COMPARTILHAR

A indústria farmacêutica brasileira dá um salto qualitativo com o lançamento dos primeiros medicamentos nacionais para tratamento de obesidade e diabetes tipo 2. A EMS, líder no setor farmacêutico nacional, anunciou o início da comercialização das canetas injetáveis Olire e Lirux, a partir de segunda-feira, 10, das versões genéricas da liraglutida, substância até então monopolizada pela dinamarquesa Novo Nordisk.

Este avanço só foi possível após a expiração das patentes dos medicamentos Saxenda e Victoza no ano passado, abrindo caminho para a produção local dessa importante classe terapêutica. O desenvolvimento desses medicamentos representa um marco tecnológico para o Brasil, que dominou pela primeira vez a complexa produção de análogos do GLP-1, medicamentos biotecnológicos de última geração.

Diferentemente dos fármacos convencionais, a liraglutida é um peptídeo que exige processos sofisticados de síntese e purificação, colocando o país em um seleto grupo de nações capazes de produzir esse tipo de medicamento. A EMS investiu pesadamente nessa capacitação, com um aporte superior a R$ 1 bilhão na construção de uma fábrica especializada em Hortolândia, São Paulo.

Os novos medicamentos chegam ao mercado com preços significativamente mais acessíveis que os produtos de referência. O Olire, indicado para obesidade, será comercializado em kits com três canetas por R$ 760,61, enquanto o Lirux, para diabetes tipo 2, estará disponível em embalagens com duas canetas por R$ 507,07.

Pacientes cadastrados no programa de descontos da EMS terão redução de 10% nesses valores. Embora a expectativa inicial fosse de preços 20% a 30% menores que os originais, a recente queda nos preços dos medicamentos importados, que chegaram a 30% de desconto, acabou por reduzir essa vantagem competitiva inicial.

O mecanismo de ação da liraglutida representa um avanço significativo no tratamento dessas condições. Ao imitar o hormônio GLP-1 naturalmente produzido no intestino, a substância promove uma série de efeitos benéficos: retarda o esvaziamento gástrico, aumenta a produção de insulina, reduz a liberação de glucagon e aumenta a sensação de saciedade.

Resultados clínicos demonstram perda de peso média de 4 a 6 kg, com cerca de 30% dos pacientes alcançando redução de 5% a 10% do peso corporal. Além dos benefícios no controle glicêmico e de peso, estudos mostram melhoras significativas em parâmetros cardiovasculares, ampliando o escopo terapêutico desses medicamentos.

A nova fábrica da EMS em Hortolândia, com capacidade inicial para produzir 20 milhões de canetas por ano e potencial de expansão para 40 milhões, representa um marco na produção farmacêutica nacional. A empresa já projeta o próximo passo nessa jornada tecnológica: o lançamento da semaglutida em 2026, quando expirar a patente do Ozempic. Essa movimentação estratégica coloca o Brasil em um novo patamar na produção de medicamentos biotecnológicos, reduzindo a dependência de importações e fortalecendo o complexo industrial da saúde nacional.

A distribuição dos novos produtos começará pelas principais redes de farmácias do país – RaiaDrogasil, Drogaria São Paulo e Drogarias Pacheco – com disponibilidade inicial nas regiões Sudeste e Sul. A expansão para todo o território nacional está prevista para ocorrer gradualmente nas próximas semanas. A EMS estima disponibilizar 250 mil unidades até o final deste ano, marcando o início de uma nova era na produção farmacêutica brasileira.

Embora a semaglutida, com administração semanal e maior eficácia (15% a 17% de perda de peso), seja considerada a próxima fronteira no tratamento da obesidade, a liraglutida mantém vantagens importantes, como custo mais acessível, perfil de segurança consolidado e indicação pediátrica aprovada. Especialistas destacam que a produção nacional desses medicamentos pode representar um divisor de águas no acesso a tratamentos inovadores, tanto no SUS quanto nos planos de saúde privados.

Este lançamento marca um ponto de inflexão para a indústria farmacêutica nacional, que passa a competir em pé de igualdade com as grandes multinacionais em um dos segmentos mais promissores e tecnologicamente avançados do mercado.

Analistas projetam que a entrada desses genéricos nacionais deverá intensificar a concorrência e promover reduções adicionais de preços nos próximos meses, beneficiando milhões de brasileiros que convivem com obesidade e diabetes tipo 2. Mais do que produtos específicos, o lançamento do Olire e Lirux representa a consolidação de uma capacidade tecnológica estratégica para o país, com potencial para transformar todo o ecossistema da saúde no Brasil.

Leia também Entidades médicas alertam sobre riscos do uso de Ozempic manipulado;

Ozempic e Wegovy ficarão mais baratos; entenda