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Qual é a fórmula mais simplificada de união de candidaturas? Até hoje sempre foi a inigualável “quem estiver em melhores condições recebe o apoio do outro”. Mas por que isso não é falado no PMDB? Porque existe outras questões além dessa união

É claro que ainda pode, quem sabe?, acontecer, mas a possibilidade de composição entre as candidaturas de Daniel Vilela e Ronaldo Caiado jamais existiu realmente, especialmente com relação à hipótese de o peemedebista ceder a vez e o espaço para o democrata. O grupo que está por trás da candidatura de Daniel, e que lhe garante sustentação apesar de ela não apresentar um desempenho excepcional em matéria de popularidade, vai buscar composição até o último momento, e se ainda assim a derrocada interna se tornar evidente, o grupo acionará o chamado plano B, sempre citado nos bastidores e igualmente sempre rechaçado pelos envolvidos, que é a candidatura do pai de Daniel, o ex-governador e ex-prefeito de Aparecida Goiânia Maguito Vilela. O único acordo de candidaturas possível para o grupo é receber o apoio incondicional de Ronaldo Caiado.

Disputa

O problema aí não é uma questão de ojeriza do grupo Vilela em relação a Ronaldo Caiado. Talvez, em circunstâncias bem diferentes, fosse até possível se imaginar que o democrata pudesse ter sinal verde para enfrentar a base aliada estadual. Numa versão bem camarada de que teria chegado a vez dele tentar enfrentar a empreitada eleitoral pra lá de perigosa, que é disputar contra uma máquina eleitoral grande o suficiente para moer, como já fez anteriormente, favoritismos pré-eleitorais. O problema está nas circunstâncias em que essa disputa está acontecendo.

Vale remontar o cenário em que as cenas atuais acontecem. Desde 1998, quando atropelou sem qualquer pudor político a candidatura à reeleição do então governador Maguito Vilela, o grupo dos Vilela – que, deve-se ressaltar, se sentia parte integrante legítima do irismo, e por isso passou quatro anos surfando em popularidade e não se preocupou em construir força própria no PMDB estadual – entendeu que o jogo é jogado num patamar bem acima, e que para exigir e preencher espaços deveria construir sua própria trincheira de luta.

Ao longo dos anos, muitas vezes se falou sobre a saída do grupo Vilela do PMDB, que foi ficando por comodismo e conveniência. Sempre se soube, e em conversas muitíssimo reservadas foi admitido, que os Vilela chegariam ao ponto de rivalizar forças com os iristas de uma forma – superação política – ou de outra – envelhecimento natural de Iris. Ninguém imaginava porém que os dois fatores fossem ocorrer mais ou menos no mesmo momento político. Iris não tem mais o pique e disposição de outros tempos, como quando enfrentou e derrotou políticos poderosos, como Mauro Borges, Irapuan Costa Júnior, Henrique Santillo e Nion Albernaz. E seu apogeu como líder máximo e incontestável igualmente está em declínio.

O detonador

O ano de 2014 e tudo o que o cercou no PMDB goiano desencadeou, e de certa forma e em alguma medida, antecipou, esse processo interno. O desembarque nacional de Jr Friboi na seção goiana do PMDB como candidato ao governo do Estado, sem passar pelo crivo de Iris Rezende foi o detonador do tempo e do espaço que os Vilela tanto esperavam para enfrentar a hegemonia irista que os subjugou durante tantos anos. A chegada de Friboi foi percebida pelos adversários de Iris como uma senha libertadora. O então líder regional também sentiu que a situação era de alto risco, e resolveu enfrentar a parada nacional. Foi triturado, como se sabe.

Os vilela, desde então, e com total apoio do comando nacional, detém o poder no diretório estadual. Iris perdeu território, mas manteve seu principal bunker político, o diretório mais importante em nível municipal, o de Goiânia. E é exatamente dentro desse contexto que aparece essa disputa pela candidatura que será avalizada pelo PMDB para o governo do Estado. Do ponto de vista meramente de posicionamento, tanto faz politicamente se Daniel ou se Ronaldo encabeçar a chapa. Ambos são oposicionistas. Internamente, a história é outra. Se os Vilela abrirem mão para Caiado, vão permitir o retorno de Iris ao centro do comando. E Iris segue com Caiado como última tábua de salvação para sua derradeira réstia de poder interno. Se ele perder, ficará definitivamente sitiado e isolado em seu bunker. Se vencer, desfilará solenemente sobre a derrota de seus mais longevos adversários, os Vilela.