliando e temos que conversar mais. Aumentou o número de líderes pedindo”, afirmou Motta, após reunião com bancadas. O deputado deixou claro, porém, que não pretende levar o projeto ao plenário nesta semana. Segundo ele, o tema deve voltar à mesa em uma nova reunião de líderes, marcada para os próximos dias.
O movimento a favor da anistia ganhou impulso com a atuação do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), apontado como um dos nomes da oposição para a disputa presidencial de 2026. Ele tem buscado costurar apoio junto ao partido e a Bolsonaro, de quem é aliado.
Na segunda-feira, Tarcísio conversou por telefone com Hugo Motta e também tratou do assunto com Marcos Pereira, presidente do Republicanos. Segundo relatos, o governador ouviu do presidente da Câmara que uma anistia ampla dificilmente seria aprovada, mas que o tema não está descartado.
Em meio às tratativas, Tarcísio chegou a prometer publicamente que, caso eleito presidente, concederia indulto a Bolsonaro como “primeiro ato” de governo. A declaração foi feita após críticas de Eduardo Bolsonaro (PL-SP) e do vereador Carlos Bolsonaro (PL-RJ), que reclamaram da articulação por uma chapa de centro-direita contra Lula enquanto o ex-presidente cumpre prisão domiciliar.
O senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) elogiou a movimentação do governador paulista: “Ele é leal ao Bolsonaro. Espero que possamos nos próximos dias entregar esse projeto de anistia. Ele tem mergulhado de cabeça nisso”, afirmou.
A iniciativa encontrou resistência em setores do Congresso. O líder do PT na Câmara, Lindbergh Farias (RJ), classificou a articulação como um erro: “Existe essa discussão, cresceu o movimento com a presença do governador Tarcísio em Brasília, mas colocar a anistia em pauta após o julgamento é um equívoco”.
No Planalto, a promessa de indulto também gerou reação. O ministro da Casa Civil, Rui Costa, criticou a fala de Tarcísio, que disse não confiar na Justiça: “É lamentável ver um governador que foi empossado pela Justiça dizer que não crê na Justiça. Se não há Justiça, vale tudo. Ele, por exemplo, não seria governador de São Paulo se não houvesse Justiça, até porque quem promulga o resultado da eleição é a Justiça Eleitoral”, disse.
Bolsonaro já foi declarado inelegível pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) por ataques às urnas eletrônicas e agora é alvo do julgamento no STF que investiga a tentativa de golpe para impedir a posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Na Câmara, o texto da anistia ainda não tem formato definido. Líderes avaliam se a proposta poderia alcançar apenas manifestantes presos ou também autoridades acusadas de participação na trama. Bancadas do PP, União Brasil e Republicanos têm pressionado para que a discussão avance, enquanto partidos governistas admitem, nos bastidores, que o tema ganhou força política.
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