Na pediatria do Cais de Campinas, espera é de mais de 6 horas

29 abril 2019 às 18h10

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Situação do local é a mesma desde que a Secretária Municipal de Saúde anunciou descentralização da unidade. Empresas de planos de saúde se aproveitam da situação

A realidade da pediatria goianiense aparenta estar longe de ter seus problemas crônicos amenizados. Quem chega ao Cais de Campinas na tarde desta segunda-feira, 29, se depara com uma situação caótica. Pessoas à espera de atendimento pediátrico aguardam por mais de seis horas.
O registro contrasta com o anúncio da Prefeitura de Goiânia feito há 25 dias, quando prometeu desafogar o atendimento de urgência do Cais de Campinas a partir da descentralização da urgência pediátrica, que só acontecia no local.
Entre as medidas para solucionar as constantes reclamações, a Secretária Municipal de Saúde (SMS) lançou um edital de contratação de profissionais, que atenderiam em outras unidades, entretanto até a semana passada, dos 50 profissionais previstos, apenas 12 haviam demonstrado interesse em atuar pelo município.
Mais do mesmo
Na chegada da reportagem ao centro de Atendimento Pediátrico, pais e mães aguardavam até na parte de fora da sala de espera. Às 15h30 havia um número desproporcional entre demanda e profissionais. Na fila de espera 47 crianças para apenas dois pediatras nos consultórios.
Caroline Vaz conta que chegou ao Cais às 10h da manhã a procura de atendimento para a filha. Após passar pela triagem, a criança foi classificada como caso de pouca urgência e aguardava avaliação do médico até as 15h30, sem previsão de ser chamada.
A mãe relata que a menina estava com estado avançado de dores e ferimentos na boca, resultado de inflamações após uma alergia. Mesmo com as queixas de alto grau de incômodo, a equipe da triagem entendeu que se tratava de um caso de pouca urgência.
Outro usuário à espera de atendimento para a filha, Alan Castro define o a situação como precária. Ele relata que chegou ao Cais ainda pela manhã. “Sofrimento total”, desabafa Alan.

Novas contratações
Há quase 30 dias, a SMS anunciou um edital para novos pediatras na rede municipal em atendimento de urgência. O texto previa assinatura imediata de contratos dos médicos que fizessem a inscrição. Entretanto, conforme divulgado pela própria Secretaria, das 50 vagas previstas, apenas 12 profissionais procuraram o município para assinar o contrato.
Dos 12 novos profissionais, o Cais de Campinas recebeu seis, conforme confirmado pela diretoria da unidade. Entretanto o número está distante do ideal. Para o atendimento desta segunda-feira, 29, por exemplo, o ideal era que tivessem cinco e não dois profissionais, destaca a direção.
Funcionárias, que não quiseram se identificar, disseram que os contratos assinados pela Prefeitura com pediatras, por meio de edital, não serão suficientes para suprir o déficit na unidade.
Outro ponto destacado pelas servidoras gira em torno da falta de divulgação dos novos pontos de atendimento. Usuários que estariam já acostumados a procurar apenas o Cais de Campinas, ainda desconhecem a presença de pediatras em outras unidades.
Categoria se diz insegura
A esperança se reduz quando se pensa em expectativa de fidelização desses médicos. No hospital os relatos são de que os pediatras não ficam por muito tempo devido à falta de segurança do estabelecimento. Uma chegou a mencionar que a ida de vereadores à unidade no sábado intimidou os médicos, que se sentiram coagidos.
Isso, portanto, estaria não só causando desistências como inibindo novos contratos, embora a expectativa da prefeitura seja a chegada de 50 novos pediatras.
Ao Jornal Opção, o presidente do Conselho Regional de Medicina do Estado de Goias (Cremego), Leonardo Reis, criticou o edital. Segundo Leonardo, detalhes como a insegurança gerada por um chamamento específico para pessoa jurídica e o tempo estabelecido em um ano de trabalho não são suficientes para tornar as vagas atrativas.
Empresas de planos de saúde se aproveitam
Além disso, a presença de empresas de planos saúde na porta da rede de urgência municipal vem se tornando insistente. Nesta segunda-feira, 29, ao longo de todo o dia, uma empresa do seguimento anunciava com um banner os serviços oferecidos.

A empresa é a mesma registrada no Cais Vila Nova há cerca de um mês. Na época o Jornal Opção registrou a atuação na porta da unidade, o que não teria sido autorizado nem pela direção do hospital nem pela SMS. No Cais de Campinas, a direção disse que também não havia autorizado a comercialização ali.
Na época o gerente da regional Goiânia do Cartão de TODOS, Ubirani Guimarães De Pinho, afirmou à reportagem que “ao tomar conhecimento do estande no Cais da Vila Nova, prontamente providenciou a retirada do local” e concluiu prometendo que casos semelhantes não aconteceria.
Procurada pela reportagem nesta segunda, a empresa alegou, novamente, que desconhecia a comercialização na porta de unidades públicas. Segundo Ubirani, a prática não faz parte da política de vendas da empresa. O gerente afirmou que irá buscar junto à regional Goiânia a solução para o que ele mesmo classifica como uma falha.