Com os primeiros registros provenientes da Índia, o yoga foi criado a mais de cinco mil anos atrás e atualmente é praticado em todas as regiões do planeta. Com a sua popularização, a atividade passou por inúmeras modificações no formato original,  o que se pode definir como “ocidentalização” da prática. Inclusive alterando os objetivos da modalidade e até sendo utilizada por charlatões como medicina alternativa.

“O yoga tem um objetivo muito claro desde sempre: a supressão da instabilidade da consciência. É um trabalho muito mais mental do que físico, essa é a primeira conclusão da prática”, explicou Wadih Elkadi, professor e instrutor de yoga há mais de 15 anos, em entrevista para o Jornal Opção. “É estritamente isso que leva ao estado de samadhi, um estado superior da consciência”, completou.

Ou seja, a atividade não pode ser considerada como alguma forma de “medicina alternativa”, independente do tanto que possa ajudar no tratamento de algumas enfermidades. A prática nunca buscou ter comprovação medicinal ou se tornar uma ciência, o objetivo sempre foi o lado mental, segundo Elkadi. 

“O yoga é uma atividade estritamente prática que conduz você a um estado maior de consciência, alcançando tantos estágios de consciência que é possível atingir o samadhi. Atuamos diversas vezes em nossa vida em uma faixa emocional da consciência, respondendo e reagindo de forma emocional às circunstâncias da vida. Aí passamos para outro entendimento, agimos mais e quando isso acontece, levamos a nossa consciência de um estado emocional para um estado mental”, contou o professor.

Entretanto, a prática apesar de ser focada na parte mental da pessoa pode gerar inúmeros benefícios para a parte física do praticante. Os “efeitos colaterais”, como nomeou Wadih, são inúmeros melhoras na capacidade cardiorrespiratória, força e flexibilidade, por exemplo. O que pode beneficiar o tratamento de doenças e recuperação de cirurgias, mesmo não sendo o objetivo.

“Por exemplo, as técnicas podem ajudar mulheres que fazem um cirurgia no períneo e ficam com uma fraqueza muscular pélvica, além de incontinência urinária porque a bexiga desce. A prática fortalecerá a musculatura da região e com o tempo a bexiga volta para o local adequado e elas param de ter o problema porque a estrutura muscular se restabeleceu. O yoga atua em todas as áreas do seu corpo, seja mental, emocional, psíquico, neurológico ou físico, mas não pode ser vendido assim”, exemplificou o instrutor. 

Traçando um paralelo, ele ainda compara com a natação. No qual, o objetivo do praticante do esporte é aprender a nadar, mas ele ainda terá outros benefícios por conta da atividade física mesmo não sendo o objetivo principal, como melhorar a respiração. O mesmo acontece com os efeitos físicos do yoga, já que a prática possui um objetivo mental. 

Já para o dia-a-dia, o trabalho mental do yoga ainda pode ajudar a pessoa a perceber e entender melhor os próprios sentimentos. O que deixa ela mais ativa, ao invés de reativa, auxiliando a entender melhor a forma que age no mundo.