Obra de especialista em diplomacia e assuntos militares da América do Sul torna públicos os planos ambiciosos do almirantado brasileiro em incluir a armada do País entre as dez maiores potências navais do globo

Frederico Vitor

Capa As garras do cisne V3 DS.indd
Roberto Lopes desvenda ambição da Marinha do Brasil em se tornar 9ª potência naval do mundo

“Esquadras evidenciam o real po­der de combate do Estado.” Es­ta frase foi dita pelo almirante Sergei Georgievich Gorshkov (1910-1988), criador da moderna Marinha soviética. Com esta citação se inicia o ca­pítulo introdutória do livro “As garras do Cisne”, do jornalista investigativo Roberto Lopes. O autor, que passou pela Revista Veja, Jornal do Brasil, Folha de S. Paulo e Revista Época, é graduado em gestão e planejamento de defesa pelo Centro de Estudos de Defesa Hemisférica da Univer­si­dade de Defesa Nacional dos Estados Unidos e se especializou em diplomacia e assuntos militares da América do Sul.

A obra de 500 páginas da editora Record detalha precisamente os planos ambiciosos do almirantado brasileiro em transformar a Força Naval brasileira na 9ª mais preparada e poderosa do mundo, atrás apenas das armadas de Estados Unidos, Rússia, China, Inglaterra, França, Índia, Coreia do Sul e Japão. Para que o leitor tenha uma dimensão do que está em jogo, isto é, os motivos para que o governo brasileiro venha a destinar bilhões de dólares ao monumental programa de reaparelhamento e aquisição de modernos barcos de guerra e de submarinos nucleares, o autor narra em suas primeiras páginas a inusitada história de um taxista de Moscou que conheceu o litoral do País às sombras das autoridades brasileiras.

O caso diz respeito ao ex-conselheiro da embaixada brasileira na União Soviética, Murillo de Carvalho, que em 1990, ao desembarcar na capital russa — onde tinha um pequeno escritório —, apanhou um táxi no qual o motorista, um tagarela cinquentão de pele e olhos claros, abriu um longo sorriso e logo confessou que conhecia as praias do Brasil, ao descobrir que o passageiro se tratava de um brasileiro, porém, o fato não pareceria normal pelas circunstâncias em que o russo esteve na costa ensolarada do País: a bordo de um submarino soviético que espionava o litoral do gigante sul-americano, em missões pelo Atlântico, durante os anos da Guerra Fria.

“Por questão de delicadeza, o brasileiro perguntou quais praias o russo havia conhecido: as do Nordeste? Da Bahia?

— Ah não, não. Eu nuca pu­de frequentar nenhuma praia do Brasil — apressou em esclarecer.

— Mas explico — atalhou o taxista. — É que fui comandante de submarino na Marinha Soviética. E muitas vezes fomos ao litoral do Brasil para fazer reconhecimento, tirar fotografia, essas coisas. O Senhor sabe…”

Fatos como este evidenciam a preocupação dos chefes navais brasileiros em como guarnecer uma costa que se estende por 7.367 quilômetros pelo Oceano Atlântico. Os almirantes da Marinha do Brasil já começaram a empreender um monumental programa de fortalecimento da Força Naval, com o objetivo de desestimular qualquer assédio estrangeiro aos 4,5 milhões de quilômetros quadrados de águas jurisdicionais, que abriga um subsolo ma­rinho de amplas jazidas mi­ne­rais e uma fauna rica, atraente por seu alto valor econômico.

A Marinha do Brasil planeja navegar, no século 21, como a legítima guardiã do pré-sal, que vai contar com uma força combativa a altura do desafio. Para que isso ocorra, quatro objetivos básicos serão perseguidos pelo Poder Naval nos próximos 30 anos: o controle da área marítima, a negação do uso do mar ao inimigo, a projeção de Poder (fuzileiros navais) sobre a terra e a contribuição efetiva ao aparato dissuasório da nação.

Os monumentais investimentos na armada fazem parte do afã do governo brasileiro em legitimar seu papel político e militar de liderança regional com perspectivas de influência global. Fatores para isso não faltam. Com cerca de 200 milhões de habitantes, o País já contabiliza quase metade da produção econômica da América Latina e possui o maior contingente militar da região: 320 mil tropas ativas em armas. Um País que tem organizações como a Embraer (terceira maior fabricante mundial de aviões comerciais) e Petrobrás, concentra também a maior reserva mundial de nióbio e o sexto mais importante estoque de urânio do mundo. Do mesmo modo que o Brasil é reconhecido por sua gigantesca produção de grãos e de carnes, também é notabilizado por ser um dos centros mais criativos na elaboração de softwares.

