O governador Ronaldo Caiado abriu, nesta quinta-feira, 20, a 1ª Cúpula Internacional de Ética e Inteligência Artificial – Etos.IA, realizada dentro da Campus Party Goiás, destacando o papel de vanguarda de Goiás na construção de políticas públicas para o uso ético e responsável da tecnologia. Diante de especialistas nacionais e internacionais, ele relembrou que o Estado se preparou antecipadamente para essa agenda. Também esteve presente o secretário-Geral de Governo, Adriano da Rocha Lima.

Secretário-Geral de Governo, Adriano da Rocha Lima | Fotos: Edinan Ferreira

“Trouxemos a Campus Party, avançamos na parceria com a Universidade Federal de Goiás para a criação do Centro de Excelência em Inteligência Artificial (Ceia), somos o único Estado com lei que regulamenta a IA e que prevê essa matéria no currículo escolar dos colégios”, afirmou. Para Caiado, Goiás hoje se insere entre os grandes polos mundiais de inovação. “Teremos aqui as maiores autoridades do mundo palestrando. Isso é Goiás se destacando no cenário mundial, como centro de referência na evolução e na pesquisa da IA.”

O governador reforçou ainda que a tecnologia deve servir à sociedade. “A inteligência artificial é uma ferramenta impossível de definir limites, e por isso a importância de se fazer bom uso dela. Ao apoiar a pesquisa, a ciência e a inovação, nós vamos melhorar a vida das pessoas, tornar nossos jovens mais competitivos e transformar Goiás. Estamos à frente do governo federal e de outros estados”, concluiu.

A Etos.IA segue até 22 de novembro no Shopping Passeio das Águas, com mais de 60 horas de programação gratuita e temas como ética, regulação, democracia, educação e o futuro do trabalho.

Painel Internacional – “A Sociedade dos Algoritmos: Desafios Éticos e Democráticos da IA”

O primeiro grande debate do dia reuniu o filósofo francês Luc Ferry, o filósofo brasileiro Clóvis de Barros Filho e o especialista em tecnologia e direito Sérgio Branco. Conduzido em francês, o painel aprofundou questões como valores, democracia e limites humanos frente à inteligência artificial.

Fotos: Lucas Diener

Clóvis: a IA processa dados; o ser humano define rupturas

Clóvis destacou que a IA, apesar de impressionante em análise e síntese, opera sempre dentro de limites definidos pelo material que recebe.

A IA trabalha sobre dados que lhe são dados. O humano é quem dá sentido, define rupturas, decide o que não está indo bem e aponta novos caminhos.

Para ele, o risco está em acreditar que tecnologia substitui reflexão crítica. “A inovação não tem valor em si. O novo pode ser pior do que o velho.”

Luc Ferry: máquinas são inteligentes, mas não escolhem valores

Luc Ferry reforçou que nenhuma IA, por mais avançada, é capaz de escolher valores morais. Ela apenas replica padrões.

Podemos criar uma IA humanista ou até uma IA nazista. A escolha dos valores não é técnica – é ética.

Ferry alertou para dois riscos imediatos às democracias:

  1. Manipulação em massa por sistemas que influenciam opiniões políticas.
  2. Deepfakes perfeitos, tornando impossível distinguir o que é verdadeiro do que é falso.

Ele citou exemplos de vídeos falsos de líderes mundiais e alertou que, em breve, qualquer pessoa poderá ter seu “gêmeo digital” capaz de responder perguntas com perfeição.

Trabalho e futuro

Ferry apresentou cenários preocupantes sobre substituição de profissões. Tradutores, secretárias, áreas administrativas, diagnósticos médicos e setores de análise já sofrem impactos diretos.

Daqui a dez anos teremos um tsunami no mercado de trabalho. Robôs inteligentes substituirão centenas de milhões de empregos.

Ao final, destacou também o impacto positivo da IA na saúde, especialmente na oncologia, com diagnósticos mais precisos e rápidos que salvarão milhões de vidas.

Clóvis: ética é trabalho coletivo

Para Clóvis, a democracia depende de instituições legítimas e educação ética para que cidadãos saibam equilibrar interesses individuais e coletivos.

A IA deve nos permitir construir um Brasil mais justo, onde quem nasce pobre tenha oportunidade de crescer.

Painel – “IA e Educação: Quem Ensina Quem?”

Os participantes foram: José Frederico (Secti), Lauriane Lourenço (Seduc), Anderson Soares (CEIA/UFG), Marina Barreto (Globo). A mediação foi feita por Marcelo Tas. Esse debate trouxe ao centro da Cúpula o tema mais sensível da inteligência artificial: a formação de pessoas e o futuro do ensino.

