Pesquisadores espanhóis identificaram um tipo específico de neurônio na amígdala cerebral que funciona como um verdadeiro “interruptor da ansiedade”, oferecendo novas pistas para tratamentos mais precisos contra o transtorno.

A descoberta, publicada em maio de 2025 na revista iScience, ajuda a entender como surge a ansiedade no cérebro e abre caminho para terapias inovadoras. A amígdala, pequena estrutura em forma de amêndoa localizada nos lobos temporais, já era associada ao medo e à ansiedade desde os anos 1990, com o avanço da neuroimagem funcional (fMRI).

Mas faltava descobrir quais neurônios e quais circuitos dentro dessa região do cérebro realmente desencadeavam o transtorno. Agora, cientistas do Instituto de Neurociências de Alicante (IN) mapearam precisamente esse mecanismo.

Eles encontraram uma população específica de neurônios chamada “células de disparo regular”, que produz impulsos elétricos de forma imediata e ritmada, ao contrário das células de disparo tardio, que demoram antes de emitir seus sinais.

Essas células regulares, quando hiperativadas, desorganizam o circuito cerebral que controla as respostas emocionais, levando ao estado patológico da ansiedade. Para testar a hipótese, a equipe liderada por Juan Lerma utilizou ratos transgênicos com duplicação no gene Grik4, mutação também encontrada em humanos com autismo e esquizofrenia.

Nesses animais, os neurônios da amígdala basolateral enviavam sinais até 182% mais fortes para as células de disparo regular, produzindo hiperexcitabilidade e comportamentos de ansiedade. A solução foi ajustar geneticamente a produção da proteína GluK4, gerada pelo gene Grik4.

Os pesquisadores removeram as cópias nativas do gene e mantiveram apenas as cópias extras, o que, na prática, normalizou a produção da proteína na região afetada. Esse ajuste, feito diretamente na amígdala basolateral, reduziu o envio excessivo de sinais às células regulares e restabeleceu o equilíbrio do circuito neuronal.

Segundo o primeiro autor do estudo, Álvaro García: “Esse simples ajuste foi suficiente para reverter comportamentos relacionados à ansiedade e déficits sociais nos camundongos, o que é notável.”

Ele destaca que a intervenção funcionou sem alterar outras regiões do cérebro, provando que basta corrigir esse circuito-chave para normalizar o comportamento. A dinâmica revelada pelos cientistas mostra que:

  • Células de disparo regular inibem as células de disparo tardio.
  • Células de disparo tardio inibem os neurônios da amígdala centromedial, responsáveis por gerar respostas de ansiedade.

Em condições normais, esse ciclo cria uma espécie de sistema de “checar antes de agir”, evitando reações emocionais excessivas. Mas quando as células regulares ficam hiperativas, elas dominam o circuito, silenciam as células tardias e deixam a amígdala centromedial sem controle, gerando ansiedade patológica.

Embora realizados em animais, os resultados têm grande potencial para o desenvolvimento de:

  • fármacos mais precisos, que atuem especificamente no receptor GluK4;
  • neuromodulação direcionada, como estimulação transcraniana focada no circuito identificado;
  • terapias com menos efeitos colaterais, já que a intervenção seria localizada.

Atualmente, medicamentos contra ansiedade e depressão afetam o cérebro inteiro. O estudo mostra que, na verdade, uma pequena população de neurônios pode ter impacto desproporcional na regulação emocional, mudando a visão tradicional de que ansiedade é causada por “danos estruturais”.

Em vez disso, seria um descompasso focal, em um circuito neuronal bem específico e, portanto, potencialmente tratável com maior precisão.

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