Como parte do planejamento de fortalecimento da Marinha do Brasil, está previsto a incorporação à frota nacional, pelas próximas décadas, de seis submarinos nucleares, 15 convencionais (de propulsão diesel-elétrica), dois porta-aviões, quatro navios de propósitos múltiplos (naves de desembarque de fuzileiros navais e dotados de convés de voo para helicópteros), 30 navios de escolta e 18 navios-patrulha oceânicos. Também está prevista a aquisição de 40 caças interceptadores de alta performance além de dezenas de helicópteros de guerra antissubmarina.

O autor mostra que “os interesses marítimos do Brasil cresceram de uma forma completamente inesperada desde a descoberta da vasta província do pré-sal.” Segundo ele, desde 2008, a Marinha brasileira começou o reaparelhamento da sua tropa de infantaria e da sua aviação devido “à preocupação do governo com a segurança do pré-sal, das jazidas minerais existentes no leito do Atlântico Sul e do projeto de impulsionar a indústria da pesca no país”.

Fatores geopolíticos

“As Garras do Cisne” também aprofunda nas questões geopolíticas em que o Brasil está envolvido. O autor presenteia o leitor com trechos de documentos com as análises de especialistas sobre a América do Sul, ligado ao governo americano sobre o crescimento do Brasil como potência regional. Os analistas de Washington também destacam a possibilidade real, no curto prazo, do País tornar-se um player global que vai implicar na obrigatória consulta prévia de Brasília, antes de qualquer decisão importante a ser tomada em relação aos rumos do mundo e da política internacional.

Roberto Lopes também dá atenção especial ao cenário geopolítico e militar sul-americano. Enquanto a armada argentina — outrora a mais prestigiada e temida marinha de guerra da região, antes do conflito das Malvinas —, se agoniza em um espiral de decadência e sucateamento por falta de recursos, as forças navais de Chile e Colômbia navegam em navios modernos com armamentos de ponta, auxiliados pelos Estados Unidos. Até mesmo a força naval bolivariana da Venezuela tem recebido atenção especial de seus dirigentes. O autor revela que os chavistas pretendem buscar na indústria bélica da China ou Rússia, modernos submarinos e navios, além de anabolizar sua infantaria naval com uma aviação formada de helicópteros chineses de ataque.

Outra questão levantada pelo autor é a insistente negativa dos chefes navais em abordar o delicado assunto acerca da criação de uma guarda costeira. O livro é muito incisivo nesse assunto, porque o autor é convencido de que os prejuízos à segurança pública causados pela ausência de uma guarda costeira são enormes. Atualmente, existem quadrilhas que agem especificamente no litoral, desembarcando todo o tipo de contrabando, de radinho de pilha à lança-foguetes, além de assaltarem condomínios de luxo em balneários destinados a turistas.

Esses grupos armados também vêm se especializando em invasão de navios mercantes estrangeiros que se consideram protegidos por estarem atracados em portos brasileiros. Contra todas essas atividades criminosas, o que se tem são algumas lanchas da Polícia das Capitanias Navais e a Ala Marítima da Polícia Federal, que é completamente incapaz de prevenir crimes nas zonas costeiras do Brasil.

Pré-sal impulsiona o reaparelhamento da Marinha do Brasil

Castigada pelos parcos recursos destinados à área da defesa nos últimos anos, principalmente no período entre 1985 e 2000, atualmente a Marinha do Brasil é considerada pelo autor como a 20ª mais poderosa do mundo. A Força Naval brasileira é superada por esquadras infladas, nos últimos 30 anos, pelo apoio generoso dos Estados Unidos, caso de Taiwan, Tailândia, Indonésia, Austrália e Arábia Saudita — o reino árabe é a mais recente potência naval coadjuvante do poderio bélico americano.

Corveta brasileira da classe Barroso: base industrial do País será aproveitado na construção de navios modernos
Corveta brasileira da classe Barroso: base industrial do País será aproveitado na construção de navios modernos

Mas os ventos que sopravam o veleiro de guerra brasileiro para águas revoltas tomaram novo curso, em direção a mares favoráveis, graças à descoberta das gigantescas reservas de petróleo no subsolo do mar territorial brasileiro, conhecido como pré-sal. Técnicos da Petrobras identificaram e delimitaram um novo país de 149 mil quilômetros quadrados de área — maior do que Dinamarca, Holanda e Suíça juntas —, cujas fronteiras e riquezas também cabem ao governo brasileiro guarnecer.