Tas abriu o painel lembrando como, desde a chegada do homem à Lua até a televisão educativa, tecnologia sempre foi ferramenta de transformação.

“A pergunta não é se a tecnologia muda a educação, mas o que vamos fazer com ela.”

Marina Barreto (Globo): cultura de dados é jornada contínua

Marina explicou como a IA está integrada há mais de uma década às operações da Globo, evoluindo de análises de dados para sistemas generativos.

Ela destacou duas dimensões importantes:

  • Pulso do público: como a audiência reage às novas tecnologias.
  • Cultura interna: como preparar profissionais de todas as idades para essa transição.

Anderson Soares (CEIA): IA mudou o paradigma

O professor Anderson, referência nacional, explicou como a IA evoluiu da fase em que “nada funcionava” (anos 2000) para o cenário atual:

“Hoje, acessar conhecimento se tornou exponencial. É uma mudança tão grande quanto a chegada do Google.”

Ele descreveu como ferramentas generativas desbloqueiam criatividade e aceleram tarefas de ensino e pesquisa, reduzindo horas de trabalho para minutos.

Professora Lauriane Lourenço (Seduc): ética começa em casa

Lauriane trouxe um exemplo marcante: sua filha, de 11 anos, usou IA para fazer um resumo escolar e depois pediu que o texto fosse “reescrito na linguagem de uma criança de 11 anos”.

Se a escola não ensinar ética digital, a sociedade não ensinará. É preciso preparar professores, estudantes e famílias.

Ela citou o desafio de educar 467 mil estudantes e mais de 26 mil professores, reforçando que IA já é parte do cotidiano escolar.

José Frederico (Secti): não existe combinado sem participação

O secretário destacou que o mundo ainda está definindo o “combinado ético” para IA — e que isolar-se é o maior risco.

“O medo paralisa. Se você não participa da onda da tecnologia, você é engolido por ela.”

Ele explicou políticas como:

  • Escolas do Futuro
  • Cursos técnicos de IA
  • Formação continuada de professores
  • Lei estadual que regulamenta IA em Goiás

Também debateu temas sensíveis como a proibição de celulares nas escolas, defendendo ajustes graduais com base em evidências e necessidades pedagógicas.

José Frederico, Caiado, Adriano e Clóvis de Barros | Fotos: Edinan Ferreira

Conclusão: Goiás coloca ética, democracia e educação no centro da IA

A abertura da Etos.IA mostrou que Goiás busca não apenas adotar novas tecnologias, mas liderar um debate global sobre direitos, valores, cidadania e futuro do trabalho.

Com participação de nomes como Luc Ferry, Clóvis de Barros, Michael Sandel, Vint Cerf e Gabriele Mazzini, Goiás se firma como referência nacional em ética e inovação — alinhando ciência, educação e políticas públicas.

Programação Completa – ETOS IA 2025

20 de novembro

09h00–11h00 – Cerimonial
11h00–11h45Palestra Luc Ferry – “Impactos da IA e sua regulamentação”
11h45–12h45Painel: Luc Ferry, Clóvis de Barros Filho e Sérgio Branco
12h45–14h30 – Almoço
14h30–15h30Palestra Martha Gabriel – “IA: Que futuro queremos?”
15h30–16h00 – Coffee Break
16h00–17h15Painel: Anderson Soares, José Frederico, Fábio Eon, Marina Barreto – “IA e Educação: Quem ensina quem?”


21 de novembro

10h00–11h00Palestra Clóvis de Barros Filho
11h00–11h30 – Coffee Break
11h30–12h30Palestra Avanish Sahai – “O Estado de Tech no Mundo”
12h30–14h00 – Almoço
14h00–15h30Painel: “Inovação e IA – Como a inovação pode redesenhar o futuro do Brasil?”
15h30–16h00 – Coffee Break
16h00–17h30Painel: “A Internet que Criamos – e a que Estamos Criando”


22 de novembro

10h00–11h00Palestra Michael Sandel – “A ética da IA: a tecnologia mudará o que significa ser humano?”
11h00–11h30 – Coffee Break
11h30–12h45Painel: Ronaldo Caiado, Ronaldo Lemos, Gabriele Mazzini e Natuza Nery – “Tecnologia e desenvolvimento do Brasil”
12h45–14h00 – Almoço
14h00–15h30Painel: “O Dilema Global da IA: Inovação, Regulação e Soberania”
15h30–16h00 – Coffee Break
16h00–18h00 – Apresentação cultural e encerramento oficial