Um novo movimento crescente ganha espaço em Goiânia, oferecendo alívio e qualidade de vida a cães, gatos e até espécies exóticas através de agulhas, óleos, gases e extratos vegetais. Técnicas como acupuntura, tratamento com cannabis medicinal, ozonioterapia e o uso do viscum-album representam uma medicina integrativa que busca tratar o animal priorizando o bem-estar global.

O médico veterinário Gustavo Pregnolatto Antolini, especialista há 13 anos nestas práticas alternativas, personifica essa transição. Da frustração com a rotina clínica tradicional ao encantamento por uma visão médica diferente, sua trajetória revela um novo olhar sobre o cuidado com os animais.

A busca por alternativas nasceu do cansaço. “Eu comecei na área como veterinário geral, tinha um pet shop, e o tutor ia levar o cachorro pra tomar banho e queria que a gente sempre desse uma olhada e não cobrasse consulta”, recorda Gustavo ao Jornal Opção. A pressão da expectativa de um serviço gratuito, vista como uma obrigação franciscana, o levou às portas de abandonar a profissão.

A salvação veio com a especialização. “Eu me encantei pela área da acupuntura, por ser uma área realmente diferente, e uma visão de medicina diferente, fugindo dessa questão de remédio, remédio, remédio”, explica. O foco em proporcionar conforto “sem precisar intoxicar, entre aspas, né, o bicho” tornou-se a base de sua nova prática.

O despertar para o potencial da cannabis medicinal, no entanto, veio de uma dor íntima: o câncer de sua própria cadela. “Nada resolvia”, relata, sobre a ineficácia da quimioterapia. Movido pelo desejo de oferecer uma chance à sua companheira, mergulhou em artigos científicos e cursos. “Aí eu vi vários artigos sobre o cannabis no benefício para tratamento oncológico. Aí eu decidi fazer o curso”.

Essa jornada pessoal o equipou para prescrever o óleo, um processo que ele descreve como “muito tranquilo”, uma vez que atua apenas como prescritor, conectando os tutores a associações legalizadas que fornecem a medicação.

Agulha que acalma e cura

No consultório de Gustavo, localizado na clínica veterinária e petshop Cãopanheiros, na Avenida T-8, em Goiânia, as agulhas de acupuntura não se limitam a cães e gatos. Coelhos, hamsters e até um ouriço pigmeu africano já passaram pela sua mesa. “A gente está habilitado para atender todas as espécies animais”, afirma.

Embora para ele, a maioria (cerca de 80%) dos casos seja ortopédica, incluindo lesões de coluna, artrites, artroses, displasias e cortes femorais, a técnica também alcança bons resultados em problemas neurológicos, sequelas de cinomose e até distúrbios comportamentais como estresse e ansiedade.

O sucesso do tratamento, contudo, depende da construção de um vínculo. O veterinário descreve um ritual de paciência e cuidado na primeira sessão, onde o animal aprende que não será machucado. “As demais sessões são super tranquilas, porque o animal já sabe o que esperar, e ele o benefício que traz”, diz.

“Os meus pacientes, eles gostam de fazer acupuntura, eles não gostam do agulhamento, mas eles gostam de acupuntura porque eles se sentem bem após”. A aplicação, garante, é “praticamente indolor”, sendo mais um susto do que dor propriamente dita. Pontos inflamados podem causar desconforto, mas a estratégia é evitá-los para manter o animal sereno.

Entre seus “clientes” mais frequentes estão os cães de grande porte, como rottweilers, pastores alemães, goldens retrievers e labradores, propensos a problemas no quadril. Na coluna, os campeões são o buldogue francês e o teckel (salsicha). “O teckel por ser mais compridinho tem uma sobrecarga maior na região da coluna, o buldogue francês já é diferente, por ser um animal mais compacto, ele costuma nascer com muitos problemas de coluna já”, detalha.

A recuperação, no entanto, não obedece a hierarquias de espécie. “Quando você faz a técnica correta e o animal tem a condição energética de fazer a recuperação, isso acontece”.

