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Deputado José Vitti, ex-líder do governo nos primeiros dois anos da atual legislatura, tem agora a tarefa de presidir o Legislativo no período que antecede as eleições de 2018

Deputado José Vitti, novo comandante do Parlamento estadual : tarefa delicada em momento de tensão eleitoral | Foto: Ruber Couto

Afonso Lopes

Uma troca de comando aparentemente simples. O grupo governista, amplamente majoritário desde as urnas de 2014, mantém o principal posto do parlamento estadual de Goiás. Em outras palavras, não vai além de uma troca dentro do mesmo grupo, sem representar um rompimento político, portanto. Hélio de Souza, que deixou a Presidência, será substituído por José Vitti.

Porém, ao contrário do que aparenta ser do ponto de vista da administração interna, politicamente a condução do parlamento no período que se inicia e que será encerrado após as eleições de 2018 é muito diferente. Hélio ficou à frente da Assembleia Legislativa antes das eleições municipais. Vitti vai comandar o Poder durante a formação do processo eleitoral para 2018, quando estará em jogo o Palácio das Esmeraldas. Em outras palavras, a manutenção ou não do atual eixo político que governa Goiás.

Historicamente, a segunda metade do mandato representa uma guinada e tanto no comportamento das bancadas partidárias. Agora mesmo, por exemplo, o PSB, de acordo com declarações do deputado Lissauer Vieira, anunciou posição mais independente, embora ainda dentro da base aliada estadual. Isso, inegavelmente, tem a ver com 2018, e não com descontentamentos momentâneos. Antes dos pessebistas, parte da bancada do PSD também sinalizou que vai se abrir ao diálogo com forças oposicionistas, como a ala do PMDB sob a liderança do ex-governador e ex-prefeito de Aparecida de Goiânia Maguito Vilela.

É nessa situação de reacomodação das forças políticas que entra o papel fundamental de José Vitti como presidente da Assembleia Legislativa. Como líder do governo nos últimos dois anos, ele manteve trânsito pra lá de fácil e simplificado não somente dentro da base como também entre os oposicionistas. Não foi por outra razão que sua eleição aconteceu naturalmente, sem disputas. Esse fator positivo dele é que terá que ser usado para permitir que os espaços sejam disputados sem que isso signifique um rompimento, especialmente nas votações importantes para o Palácio das Esmeraldas.

A dificuldade é que, de olho nos dividendos eleitorais, nem sempre bases se comportam com coesão. Na falta de maior argumentação política, alguns parlamentares podem começar um processo não de reacomodação dentro dos espaços da base, mas também fora dela. É onde entra o papel moderador que o presidente do parlamento pode exercer, evitando que rompantes pessoais levem à crise entre os partidos governistas.

Esse trabalho de alta tessitura não é simples. Não há, ao contrário do que possa imaginar parte da opinião pública, um toma-lá-da-cá do varejinho da política. Ao contrário, trata-se de uma arte de conciliação e de respeito que envolvem interesses globalizados das bancadas partidárias com o propósito eleitoral imediato. É por essa razão que a primeira metade do mandato demanda situações muito menos complexas nos parlamentos do que a decisiva segunda metade.

Particularmente em 2018, as eleições são ainda mais complicadas tanto para a base governista como para as oposições. A principal liderança político-eleitoral do governo, Marconi Perillo, reeleito em 2014, não irá disputar pessoalmente a continuidade. Essa tarefa caberá a outro. Mas é óbvio acreditar que Marconi continuará sendo o grande avalista desse grupamento. Já os opositores vivem o eterno drama de reunir muitos nomes e pouca ou nenhuma capacidade de articulação unitária. O PMDB se transformou em dois partidos em um só. Além disso, tem o DEM e sua eterna guerra com o PT, e vice versa.

A tarefa do presidente José Vitti portanto é respaldar as ações importantes do governo administrativamente e manter internamente o Parlamento como um fator político que amplie as discussões políticas sem exageros de ordem eleitoral. Não é tarefa simples, mas é possível, sem dúvida. Quem ganha com isso? Todo mundo, mas principalmente a população.