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Iris Rezende, base aliada e PT não sinalizam em relação a possíveis nomes e estratégias para a sucessão de Paulo Garcia

Afonso Lopes

No calendário gregoriano, ainda falta um tempão para a realização das convenções partidárias que indicarão oficialmente os candidatos a prefeito. Mas no calendário político, um ano não é tanta coisa assim. Geralmente, nesta altura do campeonato sucessório, os partidos iniciam um processo interno de ebulição para ao menos conseguir delinear a melhor estratégia a ser adotada e, mais do que isso, afunilar naturalmente seus nomes mais competitivos. Desta vez, a coisa parece estar muito mais enrolada.

No PMDB, a única certeza de momento é o rompimento da aliança com o PT. Nada além disso. Muitos peemedebistas garantem que a principal referência eleitoral do partido, Iris Rezende, vai mesmo disputar a Prefeitura de Goiânia mais uma vez. Só que ele próprio evita falar sobre o assunto. Se isso fosse somente uma estratégia para confundir os adversários, não haveria nada de errado. Mas na intimidade, tem peemedebista que começa a levar em conta a possibilidade de que Iris pode realmente não ser candidato a prefeito.

Base aliada

A base aliada estadual, como sempre ocorre nas eleições de Goiânia, é o autêntico império de Babel. O grupo, tão fortemente unida nas eleições para governador desde 1998, jamais conseguiu lançar um só candidato nas últimas quatro eleições. A última vez que a união total foi alcançada foi em 1996, e resultou na vitória do tucano Nion Albernaz. Depois disso, ora lança dois candidatos, ora vai logo com três franco-atiradores. E o resultado é sempre e invariavelmente o mesmo, a derrota.

A base também não abriu debate sobre a estratégia a ser adotada nas eleições goianienses do ano que vem. A impressão que se tem é que essas questões vão ser adiadas o máximo possível para evitar que o caldeirão sucessório ferva, e a união se torne inevitável. Pode ser que desta vez as coisas funcionem bem, mas é ainda pouco provável que se consiga unir tantos interesses da enorme base aliada.

A diferença do que acontece na disputa estadual e nas eleições de Goiânia é Marconi Perillo. Em todas as preparações estaduais, a base ensaia lançamento de candidaturas independentes, discute bastante, faz algum barulho, mas acaba sendo a­traída para o centro exatamente por causa da liderança exercida por Marconi. No caso de Goiânia, não existe uma figura com essa qualidade, e então a Torre de Babel se instala. E com ela, o desastre eleitoral.

No início do ano, chegou-se a imaginar e sonhar que o curso dos acontecimentos poderia ser diferente desta vez. O presidente da Agetop, Jayme Rincón, um perfil que se encaixa com perfeição no sonho de consumo do eleitor goianiense, de um eficiente e criativo gerente administrativo, mal colocou seu nome acima da linha d’água e o bombardeio amigo começou.

Do ponto de vista político-eleitoral, o melhor seria abrir discussões sobre Jayme no interior da base até como força de dar a ele e ao grupo a possibilidade de se medir realmente até onde sua candidatura é mesmo viável. No papel, e diante das pesquisas qualitativas, não há nenhuma dúvida de sua viabilidade como candidato com enorme potencial. O problema está exatamente em saber avaliar se a teoria poderia funcionar na prática. Ao não permitir a abertura das discussões e do trabalho de campo, a base aliada perde um dos seus trunfos mais interessantes.

Jayme é, sim, o nome com potencial mais expressivo. Tanto no que se refere ao perfil administrativo, que anda em baixa na capital e por isso se tornou objeto de desejo do cidadão goianiense, como também do ponto de vista do debate político. Na base, durante os piores e mais difíceis momentos de assédio dos adversários, ele foi inúmeras vezes a única voz a ser ouvida na intransigente defesa do governo e do governador Marconi Perillo. Contra-atacou com eficiência críticas de petistas e do próprio Iris. Ao mesmo tempo, é unanimidade dentro do Palácio das Esmeraldas que ele foi, e é, um dos fatores administrativos que mais contribuíram para o êxito de popularidade do próprio Marconi. Levando-se tudo isso em conta, por que não se permitir que seu nome seja colocado na vitrine da base como uma de suas boas atrações?

A resposta para essa pergunta pode estar na intensa disputa que existe na base aliada na busca incessante pela segunda maior força. Hoje, PSD, PTB e PP se rivalizam nessa posição. Se os três partidos superassem inclusive questões pessoais, e especialmente vaidades exacerbadas, talvez juntos conseguissem protagonizar inclusive para selar a união interna também no PSDB. Mas não.

O problema está também no PSDB. Quando o nome de Rincón foi colocado no mercado para ser avaliado, ninguém se preocupou em avaliar coisa alguma, mas acionou o gatilho sem nada perguntar antes. Do ponto de vista direto da eleição, e mais do que isso, de uma difícil caminhada até a vitória, esse é o pior dos mundos. Fora o fato de que o partido, graças à força da liderança do governador Marconi Perillo tanto interna como externamente, ganhou relevância inclusive entre os seus melhores nomes eleitorais, como os deputados Delegado Waldir Soares, Fábio Souza, João Campos e Giuseppe Vecci. Qualquer um deles tem força para ser candidato a prefeito de Goiânia, mas nenhum deles consegue se apresentar com perfil administrativo tão forte quanto o de Rincón. O mais razoável, portanto, seria o PSDB discutir internamente como compor essas forças para entrar na disputa com chances minimamente seguras de vitória.

Ainda pela base, embora numa falange dela, há o nome do empresário Vanderlan Cardoso, do PSB, que estaria disposto a entrar pra valer na disputa pela prefeitura. Caso a base aliada decida pela multicandidatura, ele só não será candidato, e com anuência também do Palácio das Esmeraldas, se não quiser. Vanderlan evoluiu politicamente do ponto de vista partidário.

Ele aprendeu, após os insucessos na disputa pelo governo estadual em 2010 e em 2014, que andorinha que voa sozinha nem verão consegue fazer. Vanderlan talvez ainda não tenha cacife eleitoral suficiente para enfrentar um Iris Rezende mano-a-mano, mas como nome alternativo dentro da base, as chances dele correr por fora passam a ser reais. Até porque com o apoio de Marconi, a sua coligação não será, como tem sido, insignificante.

Enfim, boas perspectivas rondam a base aliada na corrida para suceder Paulo Garcia em Goiânia. Até pelo desânimo geral de grande parte do eleitorado com o desempenho dos governos petistas. É a terceira vez que o PT vence as eleições na capital, com Darci Accorsi, em 1992, e Pedro Wilson, em 2000, além de Paulo em 2012. Até hoje, o PT jamais conseguiu emplacar um sucessor. Isso também pesa.

Portanto, faltando um ano para as convenções partidárias que vão definir os candidatos a prefeito, a disputa parece que será entre o PMDB, desde que Iris Rezende seja o candidato, e a base aliada. Aos petistas resta a esperança de encontrar alguém que levante uma bandeira que empolgue imediatamente o eleitorado. Há tempo para isso, mas ele é muito curto. Os adversários do PT, tanto o PMDB como a base aliada, estão oferecendo essa chance aos petistas ao empurrar as pré-definições de seus candidatos para mais pra frente. Isso abre um vácuo político-eleitoral evidente, e que já poderia estar sendo ocupado por algum nome do PT. É a única chance.