Desde o anúncio da venda da Amil para o empresário José Seripieri Filho, conhecido como Júnior, pelo UnitedHealth Group (UHG), a maior seguradora de saúde dos Estados Unidos, no final de 2023, os 5,4 milhões de beneficiários da operadora brasileira estão ansiosos para entender como serão afetados por essa mudança.

Após a conclusão da venda, órgãos de defesa ao consumidor esclareceram que os usuários estão protegidos por lei e que não deverá haver alterações no padrão dos serviços prestados. Embora seja um fato, especialistas acreditam que, com o tempo, a empresa passará por transformações, embora estas não devam representar um incômodo significativo para os consumidores.

Segundo Harold Takahashi, sócio da Fortezza Partners, uma assessoria de investimentos especializada em fusões e aquisições, uma das razões para as mudanças é a necessidade de reverter os resultados negativos acumulados pela operação da Amil, que registrou um prejuízo operacional de R$ 1,6 bilhão nos primeiros seis meses de 2023.

Takahashi destaca que é inegável que a empresa precisa de ajustes, incluindo possíveis modificações na gestão e negociações renovadas com prestadores de serviços e médicos contratados. Além disso, a nova administração provavelmente adotará uma abordagem mais racional na expansão da base de clientes, afastando-se da agressividade na política de preços praticada nos últimos anos.

Outra tendência observada, não apenas na Amil, mas no mercado em geral, é o aumento do uso de redes próprias de hospitais e laboratórios pelos planos de saúde, conhecido como “verticalização operacional”. Isso oferece vantagens, como um controle mais preciso dos custos, frequentemente marcados por desperdícios.

Com a Amil e a Americas Serviços Médicos agora sob nova administração, a segunda maior infraestrutura de saúde suplementar no Brasil, depois da Rede D’Or, espera-se que a empresa explore mais efetivamente sua extensa rede própria, composta por 19 hospitais e 52 unidades de atendimento, e a Americas Serviços, com 28 centros médicos, clínicas e 12 hospitais.

A Amil também deve direcionar esforços para investir mais em prevenção, visando reduzir gastos ao incentivar mudanças de hábitos de vida entre os beneficiários do plano. Além disso, a empresa precisa lidar com os desafios apresentados pelos cerca de 340 mil planos individuais, um segmento deficitário que levou o UHG a tentar se desfazer em 2022, mas a transação foi vetada pela ANS.

Para o médico Carlos Lobbé, professor dos MBAs de gestão de saúde da Fundação Getulio Vargas (FGV), a venda da Amil pode ser positiva tanto para a empresa quanto para os consumidores. Ele destaca que a dificuldade das multinacionais em entender as nuances do mercado brasileiro pode ser superada com uma gestão mais ágil.

Lobbé vê o aprofundamento da verticalização como uma medida benéfica para os usuários, permitindo um melhor aproveitamento da rede. Contudo, ele alerta para a necessidade de compreender os objetivos da nova gestão da Amil, assegurando que as mudanças serão voltadas para a solução das dificuldades enfrentadas pela operadora, e não apenas uma transição para uma nova venda.

Apesar da necessidade de redução de gastos, incluindo estratégias como a verticalização e maior ênfase na prevenção, o analista Harold Takahashi acredita que os consumidores não serão impactados imediatamente pela mudança de controle da Amil, especialmente nos primeiros dois anos após a compra. Ele destaca que eventuais alterações devem afetar principalmente novos contratos e renovações nos próximos anos.

Takahashi ressalta que a conclusão da venda da Amil ainda está sujeita a etapas pendentes, com a previsão de ser finalizada no fim do primeiro semestre deste ano. Portanto, a transação demandará tempo e esforço para que todas as condições sejam atendidas, incluindo diligências e conferências de números, com o acordo estipulando que Seripiere pagará ao UHG R$ 2 bilhões e assumirá outros R$ 9 bilhões em dívidas.

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