Foi esse território aquático que levou a administração do ex-presidente Lula (PT) a reativar, em 2006, as pesquisas nucleares conduzidas pela Marinha e o programa de desenvolvimento do submarino nuclear brasileiro — dois projetos ambiciosos e trabalhosos ao extremo. Graças à preocupação do governo com a segurança do pré-sal, das jazidas minerais existentes no leito do Atlântico Sul e do projeto de reimpulsionar a indústria da pesca no País, o programa de expansão da armada brasileira ganhou prioridade na agenda dos governantes. Uma preocupação que abre a Marinha a possibilidade de se tornar numa força naval de intervenção global, posicionando-se entre as dez mais poderosas do mundo.

Base industrial

Mas este gigantesco projeto de aquisição de barcos de guerra não será apenas uma compra de prateleira. Há o esforço das autoridades civis e militares em aproveitar a base industrial do País para o fornecimento dos futuros meios navais. O maior legado desta diretriz será a incorporação à esquadra brasileira, de um submarino movido à energia nuclear, obtido mediante aos esforços de engenheiros e pesquisadores brasileiros. Desde modo o Brasil será o sétimo integrante do seleto grupo de países que possuem submersíveis movidos por reatores atômicos — Estados Unidos, Rússia, China, França, Inglaterra e Índia.

Poder Naval do Brasil em 2047 será de 103 navios, 64 aviões e 56 helicópteros que vais custar R$ 175 bilhões
Poder Naval do Brasil em 2047 será de 103 navios, 64 aviões e 56 helicópteros que vais custar R$ 175 bilhões

A base industrial do Brasil também seria aproveitada na construção de modernos submersíveis convencionais, corvetas porta-mísseis, navios-patrulha de diferentes tonelagens, helicópteros de combate, barcos para levantamentos hidrográficos e para assistência hospitalar, embarcações de desembarque de fuzileiros navais e lanchas.

Segundo o autor, tal capacidade, aliada aos programas de aquisição de fragatas, corvetas, porta-aviões, submarinos, helicópteros e aviões deve levar a esquadra brasileira, em menos de 20 anos, à condição de potência naval regional, comparável à condição de outras marinhas de imensa capacidade bélica, como as da Índia, da Coreia do Sul e do Japão. Roberto Lopes garante: não se trata de resultados em horizontes longínquos, arriscados a se perderem nas brumas de insensibilidade e da burocracia dos políticos.

São esses os projetos na pauta da Marinha do Brasil: Programa Nu­clear da Marinha (PNM), Programa de Desenvolvimento de Subma­rinos (Prosub), Programa de Obten­ção de Meios de Superfície (Pro­super), Sistema de Gerencia­mento da Amazônia Azul (SisGaAAz), Programa de Obtenção de Navios-Aérodromos (ProNAE), Programa de Obtenção de Navios Anfíbios (ProNanf), Programa de Constru­ção de 20 navios-patrulha de 500 toneladas e o Programa de Construção de corvetas classe Barroso Modificada. Porém, para que o megaprojeto naval torne-se uma realidade, haverá um custo exorbitante para o tesouro da União.

O autor lembra que em 2011, durante o painel “Pré-Sal: Papel das Forças Armadas na defesa do patrimônio e alocação de recursos para essa finalidade”, promovida pela Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional do Senado, o então chefe do Estado-Maior da Armada, almirante de esquadra Luiz Hum­berto de Mendonça, revelou que o fortalecimento do poder naval brasileiro exigirá, até 2030, investimentos monumentais, da ordem de 223 bilhões de reais. O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), por exemplo, ofereceu financiar as próximas construções de navios.

Segundo as projeções da Ma­ri­nha, somente a chamada Constru­ção do Núcleo do Poder Naval, que é a obtenção de uma ordem de batalha de 103 navios (incluindo submarinos), 64 aviões e 56 helicópteros, consumirá, até o ano de 2047, o montante de R$ 175 bilhões de reais. Entretanto, os chefes navais alegam que o tesouro marítimo brasileiro a ser protegido é igualmente valioso. E seus dados mais preciosos ainda. Porém, esses dados são confidenciais e pouco se sabe da riqueza marinha escondida nas profundezas dos mares que banham o Brasil.