As múltiplas aplicações do cannabis

O tratamento com óleo de cannabis é marcado pela personalização. Diferente de um comprimido alopático, cuja dose é calculada por peso, o cannabis exige um ajuste fino. “Cada cachorrinho, cada animal, ele tem uma dose específica para si mesmo”, explica Gustavo. Um cão de 5 quilos pode reagir a 3 gotas, enquanto outro do mesmo peso pode precisar de 5. “É o sistema imunológico dele que vai determinar a quantidade”.

Sua principal aplicação, impulsionada pela história de sua cadela, é na oncologia, quase sempre em parceria com o viscum-album. Mas seus benefícios se estendem para a analgesia em dores crônicas ortopédicas e, de forma notável, no controle de mioclonias (tremores musculares) em animais com sequelas de cinomose. “A cannabis ajuda a reduzir essas mioclonias e a mioclonia acaba dando dor muscular porque o animal fica o tempo inteiro contraindo a musculatura, acaba tendo dor muscular, mas a cannabis ajuda a reduzir essa condição”.

Há, porém, restrições que demandam cautela. A principal delas envolve animais com problemas hepáticos, já que o cannabis é metabolizado no fígado. “Pode provocar, às vezes, uma degradação maior do fígado”, pondera. Outro fator de atenção é a parte cardíaca, especialmente em pacientes com hipotensão arterial, que exigem acompanhamento cardiológico rigoroso. Gustavo enfatiza que a decisão é sempre tomada na balança, pesando prós e contras em conversas detalhadas com o tutor.

O ozônio que cura 

A ozonioterapia é uma ferramenta versátil no arsenal de Gustavo, sem restrições de faixa etária. Sua aplicação é tripla: combate a dor ortopédica (como um potente anti-inflamatório e analgésico), auxilia na cicatrização de lesões cutâneas rebeldes e fortalece a imunidade, sendo usada inclusive para ajudar no combate ao vírus ativo da cinomose.

O sucesso é palpável. “Já tive vários pacientes que estavam ruim, em que a gente entrou com o ozonioterapia, o animal deu uma recuperação muito grande, e acabou se recuperando”, relata.

No entanto, o tratamento esbarra em uma barreira peculiar: o preconceito dos tutores. “O tratamento de ozonioterapia às vezes para o tutor não é muito legal visualmente falando porque a gente faz a aplicação retal no animal”, revela. “Tem muito preconceito, né, de você introduzir o gás, o ozônio, no ânus animal”. A contraindicação formal resume-se a animais com anemia hemolítica imunomediada.

A planta Viscum-Album

Direcionado quase que exclusivamente para a oncologia, o viscum-album (uma fitoterapia injetável) é usado como coadjuvante na quimioterapia, na redução de tumores e na prevenção de recidivas pós-cirurgia. A aplicação é subcutânea e feita pelo próprio tutor em casa, seguindo um protocolo que varia para cada paciente.

Os efeitos colaterais são raros. “Eu, particularmente, nunca observei um efeito colateral muito significativo. Alguns animais podem apresentar um pouco de amolecimento das fezes. Mas nada além disso”, afirma Gustavo. O grande trunfo do tratamento, no entanto, não é necessariamente a cura, mas a qualidade de vida conquistada.

“O paciente oncológico é na maioria das vezes um paciente que está no final de vida, né? Esse tratamento com viscum-album é para dar qualidade de vida para o animal”. Ele testemunhou casos em que a expectativa de vida de 2 ou 3 meses se transformou em um ano ou mais de convivência digna e com menos sofrimento.

Os desafios do pioneirismo

A clientela de Gustavo é majoritariamente formada por animais idosos, “os meus velhinhos”, acima de 7 ou 8 anos, que buscam alívio para as mazelas da idade. Mas seu maior desafio não está na idade dos pacientes, e sim na descrença de tutores e colegas. “Às pessoas acreditarem e confiarem que o tratamento alternativo realmente funciona”, ele define. 

“Muita gente não acredita, né, que com uma agulha vai resolver o problema do animal… Não só os tutores, mas colegas veterinários também, tem muito corpo veterinário que não acredita”.

Apesar do ceticismo, o movimento em Goiânia é de crescimento. “De quando eu comecei pra hoje, a evolução de pensamento, até dos tutores, de alguns colegas, é uma melhora grande”, observa. “Tem bastante procura, bastante conscientização da evolução que ele não pode ter com o tratamento”.

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