O Brasil começa a ocupar um novo espaço no mapa do turismo internacional. Além de praias, cultura e biodiversidade, o país passa a ser cada vez mais procurado por estrangeiros que desembarcam por um motivo específico: cuidar da saúde. Tratamentos odontológicos, procedimentos estéticos, medicina preventiva e até terapias de alta complexidade têm atraído pacientes de fora, impulsionando um setor que já movimenta bilhões de dólares.

Em 2025, o país alcançou um recorde histórico de visitantes internacionais, superando com folga a marca de 6 milhões que havia se mantido estável por anos. Embora ainda fique atrás de destinos turísticos consolidados, como algumas nações europeias menores, o crescimento percentual brasileiro foi um dos maiores do mundo. Parte desse avanço é explicada por um segmento pouco visível ao grande público, mas cada vez mais estratégico: o turismo de saúde.

Um mercado em franca expansão

Levantamentos de consultorias internacionais indicam que o turismo médico no Brasil movimentou mais de US$ 3 bilhões em 2024 e pode ultrapassar a casa dos US$ 14 bilhões na próxima década. A cidade de São Paulo concentra a maior parte dessa demanda, reunindo hospitais de ponta, clínicas especializadas e ampla malha aérea. Hoje, a capital paulista já figura entre os maiores polos latino-americanos de atendimento a pacientes internacionais.

Dados de agências de promoção econômica apontam que centenas de milhares de estrangeiros passaram pelo Brasil recentemente com foco em tratamentos médicos ou odontológicos. Em muitos casos, trata-se de brasileiros que vivem fora do país e retornam para procedimentos específicos. Em outros, são estrangeiros com vínculos familiares ou profissionais que descobrem no sistema privado brasileiro uma alternativa mais acessível e eficiente.

Relatos que ajudam a explicar o fenômeno

Nas redes sociais e em relatos espontâneos, histórias se repetem. Pacientes estrangeiros relatam surpresa com o custo-benefício, o tempo de atendimento e a qualidade técnica dos profissionais. Procedimentos odontológicos que custariam dezenas de milhares de dólares nos Estados Unidos ou na Europa podem sair por menos da metade no Brasil, com tecnologia de ponta e acompanhamento próximo.

Esse diferencial é ainda mais evidente em áreas como odontologia, cirurgia plástica, fertilização assistida e medicina estética. Não por acaso, o país é líder mundial em número de procedimentos estéticos realizados anualmente e referência histórica em cirurgias plásticas.

Cultura do cuidado e formação profissional

Especialistas apontam que o sucesso do Brasil nesse setor não é casual. Há décadas, o país desenvolveu uma forte cultura ligada aos cuidados pessoais, à higiene e à estética. O brasileiro frequenta o dentista com regularidade acima da média mundial e consome intensamente produtos e serviços ligados à saúde e à beleza.

Esse comportamento moldou um mercado profissional robusto. O Brasil abriga centenas de milhares de cirurgiões-dentistas e médicos, além de universidades e centros de formação que aparecem em rankings internacionais, especialmente nas áreas de medicina e odontologia. Hospitais brasileiros também acumulam certificações internacionais de qualidade, superando, em número, instituições reconhecidas em países europeus tradicionais.

Muito além da estética

Embora os procedimentos estéticos sejam a porta de entrada para muitos pacientes estrangeiros, o turismo de saúde brasileiro vai além. Pacientes de países vizinhos e de nações africanas de língua portuguesa buscam, sobretudo, tratamentos de alta complexidade, como oncologia, cardiologia e ortopedia. Em alguns casos, o atendimento privado se soma à estrutura do sistema público, que também chama atenção de imigrantes em busca de qualidade de vida e segurança sanitária.

Essa combinação faz com que clínicas e hospitais passem a se estruturar como verdadeiros hubs internacionais, oferecendo desde pré-consultas online até suporte com hospedagem, transporte e acompanhamento pós-tratamento.

Os desafios para consolidar o Brasil como polo global

Apesar do crescimento, especialistas apontam entraves. Falta integração entre saúde, turismo e hotelaria, além de políticas públicas específicas para promover o país como destino internacional de cuidados médicos. Enquanto países como a Turquia investem pesado em campanhas globais e pacotes integrados, o Brasil ainda depende muito do “boca a boca” e de iniciativas isoladas do setor privado.

Há também desafios estruturais: ampliar a oferta de hotéis adaptados a pacientes, melhorar a comunicação em outros idiomas e criar marcos regulatórios que deem segurança jurídica ao turista de saúde.