Rolagem infinita do TikTok pode causar declínio cognitivo e névoa mental
03 novembro 2025 às 09h15

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O uso desenfreado de aplicativos como o TikTok, na rolagem de vídeos, pode causar névoa mental e declínio cognitivo – isso é o que alerta os especialistas. Existem vários levantamentos e pesquisas sobre a sobrecarga gerada, especialmente na Geração Z, e os prejuízos neurológicos e psicológicos causados pelo vício em vídeos curtos.
O Jornal Opção entrevistou o neurologista, Delson José da Silva, que é presidente da Academia Brasileira de Neurologia-ABN. Segundo Delson José da Silva, essa exposição constante aos vídeos do TikTok, cria um ciclo que parece, que o indivíduo conseguiu ter uma gratificação em relação à informação – mas na verdade ele não tem. “É muito mais um efeito emocional, muito mais uma liberação dopaminérgica ligada a um prazer, porque libera realmente essa dopamina, e não tem muito esforço mental para isso”, explica.

Os vídeos do TikTok possuem edições aceleradas, cheias de estímulos e com entrega personalizada. Criada em 2016, a plataforma conta com um bilhão de usuários ativos e esse sucesso deve-se, especialmente, à população mais nova.
Segundo um levantamento realizado pelo Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI.br), a plataforma é a mais utilizada por crianças e adolescentes de 9 a 17 anos. De 11 a 12 anos, ela chega a ser a preferida de quase metade (48%), enquanto Instagram e Facebook juntos são mencionados por apenas 30%. Isso ocorre ainda que o aplicativo, em tese, seja proibido para menores de 13 anos.
“A pessoa perde o foco, perde a capacidade de atenção, perde a capacidade dele de processamento cognitivo, de planejamento em função disso. Em relação ao funcionamento cerebral, tem vários estudos mostrando que esse consumo exagerado, rápido faz com o cérebro passe a funcionar com várias tarefas ao mesmo tempo”, alerta o neurologista.
Ainda segundo o Drº Delson José da Silva existem várias pesquisas, que mostram o aumento do transtorno do movimento, que é o tique. “É uma coisa que eu lido muito, em relação à exposição ao TikTok, e isso tem sido um problema, principalmente, para os jovens e crianças”.
“O cérebro das crianças está mais limpo. Então, se você submete aquele cérebro que está em pleno desenvolvimento a uma exposição de estímulos rápidos, você pode impactar isso na habilidade, na formação da habilidade dessa criança ao longo do tempo. Isso pode comprometer a longo prazo”, informa.
O Jornal Opção ouviu também a psicóloga, Lidiane Passarinho que explicou que a literatura, em sua maioria, aponta que o TikTok é um aplicativo que foi desenvolvido para ser viciante. Pois, quem o desenvolveu sabia que a rolagem infinita, tem como consequência a liberação alta de dopamina (hormônio do prazer, satisfação).

Na visão de Lidiane Passarinho, o ideal seria não utilizar o TikTok. “Porém, tomar essa decisão pode não ser eficaz, porque estamos falando de um aplicativo que é altamente viciante. Então, o primeiro passo é diminuir a quantidade de tempo no aplicativo e associado a esse tempo longe, se envolver em atividades que são prazerosas – assim, o cérebro recebe doses de dopamina de atividades, que sejam mais saudáveis”, aconselha a psicóloga.
O levantamento da Qustodio, plataforma de controle parental, identificou ainda que a faixa etária de 4 a 18 anos passa cerca de 107 minutos por dia na rede, quase duas horas. Esse cenário preocupa os pais devido à disseminação de conteúdos nocivos, que podem escapar do filtro da plataforma, como os que abordam desafios arriscados, teor sexual, incentivo de substâncias ilícitas, entre outros.
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