Jacques Chirac, a “fada” de Lula

O autor, todavia, esclarece que o pré-sal não foi o único incentivador do governo para investir, a fundos perdidos, bilhões de dólares na área de defesa. Entre os anos de 2006 e 2007, o então presidente Lula foi despertado pelo seu colega, o ex-presidente da França, Jacques René Chirac, para o valor político de um país que pode contar com sua força militar. O chefe de Estado francês foi uma espécie de “fada” de Lula para seu reposicionamento em relação à área de defesa do Brasil.

r3O titular do Palácio do Eliseu — sede do Executivo francês — conquistou a admiração de Lula ao se opor à invasão americana no Iraque, ocorrida em 2003. O chefe de Estado da França, que na juventude entrou como clandestino nos Estados Unidos, tornou-se um dos maiores críticos da ação militar sustentada pelo colega americano George W. Bush. Numa conversa com Chirac, o presidente brasileiro ouviu do líder gaulês que não apenas a tropa — seus tanques, navios, submarinos e aviões — agregava respeitabilidade a uma nação, mas uma forte indústria de armamentos adequadamente inserida no comércio internacional podia constituir-se em um apreciável instrumento de poder.

Graças aos conselhos fornecidos pelo presidente de um país com tradição mais de que centenária no fornecimento de armamentos, Lula decidiu iniciar seu segundo mandato interessando-se mais pelas reivindicações das Forças Armadas e examinando com maior boa vontade as medidas de estímulos à indústria brasileira de material de defesa. Tal parque industrial foi muito conceituado durante os anos de Regime Militar, mas, no fim dos anos 1980 e início da década seguinte, passou por péssimos períodos, marcados pela concordata da fabricante de foguetes Avibras e o esgotamento financeiro da montadora de veículos blindados Engesa.

Para inaugurar seu comprometimento com as demandas militares, Lula iniciou o mais ambicioso programa militar em curso no Hemis­fério Sul: o desenvolvimento, a construção e a entrada em operação de um submarino atômico totalmente constituído no Brasil.

Força de submarinos da Marinha será a mais poderosa do Hemisfério Sul

A Marinha do Brasil possui navios submersíveis em seu inventário desde 1914, o que coloca a força brasileira de submarinos entre as mais antigas e tradicionais do mundo. Atualmente, a armada brasileira opera cinco submarinos convencionais impulsionados por motores diesel-elétricos: Tupi (S-30), Tamoio (S-31), Timbira (S-32), o Tapajó (S-33) e o Tikuna (S-34). Os quatro primeiros são da classe Tupi e o último da classe Tikuna, todos derivados do submarino alemão U-209.

Almirantes brasileiros projetam uma frota de seis submarinos nucleares para a Marinha do Brasil, que daria ao País poder inigualável no Hemisfério Sul
Almirantes brasileiros projetam uma frota de seis submarinos nucleares para a Marinha do Brasil, que daria ao País poder inigualável no Hemisfério Sul

Considerando a vastidão do Atlântico Sul e a magnitude dos interesses nacionais neste mar, a Força Naval constatou desde muito tempo que não basta apenas ter posse de submarinos convencionais, era necessário dispor submarinos nucleares para ter poder compatível à missão de proteger os mares brasileiros. Afinal de contas, o que torna essa máquina tão especial a ponto de se tornar a maior ambição militar brasileira de todos os tempos?

Há duas categorias distintas de submarinos: os convencionais e os nucleares. No primeiro, a fonte de energia é o óleo diesel, combustível que faz funcionar os conjuntos de motores e geradores elétricos. Nos nucleares, a fonte de energia é um reator atômico, cujo calor gerado vaporiza água, possibilitando o emprego desse vapor em turbinas. Nos submersíveis convencionais, a capacidade de ocultação tem que ser periodicamente quebrada, uma vez que necessitam, a intervalos, recarregar as baterias. Nessas horas, em função das partes expostas acima d´água tornam-se vulneráveis, podendo ser detectados por radares de aeronaves ou navios.

Senhor dos mares

Diferentemente dos submarinos convencionais, os nucleares dispõem de elevada mobilidade. Por possuírem fonte virtualmente inesgotável de energia podem desenvolver velocidades acima de 40 quilômetros por hora — algo inimaginável as tripulações dos submersíveis de motores diesel-elétrico. Em termos práticos, a energia nuclear assegura ao submarino atômico vitalidade para patrulhas ininterruptas de até 180 dias. Como disse o comandante da Marinha do Brasil, almirante Julio Soares de Moura Neto, em artigo assinado em 2009 e publicado no site DefesaNet Agência de Notícias: o submarino nuclear é simplesmente o “senhor dos mares”.

