Projeto de criação do Estado do Entorno divide opinião de prefeitos

12 setembro 2015 às 15h09
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Gestores de cidades que circundam Brasília estão divididos em relação à ideia de criar uma nova unidade federativa que englobaria municípios goianos vizinhos à capital federal. Proposta já é antiga e há políticos interessados em sua viabilidade
Frederico Vitor
O projeto é antigo e parece ser o sonho de muitos políticos goianos que detêm bases eleitorais na região goiana do Entorno do Distrito Federal. A criação de um novo Estado formado basicamente por municípios goianos vizinhos a Brasília é uma ideia que ainda paira sobre a cabeça de lideranças de diversos segmentos das cidades que circundam a capital da República. De tempos em tempos, a discussão volta à tona, e uma nova proposta que entrou em pauta é a criação do Estado do Entorno, cuja capital seria Luziânia, de 191 mil habitantes.
Nem todos os prefeitos de cidades que seriam englobadas pelo projeto de criação de um novo ente federativo enxergam a proposta como solução para todos os gargalos que afligem a região. Há gestores municipais que defendem parcerias mais profundas entre município, governo estadual e União, ou a criação de um fundo constitucional análogo ao Fundo Constitucional do Distrito Federal (FCDF) que preveja o envio de verbas federais para saúde, educação e segurança pública de Brasília.
Em contrapartida, há outros prefeitos que veem na criação de uma nova unidade federativa a solução para os vários entraves da região do Entorno, principalmente no que diz respeito à infraestrutura, saneamento básico, saúde, transportes e segurança pública. Os defensores da iniciativa argumentam que a nova unidade federativa já seria criada juntamente com melhorias e investimentos da União. Territorialmente enxuto, formado por pouco mais de 20 municípios, o novo Estado receberia do Fundo de Participação dos Estados (FPE) um aporte estimado em R$ 85 milhões por mês e uma arrecadação de ICMS calculado em mais de R$ 1 bilhão mensal.
Além da proposta que cria o Estado do Entorno, existem outras duas concepções de novo ente federativo que englobariam vasta área do território goiano vizinho à capital federal. O mais antigo dos projetos é o Estado do Planalto Central, que teria sua capital sediada em Taguatinga (região administrativa do Distrito Federal). A outra sugestão é a de criação do Estado do Itiquira — nome alusivo à cachoeira de maior queda livre da América Latina, com 167 metros de altura —, com sede administrativa em Formosa (110 mil moradores). Além dos municípios goianos do Entorno, o Itiquira arrancaria de Goiás as cidades do Nordeste goiano e incluiria também parte do território de Minas Gerais e Bahia.
Atualmente, a Câmara dos Deputados analisa a criação do Estado do Planalto Central. A intenção é que o novo ente federativo seja composto pelo desmembramento das áreas onde se situam as regiões administrativas do Distrito Federal, mas o texto não especifica quais. Na atualidade, o Distrito Federal conta com 31 regiões administrativas, incluindo Brasília.
De acordo com a proposta, o novo Estado também deverá englobar os seguintes municípios de Goiás: Abadiânia, Água Fria de Goiás, Águas Lindas de Goiás, Alexânia, Alvorada do Norte, Buritinópolis, Cabeceiras, Cidade Ocidental, Cocalzinho, Corumbá de Goiás, Cristalina, Damianópolis, Flores de Goiás, Formosa, Luziânia, Mambaí, Mimoso de Goiás, Novo Gama, Padre Bernardo, Planaltina de Goiás, Santo Antônio do Descoberto, São João da Aliança, Simolândia, Sítio d’Abadia, Valparaíso de Goiás e Vila Boa de Goiás.
O autor da proposta, não é um parlamentar goiano e tampouco brasiliense. Trata-se do deputado federal maranhense Francisco Escórcio (PMDB-MA), que defende a criação do Estado do Planalto Central em razão da possível geração de desenvolvimento que a medida traria, como mais empregos e renda. Segundo ele, os grandes fluxos migratórios que foram para a região geraram crescimento urbano desordenado e caótico, de difícil administração, o que leva à necessidade de poderes Executivo, Legislativo e Judiciário próprios, capazes de suprir as demandas em educação, saúde, infraestrutura dentre outras necessidades.
Para que a proposta saia do papel é necessária a convocação de um plebiscito, medida prevista no Projeto de Decreto Legislativo 1127/13. Os eleitores de Goiás e do Distrito federal seriam convocados às urnas para decidir se querem ou não perder parte de seu território para criar um novo Estado. Caso o eleitorado envolvido aceite a mudança, os parlamentares ainda precisariam aprovar uma lei complementar que seguiria para sanção presidencial. Atualmente, a proposta é analisada pelas comissões de Integração Nacional, Desenvolvimento Regional e da Amazônia; de Finanças e Tributação; e de Constituição e Justiça e de Cidadania antes de seguir para votação pelo Plenário.
Criar um Estado não sairá barato ao erário. São necessários investimentos em equipamentos estatais, o que significa gastos exorbitantes em um momento em que o País atravessa uma crise econômica que afeta diretamente os cofres públicos. Caso se torne uma realidade, o governo terá que arcar com a criação de secretarias de governo, autarquias e empresas públicas, como a de geração e fornecimento de energia elétrica, de água e de tratamento de esgoto. Além disso, haverá a necessidade da construção de uma nova Assembleia Legislativa, tribunais de Justiça e de Contas, Ministério Público, um novo sistema penitenciário, além de toda uma estrutura de segurança pública como delegacias, batalhões e academias de polícia. Os defensores da ideia argumentam que o gasto é necessário, já que há uma compensação com a melhoria da qualidade de vida da população.
“Ideia precisa ser discutida amplamente com a população do Entorno”

