Quem agora se credencia para depois?
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Partidos e políticos se organizam nas bases municipais para se posicionarem melhor na sucessão estadual. Quem ganha e quem pode perder?
Afonso Lopes
Uma das máximas mais repetidas entre os políticos é que cada eleição é uma eleição, sem ter ligações com outras disputas. Mas na prática isso muda bastante. É claro que existe, sim, algo que une as pontas entre as eleições, favorecendo a tomada de posições ou determinando reestudo das condições gerais. Ou seja, 2018 vai começar a ser desenhado já em 2016. Para alguns candidatos e partidos, de forma realmente intensa e determinante. Para outros, nem tanto. Para todos, porém, com alguma influência.
É por essa razão que deputados estaduais e federais, prefeitos e até o governador estão iniciando um processo de mapeamento das eleições municipais do ano que vem. A meta imediata é ganhar em 2016, mas o objetivo de fundo é mesmo estabelecer boa posição para 2018, quando estará em jogo uma das mais importantes sucessões de Goiás em décadas: a substituição do governador Marconi Perillo.
Estratégias
É natural que os partidos políticos e suas alianças tenham estratégias diferentes. O objetivo, obviamente, é sempre e invariavelmente o mesmo: vencer. Os caminhos é que são diferentes.
O principal partido da oposição, o PMDB, mais uma vez recorre à porta de saída para se apurar de certa forma. Primeiro, mandou para fora o empresário Júnior Friboi. Agora, promete fazer a mesma coisa com quase 20 prefeitos do interior. Todos eles foram acusados internamente de cometer o mesmo pecado: não ter apoiado a candidatura do grande líder peemedebista, Iris Rezende, nas eleições do ano passado.
Essa solução depurativa não é inédita. O exemplo mais recente é de 2012, quando a cúpula do partido em Goiânia se recusou a apoiar a candidatura do então vice-prefeito Paulo Garcia, do aliado PT, e insistiu na tese de lançamento de candidatura própria. Como o comando estadual, leia-se Iris Rezende, era favorável à reeleição de Paulo, o diretório metropolitano sofreu intervenção.
Internamente, o PMDB permanece atuante em torno de dois grandes blocos: o majoritário, de orientação irista, e o minoritário, embora consistente, sob a liderança do prefeito de Aparecida de Goiânia, Maguito Vilela. Os espaços político-eleitorais de cada um desses grupos seguem em linhas paralelas, sem confrontos. Os maguitistas se concentram na região Sudoeste e em Aparecida. Os iristas pululam nas demais cidades do interior, mas sob a dependência direta do grande QG desse grupamento: Goiânia.
Faltando ainda um ano para as eleições, o grupo Maguito aparece em boa situação do ponto de vista da perspectiva de manutenção de suas posições, tanto nas cidades do Sudoeste como em Aparecida. Já o Grupo Iris depende de seu líder para manter o bunker goianiense. Se essas contas eleitorais fecharem dessa forma, com os maguitistas mantendo suas posições municipais e os iristas retornando ao comando da Prefeitura de Goiânia, vai se ter uma melhor visão sobre o que o partido poderá construir em termos de candidatura em 2018. Os iristas devem mesmo apostar no senador Ronaldo Caiado, do novo aliado DEM. Os maguitistas devem se apresentar com certo grau de renovação, com o jovem deputado federal Daniel Vilela. O grupo que perder posições em 2016 vai se enfraquecer para a sucessão estadual, em 2018.
Base aliada
Na base aliada, a grande esperança até aqui para 2018 é o vice-governador José Eliton, do PP. Reeleito para o cargo com o governador Marconi Perillo, ele é da confiança da cúpula palaciana. Mas nem por isso sua posição está absolutamente definida. Ele terá, evidentemente, a preferência, mas o PSDB é um partido riquíssimo em quadros importantes, como, por exemplo, Giuseppe Vecci. Além disso, o PTB sempre exerce boa influência na definição de candidaturas, mesmo quando não lança candidato próprio.
A base aliada tem, como sempre, uma ótima perspectiva inicial para as eleições municipais do ano que vem, e deve sair das urnas mais ou menos do mesmo tamanho que está, o que significa ampla maioria de prefeitos e vereadores. O grande problema da base é justamente nos três maiores colégios eleitorais do Estado: Goiânia, Aparecida de Goiânia e Anápolis.
Em Anápolis, o PT do prefeito João Gomes está pacificado em torno de sua reeleição. Em Aparecida, Maguito, reeleito em 2012, terá que indicar e carregar algum outro nome. Provavelmente, caso consiga impor alguém do seu próprio grupo, terá condições de brigar pela sucessão. Se, ao contrário, o processo de definição dessa candidatura se transformar numa guerra interna, a situação ficará bastante complicada.
Em Goiânia, inicialmente, e ainda sem qualquer definição dos nomes que vão para o confronto eleitoral, o quadro está empatado. O PMDB, obviamente, vai se lançar na dianteira caso lance mais uma vez Iris Rezende. Mas antes ele terá que resolver como se livrar da coligação com o PT sem que a atual administração entorne o caldo e se sinta traída. Nesse caso, ninguém sabe ao certo qual será a reação petista, especialmente em relação aos dois governos de Iris, imediatamente anteriores aos de Paulo Garcia.
Já a base aliada ensaia, como sempre, a mesma dança em torno da velha fogueira das vaidades. Em 2016, vai se completar um período de 20 anos sem vitórias do grupo em Goiânia — a última eleição vencida foi em 1996, com a união total em torno de Nion Albernaz. Se ao contrário do ensaio, a base conseguir realmente estabelecer um plano de meta eleitoral unificado, as chances de derrotar o irismo em seu principal reduto disparam. Se não, provavelmente, a base vai ter que continuar na fila por mais quatro anos.