Após divulgação de conversas, força-tarefa da Lava Jato diz que não irá “se dobrar à invasão imoral e ilegal”

10 junho 2019 às 08h27

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Polícia Federal apura invasão de telefones de Moro e de procuradores

Neste domingo, 9, o site The Intercept Brasil divulgou o suposto conteúdo de mensagens trocadas pelo então juiz federal Sergio Moro e por integrantes do Ministério Público Federal, como o procurador da República Deltan Dallagnol, coordenador da força-tarefa em Curitiba. As conversas supostamente mostrariam que Moro teria orientado investigações da Lava Jato por meio de mensagens trocadas no aplicativo Telegram.
O The Intercept afirmou que recebeu o material de fonte anônima. De acordo com o site, há conversas escritas e gravadas nas quais Moro sugeriu ao procurador Dallagnol que trocasse a ordem de fases da Lava Jato, cobrou agilidade em novas operações, deu conselhos estratégicos e pistas informais de investigação, antecipou ao menos uma decisão, criticou e sugeriu recursos ao Ministério Público e deu broncas em Dallagnol como se ele fosse um superior hierárquico dos procuradores e da Polícia Federal.
As supostas conversas entre Moro e Dallagnol enviadas pela fonte anônima compreendem um período de dois anos entre 2015 e 2017. Segundo o Intercept Brasil, o conteúdo dos chats totaliza o equivalente a um livro de 1.700 páginas. Juristas ouvidos pelo site disseram que a proximidade entre procuradores e juízes é normal no Brasil – ainda que seja imoral e viole o código de ética dos magistrados.
No entanto, a atuação coordenada entre o juiz e o Ministério Público por fora de audiências e autos fere o princípio de imparcialidade previsto na Constituição e no Código de Ética da Magistratura. Segundo a Intercept, as conversas divulgadas também desmente a narrativa dos atores da Lava Jato de que a operação tratou acusadores e acusados com igualdade. “Moro e Dallagnol sempre foram acusados de operarem juntos na Lava Jato, mas não havia provas explícitas dessa atuação conjunta – até agora”, diz a reportagem assinada por Rafael Moro Martins, Alexandre de Santi e Glenn Greenwald.
Investigação
A Polícia Federal instaurou há cerca de um mês um inquérito para investigar ataques feitos por hackers aos celulares de procuradores da República que atuam nas forças-tarefas da Lava Jato em Curitiba, no Rio e em São Paulo. Há 4 dias, outro inquérito foi aberto para apurar ataques ao celular do ministro da Justiça, Sérgio Moro.
A força-tarefa da Lava Jato em Curitiba afirmou, em nota divulgada na noite deste domingo, 9, que “não sabe exatamente ainda a extensão da invasão”, mas que “possivelmente” foram copiados “documentos e dados sobre estratégias e investigações em andamento e sobre rotinas pessoais e de segurança” dos integrantes do grupo e de suas famílias.
Segundo a nota, os procuradores têm “tranquilidade” de que as mensagens “refletem atividade desenvolvida com pleno respeito à legalidade e de forma técnica e imparcial” e que não irão “se dobrar à invasão imoral e ilegal, à extorsão ou à tentativa de expor e deturpar suas vidas pessoais e profissionais”.
Por meio de nota, Sergio Moro afirmou que, nas mensagens em que é citado, “não se vislumbra qualquer anormalidade ou direcionamento da atuação enquanto magistrado”. O ministro da Justiça disse lamentar “a falta de indicação de fonte de pessoa responsável pela invasão criminosa de celulares de procuradores” e o “sensacionalismo das matérias, que ignoram o gigantesco esquema de corrupção revelado pela Operação Lava Jato”. (Com informações do Jornal Estado de S. Paulo)