Foto:Y. Maeda
Para Cristóvão Tormin (PSD), prefeito de Luziânia, falta maturidade à ideia, ou seja, ainda não estão claros quais seriam os benefícios palpáveis que a população teria caso fosse criado um novo Estado. Segundo o gestor da maior cidade do Entorno, com aproximadamente 191 mil habitantes, os moradores que residem na região ainda não têm domínio acerca do assunto, portanto a ideia precisa ser discutida amplamente com a população. “Se as pessoas aprovarem, estarei ao lado”, diz.

Foto: Divulgação
Cristóvão Tormin afirma que a melhor solução no momento seria a criação do Fundo Constitucional do Entorno, aportes oriundos do governo federal que seriam investidos na saúde, educação e segurança pública da região e parcerias efetivas entre municípios, governos federal e estadual, mais o Distrito Federal. O prefeito diz que o Palácio dos Buritis (sede do Executivo brasiliense) precisa ajudar as municipalidades adjacentes, já que a ligação da população do Entorno com Brasília é muito grande e histórica. “O que vier para melhorar é bem-vindo”, diz.

Foto: Y. Maeda
O prefeito de Águas Lindas de Goiás, Hildo do Candango (PTB), já pensa diferente. Ele é favorável à emancipação do Entorno como uma nova unidade federativa e, segundo sua perspectiva, apesar de ainda não existir estudos e estatísticas sobre os impactos positivos e negativos da criação de um novo Estado, a ideia é bem-vinda. “A população do Entorno anseia por soluções, mesmo que isso signifique se desmembrar de Goiás para criar um novo ente federativo”, diz. Para o prefeito do município de cerca de 180 mil habitantes, o projeto é exequível, desde que seja discutido amplamente pelos moradores da região. “No Entorno estão localizadas cidades em pleno desenvolvimento, por isso acreditamos que ao criar um novo Estado haveria um suporte a mais para o crescimento da região”, diz.
O prefeito de Formosa, Itamar Barreto (PSD), afirma que é contra a criação do Estado do Planalto ou do Entorno. Ele diz ser favorável ao surgimento do Estado do Itiquira, que abrange as cidades do Nordeste Goiano, Minas Gerais e Bahia. O chefe do Executivo do município de 110 mil habitantes lembra que há uma resistência muito grande dos moradores das cidades-satélites de Brasília em se tornar parte de um Estado (no caso do Planalto Central). “O que precisa existir é um Fundo Constitucional para o Entorno. Os problemas de saúde, segurança e transporte existem em função de Brasília, nada mais justo o governo federal socorrer esses municípios.”