Está em curso o Programa de Desenvolvimento de Submarinos (Prosub), que é o maior contrato militar internacional jamais assumido pelo Brasil, envolvendo uma soma de R$ 20 bilhões. Ele deve empregar nove mil trabalhadores e gerar 32 mil postos de trabalho indiretos. Parte desses recursos vem sendo obtida de um financiamento que será pago pelo Brasil em 20 anos, ou seja, até 2029, a um consórcio formado pelos bancos BNP Paribas, Societé Generale, Calyon Credit Industries et Commercial, Natixis e Santander. Atualmente, estão em construção no município de Itaguaí, no litoral fluminense, um complexo de bases e instalações fabris de 540 mil metros quadrados, onde serão fabricados os 15 submarinos convencionais e os seis nucleares, até 2047, como previsto pelo projeto.

Os submarinos convencionais selecionados para serem fabricados no Brasil fora o da classe francesa Scorpène (peixe-escorpião), sendo que o primeiro dos 15 a ganhar forma, o “S-40 Riachuelo”, encontra-se atualmente com 45% de suas construções já prontas em Itaguaí. Esses submersíveis medem 71 metros de comprimento e poderão operar em profundidades próximas a 400 metros. Para diminuir a chance de ser detectado, seu casco é produzido de forma a gerar uma baixa assinatura nas emissões por sonar.

Ao entrar em serviço na esquadra brasileira, os Scorpène vão dispor, pela primeira vez na Marinha do Brasil, além da aptidão de desfechar torpedos e de semear minas aquáticas, a capacidade de disparar mísseis Excocet — arma antinavio de construção francesa, cujo nome significa “peixe voador.” O artefato poderá ser disparado de qualquer um dos tubos lança-torpedos da embarcação e, perto da superfície, uma cápsula se abre liberando o míssil, que tem alcance de até 72 quilômetros, para um voo de 1.100 km/h até o alvo.

Arma máxima

O primeiro dos seis submarinos nucleares a serem incorporados à esquadra já tem nome: SN-10 Álvaro Alberto — uma homenagem ao almirante que foi pioneiro no desenvolvimento de pesquisas nucleares no Brasil. O livro revela que a arma mais poderosa do arsenal de guerra brasileiro será um gigante de aproximadamente 100 metros de comprimento, 10 metros de diâmetro e seis mil toneladas de deslocamento. Um quebra cabeça de 900 mil peças, capaz de disparar torpedos de alto desempenho e dupla letalidade contra alvos de superfícies e submarinos, além de lançar mísseis de emprego tático de curto alcance — que podem atingir alvos localizados a 300 quilômetros de distância.

O Brasil já teria investido R$ 10,3 bilhões no Álvaro Alberto e, sua conclusão significará outros R$ 11 bilhões. O submarino será operado por aproximadamente 100 oficiais e sargentos especialistas, selecionados entre os melhores quadros da Força Naval brasileira, que demonstrarem maior aptidão para suportar longos períodos de confinamento, longe de casa e de suas famílias. A Marinha, inclusive, já estuda a possibilidade destes marinheiros terem um soldo (salário dos militares) maior, seguro e benefícios para familiares. O navio, que será a expressão máxima do poder do País deve ganhar os verdes mares brasileiros em 2023.

Obtenção de navios-anfíbios, porta-aviões e aviões de combate está na mira da Marinha

Roberto Lopes relata que tão importante quanto os novos submarinos, convencionais e nucleares, ou a renovação da frota de fragatas e corvetas, os chefes navais têm conferido a devida atenção ao Programa de Obtenção de Navios-Anfíbios, o chamado ProAnf. O que seria este tipo de embarcação? Trata-se de um navio grande empregado no desembarque e apoio a forças terrestres através de um assalto anfíbio ao território inimigo. Do­tado de um convés de voo, o que faz parecer com um porta-aviões, o barco também pode transportar embarcações de desembarque e veículos blindados.

