Aos 77 anos, taxista fará Enem para cursar Psicologia e ajudar esposa com depressão
08 novembro 2025 às 16h42

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Um taxista de 77 anos se formou no Ensino Médio e irá prestar o Enem para tentar cursar Psicologia. O objetivo de Elifas Levi Rodrigues é aprender a cuidar da esposa, que há mais de 20 anos luta contra a depressão.
Quem tem ajudado ele na preparação para o exame é a neta Laura Rodrigues de Oliveira, de 17 anos, que também realizará a prova. Ele conta que, assim como muitos da sua geração, não teve a oportunidade de concluir o estudo enquanto adolescente. Ele terminou o antigo colegial – referente aos anos finais do ensino fundamental de hoje – e fez um curso técnico em mecânico industrial para começar a trabalhar.
Nessa época, ele morava em Lages, em Santa Catarina, onde conheceu a esposa Talma. Juntos há 55 anos, eles tiveram três filhos. Como mecânico industrial, foi aprovado em concurso da Petrobrás, em Curitiba, onde se aposentou aos 46 anos. Inquieto, ele conta que aguentou passar apenas dois dias sem trabalhar. No terceiro, já estava dirigindo um táxi, profissão que atua há 31 anos.
Ele afirma que sempre teve o sonho de cursar uma faculdade e, por isso, no ano passado, ele se matriculou para cursar ensino médio em uma turma de Educação de Jovens e Adultos (EJA). Em um ano e meio conseguiu concluir as três séries da etapa. Tudo isso sem deixar de trabalhar no táxi
“Eu trabalho das 6h às 17h com o táxi e estudava no período da noite. Foi deslumbrante voltar a estudar. Eu sempre gostei de ler e coloco audiobooks para escutar enquanto trabalho, mas sentar em uma carteira, com um professor ensinando foi muito mais satisfatório”, contou o estudante à Folha.
A formatura foi em junho deste ano. E ele foi homenageado como aluno destaque pelo bom desempenho que teve na turma. Os professores ajudaram na preparação do exame, mas, neste segundo semestre, esse cargo ficou com a neta.
Devido aos anos que atuou como mecânico, Elifas tem uma facilidade com ciências exatas. A neta conta ainda que ele gosta muito da área de humanas, mas que sente dificuldade em inglês. “Meu avô é craque em matemática e história, adora ler. Eu estou até preocupada e cheguei a pedir pra ele pegar leve comigo e não tirar uma nota mais alta que a minha no Enem”, brincou Laura.
O idoso afirma que não quer deixar de trabalhar como taxista e, por isso, precisa conseguir ser aprovado em um curso noturno. De acordo com o Inep, órgão do Ministério da Educação que faz a aplicação do Enem, das mais de 4,8 milhões de inscrições confirmadas, cerca de 17 mil são de pessoas com mais de 60 anos.
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