Academia Goiana de Letras comemora 90 anos de Miguel Jorge com Ano Cultural

30 janeiro 2023 às 10h39

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Miguel Jorge fará 90 anos no dia 16 de maio de 1933 (nasceu em Mato Grosso, mas é adotou Goiás e foi adotado pelos goianos). Dada a vitalidade do escritor, sempre produtivo e discutindo coisas novas, é difícil acreditar que a idade cronológica seja a verdadeira idade do romancista, contista, poeta, crítico e dramaturgo.
Na verdade, Miguel Jorge é jovem, e permanecerá sempre assim. Graças à diversidade de seus interesses culturais, à vontade de criar arte — e de criar sempre com qualidade e inserção social —, o autor de “Veias e Vinhos” e “Avarmas” se mantém ativo e reverberante.

“Avarmas” é um dos livros mais inventivos da literatura brasileira e certamente merece, aqui e ali, alguma comparação com a prosa de Osman Lins. Pode ser lido também como um par da prosa de Graciliano Ramos e Guimarães Rosa. O que falta a “Avarmas” não é qualidade, que é imensa — e sim fortuna crítica para consolidá-lo em termos nacionais.
“Veias e Vinhos”, seu romance mais famoso — cria-se literatura a partir de um fato real, e a imaginação poderosa do escritor tornou a questão mais bem compreendida (o que não quer dizer resolvida, pois esta não é, a rigor, a função da literatura —, foi levada ao cinema por João Batista de Andrade. O roteiro é do cineasta e de Miguel Jorge. O livro é estupendo.

Nada prisioneiro do tempo, do passado (nunca vi alguém menos nostálgico, daí sua imensa capacidade de renovação), Miguel Jorge sempre surpreende os leitores. De repente, aparece com “Nos Ombros do Cão”, um romance bem urdido sobre a ditadura, e com peças de teatro e literatura infantil (inclusive poesia). A impressão que tenho de Miguel Jorge é que está sempre em movimento. Ele não para.
Como Mário de Andrade, Miguel Jorge — que deveria ser Miguéis, no plural — é 300 ou 350. Quer dizer, ao mesmo tempo que faz sua literatura, arranja tempo para discutir a de seus pares. Ele também é crítico literário e de artes plásticas (vários artistas devem muito a consolidação de seus nomes à pena de Miguel Jorge, que, durante anos, em “O Popular”, publicou artigos sobre seus quadros).

Décadas atrás, Miguel Jorge participou do Grupo de Escritores Novos, ao lado de, entre outros, Yêda Schmaltz, Heleno Godoy. O GEN é uma espécie da radicalização do modernismo em Goiás.
No início da década de 1990, quando resolvi criar o Opção Cultural, convidei Miguel Jorge para editá-lo. Como editor era organizado, mantinha excelentes contatos (o jornal, por causa do Cultural, chegou a ganhar prêmio da Academia Brasileira de Letras pela qualidade dos textos) e publicou no suplemento uma variedade extraordinária de temas e autores. O escritor é um agregador de primeira linha.
Então, saudar os 90 anos de Miguel Jorge é, acima de tudo, saudar um criador que fez (e faz) muito para a cultura de Goiás e, portanto, do Brasil. Ele é incansável. E é um cidadão do bem e de bem. E, sim, é um gentleman.
A abertura do Ano Cultural Acadêmico Miguel Jorge, promoção da Academia Goiana de Letras (que deveria conectar o fato à Academia Brasileira de Letras), será na quinta-feira, 2, às 17 horas (na sede da AGL, na Rua 20, nº 175, Setor Central). A escritora Maria Helena Chein fará a saudação ao homenageado. O presidente da AGL, Bira Galli, é um dos organizados do Ano Cultural Miguel Jorge.