Ajuste fiscal e descalabros administrativos colocam o país frente a frente com uma depressão e escurecem ainda mais os horizontes de 2016

Afonso Lopes

Logo após o segundo turno das eleições, no final de outubro do ano passado, o governo federal começou a promover um rapidíssimo aumento da taxa referencial de juros. Em janeiro, já sob a batuta da nova equipe econômica após o fim da desastrosa temporada Guido Mantega, a taxa continuou em alta até bater em 14,25%. Se hoje esse patamar até parece razoável diante das incertezas dos rumos econômicos, a deterioração completa do equilíbrio nas contas do governo e inflação acima dos 10%, na época o quadro era outro. Não completamente diferente, mas diferente o suficiente para muitos entenderem que a dose do remédio dos juros altos era excessiva. Não deu outra.

Ao longo do ano, e na esteira de um desembolso extra de mais ou menos 80 bilhões de reais por conta do aumento nos juros básicos, a economia despencou de vez, e criou um efeito negativo em cadeia como se fosse um tsunami. Primeiramente, inibiu o crédito, paralisou o consumo, o que esfriou os negócios no varejo, que suspendeu e cancelou novas encomendas na indústria. A seguir, retornou novamente ao comércio, com redução no número de empregados, seguindo em direção aos empregos na indústria.

O temível ciclo da recessão econômica se completou. Com o aumento no desemprego, os saques no seguro desemprego ampliaram a necessidade de dinheiro nos cofres federais, e bagunçou ainda mais a contabilidade geral, afetando também, e dramaticamente, o caixa sempre instável da Previdência Social, além de ter provocado queda na arrecadação. Tudo junto e misturado, em um cenário francamente pessimista, os preços controlados — ou administrados, como preferem alguns — como combustíveis, luz e água, tiveram que subir muito mais rapidamente do que seria conveniente. Diante de tudo, o país quebrou.

Há quem garanta que o problema é apenas orçamentário, que dinheiro existe, sim. Mas existe mesmo? Não. Ao contrário. O que há é um enorme buraco, um déficit no caixa que soma mais de 50 bilhões de reais apenas este ano. Isso sem levar em conta as tais pedaladas fiscais do ano passado, que ainda não foram pagas. Nesse caso, o rombo sobe para quase 120 bilhões de reais. Dinheiro não há. O que existe é a manutenção permanente de um modelo de gestão que leva o governo a viver de oferecimento de títulos da divida em período integral. Ou seja, um aumento do volume de dívidas.

Esse número aí, 50 bilhões de déficit, parece meio mágico. No início desta análise, há um outro número: 80 bilhões de reais, que se refere ao aumento nas despesas do governo para pagar a alta nos juros da dívida. Um tem relação direta com o outro? Muitos economistas entendem que não, que não havia alternativa. Inúmeros outros especialistas acham que sim, que aquele aumento brutal e tão rápido nos juros foi o início da escalada rumo ao caos.

Independentemente de qualquer coisa, o governo federal anunciou corte de 10 bilhões de reais nas despesas deste mês de dezembro. Parte é calote puro e simples, como no caso dos aluguéis e contas de telefone e luz, e portanto insustentável ao longo do tempo. Outra parte é economia mesmo, como nas viagens, diárias e etc. e tal. Na quarta-feira, 2, com a aprovação de nova regra para as contas oficiais, com déficit de até 120 bilhões de reais, o governo diz que vai abandonar essa ideia de corte nas despesas.

E por aí se vê e atesta o descalabro que é a administração deste país sob o comando de Dilma Roussef. Se o véu que encobria a crise nas contas caiu logo após as eleições, ainda no ano passado, por que só agora, um ano depois, tenta-se fazer alguma economia em gastos perfeitamente adiáveis, como viagens e diárias? Mais do que isso, por que até hoje não se fala em dramática redução no número de altos servidores que se utilizam de cartões corporativos da Presidência da República? Aliás, quantos são esses cartões e quanto se gastou com eles neste ano em que a maioria esmagadora dos brasileiros fez tudo o que era possível para, pelo menos, se manter com a cabeça acima da linha d’água enquanto Brasília continuou esbanjando. Por que não se cortou ministérios e cargos de chefia que existem apenas para atender interesses pessoais e não nacionais?

O governo passou o ano todo disparando pedras de seu aparentemente infindável saco de maldades. Cortou direitos trabalhistas, negociou redução de salários em troca de manutenção de alguns empregos, praticamente acabou com o financiamento de moradias novas do Minha Casa, Minha Vida e acionou com força a tesoura dos cortes nos gastos gerais da saúde e educação, como no no Pronatec, a única joia de real grandeza exibida pelo governo Dilma em cinco anos de mandato.

Nada disso funcionou. O país está mergulhado em um atoleiro econômico sem precedentes na era do real. No trimestre passado, com queda de 1,7%, atingiu-se a inédita marca de um ano e meio de recessão. Já foram seis semestres consecutivos de queda na produção de riquezas, o que somou 5,8% de redução no PIB do país. O Brasil só está melhor do que sua parceira Venezuela, e não há previsão de superação a curto prazo. Nem aqui nem lá.

Caso se confirmem as previsões de recessão de quase 5 pontos apenas no último trimestre deste ano, surgem nuvens ainda mais escurecidas para o horizonte da “pátria amada, Brasil” em 2016. O país está frente a frente com uma depressão econômica, e com Dilma Roussef na condução de tudo, esse parece ser um destino inexorável. Se não houver imediata reação, será o triste fim de um sonho real para uma geração que se imaginava a caminho do Primeiro Mundo.