“Eu não vou pedir desculpas”, afirma Secretário de Cultura após fala contra vereadora

26 junho 2025 às 12h02

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*Colaboração de João Reynol
O secretário municipal de Cultura de Goiânia, Uugton Batista, negou que ligou na manhã desta quinta-feira, 26, para vereadores da Câmara Municipal para pedir desculpas. A atitude ocorre após forte repercussão negativa causada por uma declaração pública em que ele afirmou que havia até “vereadora imbecil”. Aava Santiago (PSDB) usou a tribuna para se manifestar contra a declaração. Ao ser questionado sobre o tom duro usado, Uugton reiterou que não vai pedir desculpas à vereadora. “Ela foi infeliz na fala e só quer jogar a população contra a gente com vídeos radicais. Eu não vou pedir desculpa. Estou aqui para trabalhar pelo povo”, disse ao Jornal Opção.
Uugton Batista, rebateu duramente as críticas feitas à realização do evento gratuito da Pecuária de Goiânia, especialmente as declarações da vereadora Ava Santiago, que questionou os valores pagos a artistas e a destinação de recursos públicos. Segundo o secretário, a iniciativa teve caráter popular, não teve custo para o município e ainda gerou arrecadação de alimentos e movimentação econômica.
“Já está no requerimento da pauta de hoje exigindo que ele preste esclarecimentos. Se ele não responder vamos fazer um requerimento de convocação. Porque independente das diferenças que ele tenha, precisa respeitar o poder. Nomeado pelo prefeito, ele não tem mandato, ele não está imbuído de um poder como os vereadores estão no Poder Legislativo”, afirmou Aava Santiago em entrevista ao Jornal Opção.
Além da falta de respeito, a vereadora afirmou que o secretário desperdiçou a oportunidade de apresentar ações da pasta. “Todas as evidências apontam que ele só fez essa fala porque se irritou com as cobranças que recebeu na prestação de contas”, continuou Aava Santiago.
Entenda o caso
A fala ofensiva foi feita por Uugton durante uma sessão especial na Câmara no dia 30 de maio. Na ocasião, o secretário afirmou: “Existe muita gente imbecil, inclusive vereador aqui imbecil”. O discurso, que ocorreu durante uma homenagem, não está mais disponível no canal da Câmara no YouTube.
A polêmica voltou à tona nesta quarta-feira, 25, quando a vereadora Aava Santiago (PSDB) mencionou o caso em plenário e apresentou requerimento exigindo explicações formais do secretário. Durante sua fala, ela também cobrou retratação pública e fez duras críticas à gestão da pasta.
“Se o senhor é minúsculo, se o senhor tem o tamanho oposto dos cachês que paga para os seus amigos, aqui tem vereadora grande. E o senhor vai ter que responder: quem é o imbecil?”, questionou Aava, em tom indignado.
Ela também denunciou contratações de shows com cachês acima da média e apontou irregularidades como o pagamento de R$ 60 mil por fogos de artifício proibidos por lei municipal, utilizados no “Grande Arraial de Goiânia”, realizado em junho. A legislação, de autoria do vereador Anselmo Pereira (MDB), proíbe esse tipo de espetáculo em eventos públicos.
Aava ironizou: “Quem é o vereador imbecil? O que acha um absurdo a prefeitura gastar R$ 60 mil com fogos proibidos enquanto falta seringa na UPA? O que fiscaliza shows sem licitação? O que denuncia cachês acima da média para artistas amigos do secretário? Ou são todos os vereadores que aqui estão? O senhor vai ter que responder.”
A reação entre os parlamentares foi imediata. O vereador Coronel Uzêda (PL) cobrou esclarecimentos diretos: “Esse imbecil citado, qualquer um que seja, os 37 podem ser imbecis, ou apenas um, dois, três, eu não sei. Mas todos aqui são fiscais do Executivo. Quero saber quem são os vereadores a quem o secretário se referiu.”
Já Heyler Leão (PP) pediu mais civilidade: “Independente de concordar ou não com o vereador, tem que haver respeito dentro desta Casa. Chamar qualquer parlamentar de imbecil é inaceitável.”
Diante da pressão e das críticas públicas, Uugton Batista teria ligado a diferentes vereadores nos últimos dias para se desculpar pelas declarações. Apesar do gesto individual, o secretário ainda não fez uma retratação pública ou formal à Câmara.
O que diz o Secretário de Cultura
“Foi um evento gratuito, articulado pela Secretaria de Cultura junto com o prefeito Mabel, com apoio da SGPA e de deputados, sem nenhum centavo saindo dos cofres da prefeitura”, afirmou Uugton. Ele explicou que os valores para a contratação dos artistas foram viabilizados por meio de emendas parlamentares e recursos do setor privado.
A crítica de uma jovem nas redes sociais, viralizada em vídeo, também foi alvo da indignação do secretário. “Aquela menina fez um vídeo imbecil, dizendo que o prefeito não faz evento gratuito. Foi um ataque contra a população mais carente”, disse.
A polêmica ganhou força após declarações da vereadora Ava Santiago, que sugeriu favorecimento na contratação de artistas como Amado Batista, alegando vínculo pessoal com o secretário. Uugton refutou a acusação com firmeza. “Não fui eu quem contratou. A SGPA é quem faz as negociações com os artistas. A Secretaria de Cultura apenas formaliza com documentos. Essa acusação é leviana, como se eu tivesse recebido algo por trás”, criticou.
Segundo o secretário, artistas famosos como Amado Batista e Wesley Safadão são contratados com antecedência de até um ano, e os valores variam conforme o dia da apresentação. “O Wesley Safadão, por exemplo, tem shows de até R$ 1,5 milhão. No nosso caso, foi contratado por R$ 1 milhão e 50 mil. E mesmo assim, não foi pago pela prefeitura, e sim com recursos externos”, reforçou.
Uugton destacou que o evento gerou benefícios sociais e econômicos expressivos. “Foram arrecadadas 50 toneladas de alimentos, houve geração de emprego cultural, turismo interno e externo. Goiânia foi vendida para o Brasil e para o mundo. Como criticar um evento desses?”, questionou.
O secretário também comentou sobre a prestação de contas. “Tudo foi devidamente prestado ao TCM e ao Ministério Público. Transparência total. Quem quiser pode checar”, afirmou. Sobre a crítica de que estaria desviando recursos de áreas como saúde, ele respondeu: “Existe verba para cultura, educação e saúde. Eu soube buscar recursos da cultura para devolver ao povo em forma de espetáculo gratuito”.
Por fim, ao ser questionado sobre o tom duro usado em fala na tribuna, Uugton reiterou que não vai pedir desculpas à vereadora. “Ela foi infeliz na fala e só quer jogar a população contra a gente com vídeos radicais. Eu não vou pedir desculpa. Estou aqui para trabalhar pelo povo”, concluiu.
A Secretaria de Cultura de Goiânia promete divulgar, nos próximos dias, um balanço oficial das ações realizadas em 2024, com destaque para os eventos gratuitos, número de empregos gerados no setor cultural e parcerias firmadas com o setor privado e parlamentares.