Após 128 anos, ABL elege primeira mulher negra: Ana Maria Gonçalves

10 julho 2025 às 18h23

COMPARTILHAR
A escritora Ana Maria Gonçalves foi eleita, nesta quinta-feira, 10, para a cadeira 33 da Academia Brasileira de Letras (ABL), tornando-se a primeira mulher negra a integrar a instituição em seus 128 anos de existência. A autora mineira de 54 anos, conhecida pelo romance histórico Um Defeito de Cor, recebeu 30 votos dos imortais.
A vaga era ocupada pelo linguista Evanildo Bechara, falecido em maio. Gonçalves derrotou 12 outros candidatos, entre eles a escritora indígena Eliane Potiguara, que recebeu apenas um voto.
Publicado em 2006, Um Defeito de Cor se tornou um marco da literatura negra brasileira ao narrar a trajetória de Kehinde, uma mulher africana escravizada no Brasil, em uma obra de fôlego com mais de 900 páginas. Inspirado em figuras como Luiza Mahin, o romance vendeu 180 mil exemplares e inspirou exposições e até um enredo da escola de samba Portela.
A eleição representa uma mudança simbólica e histórica na ABL, marcada por uma tradição elitista e predominantemente masculina e branca. Até hoje, apenas 13 mulheres — incluindo Gonçalves — ocuparam cadeiras na Casa de Machado de Assis.
A escolha da autora ocorre sete anos após a candidatura frustrada da também escritora negra Conceição Evaristo, que teve apenas um voto em 2018. A recusa gerou ampla mobilização e críticas à falta de representatividade na ABL.
Com Gonçalves e o indígena Ailton Krenak, eleito em 2024, a ABL dá sinais de abertura a vozes que historicamente estiveram à margem do cânone. Ainda assim, pesquisadores alertam que é cedo para afirmar uma transformação estrutural.
“É um passo importante, mas é preciso observar se esses nomes serão símbolos isolados ou o início de uma mudança real”, afirmou a crítica literária Fernanda Miranda.
A eleição de Ana Maria Gonçalves é considerada um gesto de reconhecimento de sua relevância na literatura contemporânea, mas também um teste de coerência para uma instituição que, até recentemente, resistia à diversidade em sua composição.
Leia também: Míriam Leitão é eleita imortal da Academia Brasileira de Letras
Jales Mendonça é o mais novo imortal da Academia Goiana de Letras