Responsável por juras de morte e duras críticas pelas duas maiores facções do país – Primeiro Comanda da Capital (PCC) e Comando Vermelho (CV) – os scanners corporais, conhecidos como body scan, já são realidade nos presídios goianos. Na lista dos estados que vão ser contemplados pelo governo federal com novos equipamentos de segurança, Goiás já possui ao menos três scanners corporais e deve receber mais 13 nos próximos meses.

LEIA TAMBÉM

Com 5 mil membros, PCC e CV dominam tráfico de drogas em Goiás

PCC e CV realizam “batismos” em presídios goianos para novos faccionados

Os equipamentos em uso, conforme a Diretoria-Geral de Polícia Penal (DGPP), são instalados na Penitenciária Coronel Odenir Guimarães (POG) e na Casa de Prisão Provisória, no Complexo Prisional de Aparecida de Goiânia. Eles foram adquiridos em outubro de 2023 pela bagatela de R$ 606 mil, recurso advindo do Tesouro Estadual.

O equipamento gera imagens por ondas milimétricas, que transpassam roupas e tecido humano, dificultando a entrada de drogas, celulares e outros ilícitos nas unidades prisionais. Por esse motivo, são alvo de reclamação pela facções paulista e carioca 

O uso do body scan, por exemplo, fez o PCC jurar de morte diretores de um presídio em Avaré, em São Paulo, no ano passado. Isso porque, rigoroso, o equipamento apontou indício de que a esposa de um traficante teria entrado na penitenciária com objetos ilícitos dentro do corpo. Após uma revista feita por médicos, contudo, nada foi encontrado.

Criticado por “Dama do Tráfico”

O uso dos scanners corporais também foi criticado pela “Dama do Tráfico” Luciane Farias, esposa do líder do CV no Amazonas, Clemilton Farias, mais conhecido como “Tio Patinhas”. A crítica ocorreu durante uma audiência com parentes de detentos realizada com o ex-deputado federal por Goiás e atual secretário de assuntos legislativos do governo Lula, Elias Vaz, no Ministério dos Direitos Humanos em 2023. 

“Peço que seja vista a situação das visitas, que nós, familiares, quando vamos visitar, temos o problema da revista vexatória, porque, mesmo com o body scan, aparece a tal da mancha, e 20, 30, 40 pessoas retornam e não conseguem ver seus familiares”, disse Luciane, que responde em liberdade após ser condenada por lavar dinheiro do CV.

Custo de R$ 26 milhões 

O governo federal vai comprar 119 scanners corporais para distribuir entre 22 estados. O custo da aquisição foi colocado sob sigilo pelo Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJSP), responsável pela compra, por meio da Secretaria Nacional de Políticas Penais. No mercado, o preço unitário de cada equipamento gira em torno de R$ 220 mil. Considerando esse valor, a compra pode chegar a R$ 26 milhões.

De acordo com o termo de referência divulgado pelo MJSP, o valor estimado da compra dos scanners será revelado somente após a abertura das propostas.

“O custo estimado da contratação possui caráter sigiloso e será tornado público apenas e imediatamente após o julgamento das propostas. A estimativa de custo levou em consideração o risco envolvido na contratação e sua alocação entre contratante e contratado, conforme especificado na matriz de risco constante do contrato”, diz o termo de referência.

Estados contemplados

O edital da licitação estabelece a compra de scanners em quatro lotes. O lote 1 se refere a 14 equipamentos para estados do Norte — sete para o Pará, dois para o Amazonas, dois para Rondônia, um para Roraima, um para o Amapá e um para o Tocantins.

O lote 2 da licitação inclui estados do Nordeste. Serão 20 equipamentos: quatro para a Bahia, quatro para o Maranhão e quatro para a Paraíba; três para o Rio Grande do Norte; dois para Alagoas; um para o Ceará, um para o Piauí e um para Sergipe.

No lote 3, constam Minas Gerais e estados do Centro-Oeste. Serão adquiridos 50 scanners nessa remessa: 27 para Minas Gerais, 13 para Goiás, sete para o Mato Grosso, dois para o Mato Grosso do Sul e um para o Distrito Federal.

O lote 4 inclui estados do Sul e Sudeste, com exceção de Minas Gerais. Nesse lote, serão distribuídos 35 scanners —16 para o Paraná, 8 para o Rio de Janeiro, 6 para Santa Catarina e 5 para o Espírito Santo. Não foram incluídos na licitação os estados de Pernambuco, São Paulo, Acre e Rio Grande do Sul.

O body scan é um equipamento usado na revista de visitantes do sistema prisional. O objetivo é impedir a entrada de armas, drogas, aparelhos celulares e outros itens proibidos. O sistema emite ondas milimétricas — com comprimento de 1 a 10 milímetros — para o corpo humano, penetrando tecidos e gerando imagens holográficas que podem mostrar objetos escondidos.