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O dentista e a técnica de enfermagem, presos após a morte de uma jovem durante uma tentativa de aborto clandestino, assumiram o risco de matar Gabriela Patrícia de Jesus, de 20 anos, porque ministraram o remédio de forma não usual, segundo o delegado Matheus Costa Melo. Eles diluíram comprimidos de ocitocina em soro e aplicaram na veia dela, mesmo que o medicamento não seja propriamente abortivo e seja usado por via oral. A investigação aponta que utilizaram de nove a 21 comprimidos durante o procedimento, realizado em um quarto de motel, em Ceres.

A polícia considerou que o casal, pelas formações e atuações na área da saúde, tinha conhecimento para não aplicar medicamento de forma indevida ou fazer um procedimento de risco em um lugar sem estrutura. Por isso, os dois assumiram o risco de matar, segundo o delegado. “Eles têm conhecimento […] Não existe isso de diluir um comprimido de ocitocina e aplicar na veia. É como se fosse um ácido passando e arrebentando o corpo inteiro. Por isso causou tanta hemorragia e levou a morte”, disse o delegado.

Segundo o delegado, médicos e enfermeiros ouvidos durante a investigação ficaram surpresos com a aplicação: “ninguém nunca tinha ouvido falar […] Foi comprovado que a técnica em enfermagem tentou ministrar o remédio em um dos braços, a veia entupiu, passou para o outro braço e concluiu o procedimento”. O remédio que eles usaram não é abortivo, mas pode causar aborto em determinadas circunstâncias. O delegado explicou que eles fizeram essa associação após pesquisas na internet e porque caíram em um golpe tentando comprar medicamento abortivo ilegal e esta foi a segunda opção.  

Os dois vão responder por aborto consentido e homicídio qualificado pelo dolo eventual. O inquérito foi concluído na última sexta-feira, 8.

Ela começou a convulsionar cerca de 15 minutos depois da aplicação, ainda no motel, e foi levada no carro dos suspeitos a uma Unidade de Pronto Atendimento (UPA) já em parada cardiorrespiratória e com sangramento constante. Os envolvidos encomendaram 30 comprimidos de ocitocina e foram apreendidos 18 fragmentos de cápsula no motel e na UPA, ou seja, pelo menos nove comprimidos foram diluídos. Nove restaram dentro do frasco. Então, eles administraram de 9 a 21 comprimidos na vítima. A dosagem exata será apontada em laudo.

Crime

Eles namoram e a gravidez de Gabriela foi resultado de uma relação anterior. Ela estava grávida há aproximadamente dois meses. O aborto com consensual, segundo o delegado, o que ficou comprovado pelas conversas nos celulares dos envolvidos. “O aborto não admite consentimento, mesmo consentido, eles podem ser responsabilizados. Então, apesar da vítima ter consentido, isso ficou evidenciado tanto nas imagens de câmeras de segurança quanto na extração de dados dos telefones, mas assumiram o risco de provocar o resultado morte”, explicou o delegado.

Suspeitos buscando a vítima na academia | Vídeo: Divulgação/ PC

O aborto aconteceu na sexta-feira, 1. No dia do crime que foi feito, os dois suspeitos, que ainda estão presos, buscaram a vítima na porta da academia e a levaram direto para o motel. Segundo o delegado, todos os três pesquisaram sobre o procedimento na internet, mas ‘o cabeça’ da situação foi o dentista. Quem ministrou o medicamento na veia foi a técnica de enfermagem. O dentista chegou a tirar uma foto do momento em que a vítima recebeu o medicamento – veja acima.

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