As cinco canções brasileiras que mudaram os rumos da história da música nacional na visão do historiador Nars Chaul estão intrinsicamente ligadas às conjunturas da história política, econômica e cultural do Brasil.

Da derrubada da Velha República ao período da ditadura militar brasileira, a música ajudou as massas a refletir e sentir os momentos históricos com uma visão crítica característica do povo brasileiro.

1 – Bachianas Brasileiras – Villa Lobos

Para o historiador e membro da Academia Brasileira de Letras, Nars Chaul, as composições clássicas de Heitor Villa Lobos estão representadas na lista das canções que mudaram a história da música brasileira por Bachianas Brasileiras. A música faz parte de uma série de nove composições escritas entre os anos 30 e 45. “Villa Lobos é genial, Villas Lobos e as Bachianas fazem parte das obras fundamentais da obra brasileira de música”, diz.

Sobre a mistura cultural, Chaul diz que o carioca reúne elementos do sertão, indígenas e negros na composição e “é uma praça onde se passam várias avenidas como Tom Jobim, Chico Buarque, Caetano Veloso e por onde se passam outras transversais onde se passam outros autores”.

Com a derrubada das oligarquias da velha República e a instalação do governo de Getúlio Vargas, Lobos alinhou-se aos objetivos culturais do nascente presidente da República na construção de uma chamada consciência nacional através da ligação de elementos culturais brasileiros à tradição musical europeia.

2 – Águas de março – Tom Jobim

Composta por Tom Jobim, “Águas de Março” mostra a relação do compositor com a ecologia e narrada por Chico Buarque. Tom e a fauna brasileira, especialmente a Mata Atlântica, se mostram saltantes aos ouvidos no dueto com Elis Regina em 1974 gravado em Los Angeles durante as gravações do LP “Elis e Tom”. Águas de Março também está na lista do economista Everaldo Leite, aliás, na primeira colocação.

3 – Construção – Chico Buarque

Chico Buarque canta sobre a morte de um qualquer, que até no fim da vida atrapalha a vida alheia na cidade. Músico, dramaturgo e escritor brasileiro, Buarque cria três atos que escalam até o arrepio. Foi considerada pela crítica em 1971 como um dos seus melhores trabalhados.

A década de 1970 no Brasil foi marcada por um dos períodos mais sombrios da história política nacional: a consolidação do regime militar instaurado com o golpe de 1964. Na chamada década de chumbo e censura, o governo militar reprimiu opositores políticos, em especial as esquerdas, torturou sistemática em centros clandestinos os socialistas e comunistas, além de suprimir liberdades civis básicas e políticas.

4 – O ciúme – Caetano Veloso

Uma das obras-primas do compositor baiano, “O Ciúme” foi lançada em 1987 no álbum “Caetano Veloso”. A canção é marcada por sua poesia e musicalidade repetitiva, além de um lirismo que transforma um corrosivo sentimento em expressão estética.

5 – Oriente – Gilberto Gil

É um grande enigma, sutil e lírico. “Oriente” foi lançada no álbum Refavela, em 1977, e se destacada como uma meditação sobre espiritualidade, transformação e filosofia oriental, pauta recorrente na obra de Gil a partir dos anos 70. A canção é recheada de linguagem permeadas por metáforas.

Se oriente rapaz, pela constelação do cruzeiro do Sul

Foi lançada por Gilberto Gil logo após o regresso do exílio em Londres e é a última faixa do disco. A pesquisadora Sheyla Castro Diniz diz que a letra é “autorreflexiva” e capta o clima contra cul­tural vivenciado por Gil na Europa, embora também insinue o esgotamento daquela experiência. “Versos, ritmo, harmonia e melodia reforçam a dualidade presente no título da canção. Os contrários, ainda que complementares, não desembocam numa síntese. Instável, “Oriente” focaliza o “indivíduo” e incorpora, na sua própria estrutura musical e poética, cer­to estado de anomia alavancado pela ditadura militar”.

(Consultoria de Nasr Chaul, doutor em História pela USP, professor aposentado da UFG e um dos mais importantes letristas de Goiás e do Brasil)

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