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Em qualquer “manual” anticrise consta a máxima de que a atitude negativa amplifica os efeitos ruins da situação

Afonso Lopes

Talvez tenha um pouco a ver com a neurolinguística, mas a verdade é que as fases ruins da economia, quando acompanhadas por uma saraivada de más notícias, aumenta os efeitos iniciais da própria crise, reverberando seus piores efeitos. Ou seja, uma situação ruim passa a ser percebida como péssima, caos total e absoluto, e isso termina por contaminar a real dimensão do fato tornando-os ainda maior e mais grave.

Alheio do cenário brasileiro há quase duas décadas, apesar de nesse período o país jamais ter realmente deslanchado como poderia, o “fim dos tempos” está de volta graças ao brutal ajuste fiscal imposto pelo governo federal para tentar conter o desequilíbrio das contas. E como se adotou o pior dentre todos os caminhos para se fazer isso, com um custo social, econômico e político absurdamente altos, o pessimismo assola o Brasil todo e tende a contaminar ainda mais o ambiente de crise.

Para se perceber melhor o que esse pessimismo causa e como ele ocorre, basta fazer referência ao noticiário policial brasileiro. O país é um dos lugares mais inseguros do planeta, mas a sensação de insegurança é muito maior. Existe muito mais possibilidade de o cidadão sofrer um ato de violência extremo numa banal discussão de trânsito ou numa festiva mesa de bar do que ao caminhar e ser assaltado. Mas a sensação é que os assaltantes estão em todos os lugares, em cada esquina, prontos para entrar em ação. Assim, ninguém deixa de frequentar a mesa do bar por medo de ser atacado por outro frequentador, mas é certo que todos ficam alertas ao caminhar alguns poucos metros de calçada.

É óbvio que a sensação de insegurança tem relação direta com a realidade, e com o noticiário sobre ela. Quanto mais assaltos e assassinatos ocorrem, mais e mais inseguros todos passam a se sentir, mesmo quando não estão na chamada zona de risco.

Na economia, a situação é exatamente a mesma. Um mero boato de que determinada empresa está em situação ruim faz com que os clientes passem a ter cautela que não teriam ao fazer algum negócio com ela. Quando você tem essa mesma sensação em relação ao país, então a situação fica realmente bastante complicada.

O ajuste fiscal do governo de Dilma Roussef é um poço interminável de más notícias, e a sensação de que a crise econômica é avassaladora vai no mesmo diapasão. Talvez por isso o Brasil seja um dos poucos países do mundo que, por decisão própria, tenha optado por baixar um pacote recessivo duríssimo para combater os números ruins de sua economia. É um quadro semelhante ao que ocorreu em algumas economias europeias, que precisaram se submeter a planos econômicos restritivos impostos pelos países financiadores. O Brasil fez por opção o que Portugal, Espanha e Grécia foram obrigados a fazer.

Caminho exatamente inverso foi trilhado pelos Estados Unidos, marco zero da crise mundial que abalou o dólar e o euro numa só pancada. Por lá, o presidente Barack Obama e as autoridades econômicas incentivaram as empresas para superarem os problemas o mais rapidamente possível. O governo Dilma optou por aumentar dramaticamente a taxa referencial de juros, inibir investimentos não apenas públicos, e, mais do que isso, cortar vagas de emprego, atirando assim o país num círculo muito mais difícil e longo de crise.

No início deste ano, Dilma e seus ministros diziam que no último trimestre deste ano as coisas iriam começar a mudar para melhor e que em 2016 a economia voltaria ao leito normal de desenvolvimento. Agora, além de já se saber que a recessão deste ano será o dobro daquela inicialmente projetada e anunciada, 2016 também não será nada maravilhoso. Ao contrário, depois de 80 anos, pela primeira vez o Brasil vai enfrentar pelo menos dois anos consecutivos de recessão na sua economia.

O resto desse quadro é o que se tem assistido diariamente. As notícias ruins na economia vão se sucedendo numa velocidade incrível, e as pessoas vivem a sensação de que o ciclo que se iniciou ainda irá piorar muito antes de melhorar.

Nos Estados, os governos estão fazendo o possível para escapar da contaminação negativa da crise de Brasília. Em São Paulo, apesar dos cortes nos investimentos, o governador Geraldo Alckmim dificilmente é flagrado falando sobre problemas. Pelo menos no que se refere ao âmbito do Palácio dos Bandeirantes, a crise é muito menor. O oposto é visto no Rio Grande do Sul, onde o governo acaba de suspender totalmente o pagamento em dia dos salários dos servidores, e tem enfrentado sucessivas greves. Numa comparação direta entre paulistas e gaúchos, os primeiros estão muito mais otimistas do que os outros.

Esse quadro é exemplar, e deve estar na pauta das preocupações em todos os Estados. Se otimismo apenas não paga as contas, o pessimismo permanente piora tudo. Goiás, e particularmente os governos liderados por Marconi Perillo, sempre foram vendedores de otimismo. Que a crise de Brasília, apesar de gerar efeitos diretos em todo o país, não mude essa regra de conduta que sempre funcionou bem.