A memória seletiva da senadora Kátia Abreu

10 junho 2017 às 10h07

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Em política, nada é definitivo. Os aliados e alianças mudam ao sabor das conveniências momentâneas. Em 2014, quando a senadora Kátia Abreu precisava de palanque e legenda – para si própria e para o governador Marcelo Miranda – o então presidente do PMDB nacional, Michel Temer, então vice-presidente da República, foi a tábua de salvação de ambos, quando interveio no diretório estadual, derrubou o ex-deputado federal Junior Coimbra do posto de mandatário, e nomeou um interventor.
Kátia foi eleita senadora e, após algum tempo, esqueceu suas profundas raízes com os proprietários de grandes áreas agrícolas e juntou-se à então presidente Dilma Rousseff, tornando-se uma defensora contumaz daquela gestão e seus asseclas, entre os quais o famigerado Movimento dos Sem Terra (MST).
Atualmente, Kátia Abreu discursa abertamente que Temer é um golpista, como se ele não houvesse sido eleito na mesma chapa que alçou Dilma ao poder. Marcelo Miranda agora é chamado pejorativamente de “Rei do Gado”, numa alusão a uma das operações da Polícia Federal.
Ao afirmar que não votará em favor das reformas trabalhista e previdenciária, no último comício do candidato derrotado de Taguatinga, Lúcio Renato José Pereira (PSD), a senadora disparou: “Essas duas senhoras — deputadas Josi Nunes e Dulce Miranda — são bajuladoras de Michel Temer, esse golpista que usurpou de um poder que não é seu”.
O retórico discurso acusatório não deixa de ser dicotômico, visto que a parlamentar, propositalmente, se esqueceu do codinome que recebeu do Greenpeace, em evento realizado no México, ainda em 2010: “Rainha da Motosserra”. Já o marido da parlamentar, o engenheiro agrônomo Moisés Pinto Gomes, foi apelidado de “Machado” na operação da PF que investiga a delação da enroladíssima empreiteira Odebrecht.
O que dizer da Operação Carne Fraca, em que alguns dos investigados eram indicações da senadora, enquanto exerceu o cargo de ministra da Agricultura? E o que dizer da Operação Lucas, que prendeu a ex-superintendente do referido ministério no Tocantins, Ana Carla Floresta Feitosa, aliada de primeira hora da senadora?
A bem da verdade, são vários acontecimentos, investigações, apelidos e codinomes que a senadora faz questão de “esquecer de lembrar”…
Reverbera, neste momento, o velho ditado popular: “…Quem tem rabo de palha não passa perto do fogo…”. (Dock Júnior)