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Há um longo, demorado e sofrido caminho rumo a dias mais ensolarados para a economia brasileira, mas os primeiros resultados positivos são reais. Se a crise moral e política não atrapalhar, é questão de tempo apenas

Mercado já precificou até mesmo a queda de Michel Temer | Foto Lula Marques/Agência PT

Afonso Lopes

Nem o mais otimista integrante da equipe econômica do governo previu que ainda no primeiro semestre deste ano a economia sairia do vermelho. Pois foi exatamente isso o que ocorreu no mês de abril, com o registro de 1% de aumento no PIB. Um pontinho só, mas foi o suficiente para mostrar que finalmente o país pode, afinal, encontrar o longo e terrível caminho para voltar à superfície após amargar dois anos de queda livre no mais profundo poço da recessão de toda a sua história.

Ao mesmo tempo, a descontrolada escalada inflacionária dos últimos meses do governo Dilma 2 não apenas ficou sob controle co­mo ainda se acomoda em níveis abaixo da meta, sem muitos sinais de que há ainda algum fogo com possibilidade de realimentá-la a curto prazo. Ou seja, isso aumenta o espaço que as autoridades do Ban­co Central têm para dar novas pau­ladas na taxa referencial de ju­ros, a Selic, que tem como consequência qua­se imediata a ampliação do crédito no mercado como um todo.

Alerta

Se está tudo bem, dentro das circunstâncias, ainda pode dar tudo errado? Infelizmente, sim. A crise moral e política que abala os alicerces do Palácio do Planalto é a grande ameaça. Para os economistas e analistas, o mercado já precificou até a queda do presidente Michel Temer. Isso é certo, mas o que não está dentro dessa perspectiva é a possibilidade de o sangramento moral e político se tornar permanente. Aí, e de certa forma, a recuperação e o bom cenário que se tem neste momento pode se revelar voo de galinha, curtíssimo.

Há unanimidade em relação à necessidade de aprovação das reformas trabalhista, que teria como principal mérito a desburocratização do emprego, e a previdenciária. A primeira, após aprovação na Câmara dos Deputados, deve passar também no Senado. Quanto à reforma da Previ­dência, essa subiu no telhado. Isso significa que o governo federal terá que promover cortes em outros gastos se não quiser pisotear a recém-aprovada limitação de crescimento das despesas.

Um refresco nas contas da Previdência poderá vir se as previsões do ministro Henrique Meirelles, da Fazenda, se concretizarem. Ele acha que a partir de agosto vai ocorrer o início do processo de recuperação do nível de geração de emprego. A previdência social do Brasil, que ao longo das décadas passou a funcionar como uma “pirâmide financeira” — dessas que dependem sempre do ingresso de novos membros para manter a rentabilidade de quem sai — depende de pleno emprego.

Se os principais indicadores da economia se mantiverem positivos em relação à pasmaceira e desespero provocados pela recessão até início deste ano, é possível que alguns setores empresariais reabram as pastas de investimentos, seja no aumento da produção, seja na ampliação de plantas de olho na demanda crescente.

De uma maneira geral, o clima entre os economistas e analistas do mercado é de otimismo contido. Ou seja, os sinais são bons, mas não são tão bons assim que permitam negligenciar o controle das contas públicas. Foram os gastos irresponsáveis que derrubaram a economia brasileira como um todo. E são os gastos excessivos que podem impedir que a maré continue favorável.

E assim se volta a olhar e acompanhar de perto as movimentações do presidente Michel Temer para se manter na Presidência da República. Ele já fez inúmeras concessões para agradar quem ele entendeu que deveria agradar. Se parar por aqui, o mercado não vê maiores consequências. O problema é se a crise se agravar de tal forma e monta que o leve a escancarar de vez o acesso ao cofre. Aí voltaria tudo para a estaca zero.

A maioria dos observadores políticos, especialmente os sediados em Brasília, acredita, porém, que Michel Temer sabe que a única chance que ele tem de seguir com seu mandato até 31 de dezembro do ano que vem é através da recuperação da economia. E essa é exatamente a garantia que o mercado tem de que o controle econômico continuará sendo mantido sem grandes percalços. É só o que precisa.