“Duas das mais importantes organizações de direitos humanos sediadas em Israel — o B’Tselem, que monitora os efeitos das políticas israelenses sobre os palestinos, e a Physicians for Human Rights (PHR, Médicos pelos Direitos Humanos, em tradução livre) — afirmaram nesta segunda-feira que Israel está cometendo genocídio contra os palestinos em Gaza e que os aliados ocidentais do país têm o dever legal e moral de impedi-lo.” — “O Globo”

Na última semana, um acordo de paz foi finalmente selado entre o governo de Israel e o Hamas, partido que controla a Faixa de Gaza. Entre os pontos da negociação estava o retorno dos reféns feitos pelo Hamas a Israel. Na segunda-feira, 13, essa parte do acordo foi cumprida. Além disso, Israel libertou mais de 2 mil prisioneiros palestinos que estavam em cárceres israelenses, muitos deles sem acusação formal ou julgamento.

A paz, mesmo que temporária, representa um alívio após dois anos de massacre — especialistas em política nacional mencionam “genocídio” — na Faixa de Gaza, que se tornou ainda mais inóspita para se viver. Hoje, de Rafah à Cidade de Gaza, tudo está destruído e precisará ser reconstruído — tanto que a reconstrução consta no próprio acordo de paz. Dois anos de bombardeios deixaram mais de 65 mil palestinos mortos. E muitos feridos — com escassa assistência médica — e sem casas para morar.

Mesmo diante da barbárie dos ataques de 7 de outubro de 2023, a resposta israelense foi claramente desproporcional. O massacre, financiado em parte com recursos financeiros e bélicos dos Estados Unidos, pode manchar, talvez para sempre, a imagem de um povo (que, na década de 1940, sofreu sob a política genocida de Hitler). Quando se mata crianças e mulheres sob a justificativa de que seriam “escudos humanos” — o que nem sempre é verdadeiro — se tenta legitimar o injustificável.

Durante esses dois anos, o mundo testemunhou, de forma televisionada e em tempo real, um dos maiores horrores já cometidos contra seres humanos. A fome provocada, os bombardeios e os milhares de mortos não podem ser esquecidos. A ONU tem denunciado isto com frequência, assim como parte da imprensa americana.

O acordo de paz, ainda que provisório, é um alívio para que o povo palestino possa retornar às suas casas e, quem sabe, reconstruir sua terra e suas vidas. Talvez um dia o cenário de destruição que assola a região chegue ao fim. Mas é necessário também se perguntar: até quando essa paz vai durar? O projeto israelense parece não ser o de acabar com o Hamas, e sim o de anexar mais territórios palestinos até que a Palestina deixe de existir. Sob pressão dos Estados Unidos, recuará?

Desde 1948, quando o Estado de Israel foi fundado, seu território vem sendo ampliado ao custo dos palestinos. Hoje, Israel constrói assentamentos ilegais segundo o direito internacional, com o objetivo de ocupar mais terras. Esses colonos, muitas vezes, são responsáveis por agressões e mortes de palestinos — e raramente são punidos por isso.

Os ataques de Israel não se concentram apenas em Gaza, mas também na Cisjordânia, que sequer é governada pelo Hamas. Essa situação, que parece não ter fim, deve reabrir o debate sobre o sionismo — ideologia que orienta o governo israelense. É possível que judeus, muçulmanos e cristãos convivam em uma sociedade conjunta; o sionismo, contudo, torna isso inviável.

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