Marinha do Brasil tem longa tradição em operar de porta-aviões como o A-12 São Paulo. Projeto prevê incoporação de mais dois novos navios do tipo
Marinha do Brasil tem longa tradição em operar de porta-aviões como o A-12 São Paulo. Projeto prevê incoporação de mais dois novos navios do tipo

Também conhecidos pelo meio militar de navios de propósito múltiplo, além de serem empregados em desembarque anfíbios, projetando tropas de fuzileiros navais em território inimigo, podem operar aeronaves — helicópteros — e abrigar um grupo de comando e controle. Os planos da Marinha do Brasil são de incorporar até quatro navios do tipo até 2020.

Porta-aviões

O autor lembra que a Marinha vem operando porta-aviões desde 1961, o que assegura à armada brasileira alguma proeminência em âmbito regional — ainda que nem sempre isso tenha suscitado respeitabilidade e admiração. Atualmente, a Força Naval atua com apenas uma unidade deste tipo de embarcação, que é o São Paulo (A-12), comprado da França e incorporado à esquadra brasileira no ano 2000. Está nos planos dos almirantes brasileiros a obtenção de dois novos navios-aeródromo — um para substituir o atual São Paulo na esquadra sediada no Rio de Janeiro, e outro destinado à 2ª Esquadra a ser criada no litoral do Maranhão. As belonaves teriam seus planos encomendados junto a um escritório estrangeiro de projetos navais e construídos num estaleiro brasileiro.

Navios de propósito múltiplo são essenciais ao apoio de fuzileiros navais
Navios de propósito múltiplo são essenciais ao apoio de fuzileiros navais

Mas nada adiantaria ter dois porta-aviões se não houver aeronaves em seu convés de voo. Apesar de a aviação naval contar atualmente com 23 caças A-4 Skyhawk — fabricação americana, mas comprados dos estoques do Kuwait, sendo que apenas 12 estariam operacionais —, estão nos planos da Marinha a aquisição de pelo menos 40 novas aeronaves de combate de alto desempenho.

O modelo do caça ainda não foi definido, mas há uma predisposição dos chefes navais em adotar o mesmo tipo selecionado pela Força Aérea Brasileira (FAB) na licitação FX-2, vencida pelo Saab Gripen da Suécia, para o fornecimento de 36 unidades a fim de equipar o 1ª Grupo de Defesa Aérea (GDA) sediado em Anápolis-GO. O supersônico escandinavo, todavia, ainda não tem uma versão naval, mas os suecos já divulgaram que está em curso o desenvolvimento do modelo com capacidade de ser operado em navios-aeródromo.

Marinha terá, até 2020, a frota do Norte

Atualmente, cerca de 78% dos recursos humanos da Marinha estão concentrados no Rio de Janeiro, mas essa porcentagem começará a cair significativamente dentro de 10 anos. É que a Força Naval, em breve, vai dar início às obras das novas instalações que vão abrigar a 2ª Esquadra, que estará sediada na região do terminal marítimo da ponta da Espera, na baía de São Marcos, litoral do Maranhão. A escolha do lo­cal pela Marinha levou em consideração as facilidades portuárias, ou seja, condições de navegabilidade, variação de marés, águas calmas e resguardadas.

estrangeiAté 2020 Marinha do Brasil deverá inaugurar sua 2ª Esquadra que vai navegar nos mares calmos do Maranhão
Até 2020 Marinha do Brasil deverá inaugurar sua 2ª Esquadra que vai navegar nos mares calmos do Maranhão

Todos esses parâmetros foram considerados favoráveis para atender a uma exigência básica dos almirantes: a possibilidade de suas embarcações operarem no local 24 horas por dia. A nova frota localizada no litoral Norte do Brasil vai exigir a ampliação do efetivo da Marinha do Brasil. Atualmente, a armada brasileira conta com um quadro de 60 mil homens e mulheres. Até 2020 este conjunto de pessoal vai cruzar, facilmente, a casa dos 100 servidores militares e civis.

A decisão de posicionar uma segunda frota na região Nor­deste, ou seja, uma esquadra completa dotada de porta-aviões, fragatas, corvetas, submarinos, navios-anfíbios, aviões, helicópteros e batalhão de fuzileiros navais vai ao encontro do pensamento do historiador Francisco Carlos Teixeira da Silva, que segundo o autor, preconizou a seguinte situação: “Uma ameaça bélica, de caráter letal, viria necessariamente de potências mais fortes que o Brasil através do Oceano Atlântico. O modelo de ação britânica na Guerra das Malvinas, em 1982, é muito possivelmente a forma padrão como agiria uma força-tarefa estrangeira, de um ou de mais países.”