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Em seu escritório particular, o líder peemedebista mantém reuniões e repete roteiro que sempre seguiu como pré-candidato

Afonso Lopes

Para o PMDB e seus possíveis aliados, a constatação de que Iris Rezende tem seguido o mesmo roteiro de todas as vezes que foi candidato a algum cargo público é uma ótima notícia. Iris não é apenas o único grande nome do partido como sempre aparece muito bem em todas as pesquisas de opinião. Além disso, ele é igualmente o único que poderá unir de alguma forma o PT, do prefeito Paulo Garcia, com o DEM, do senador Ronaldo Caiado, embora não como integrantes diretos da mesma coligação ou chapa majoritária.

Para a base aliada estadual, se confirmada a candidatura de Iris e, mais do que isso, se ele conseguir unir todos em torno dele, a notícia é a pior possível. Sem Iris, o candidato oficial da base tenderia a se tornar o centro das atenções dos eleitores goianienses. Com ele na parada, essa atenção vai obviamente migrar para o peemedebista. No mínimo, será dividida.

Rotina

O modus operandi de Iris Rezende é bastante conhecido quando ele se prepara para se lançar candidato. Inicial-mente, ele se mantém fechado em seu escritório, onde recebe diariamente peemedebistas e demais políticos. Nesta fase, Iris costuma aparecer muito pouco para o grande público, se restringindo a uma ou outra entrevista rápida de vez em quando. Em outros tempos, ele passava o dia praticamente grudado no telefone, disparando ligações para uma lista quase interminável de lideranças. Hoje em dia esse tipo de contato tem sido bem menos frequente.

Outro sinal de rotina de pré-candidato se verifica ao se observar o comportamento de alguns de seus correligionários mais próximos. Enquanto Iris nunca admite que vai disputar o cargo, esses iristas não perdem uma só oportunidade para garantir que será ele o representante do PMDB na eleição. Esse jogo de esconde-e-mostra, que também ocorre neste momento, vai se estender até meados do ano que vem, quando então Iris deverá anunciar o que pretende fazer. Ou seja, se nada muito sério ocorrer até lá, o líder peemedebista tentará mais uma vez ser prefeito de Goiânia.

Desgaste
Mesmo tendo um enorme patrimônio eleitoral na capital do Estado, a candidatura de Iris no ano que vem apresenta alguns riscos. Em primeiro lugar, ao contrário do que ocorreu em outras eleições, ele pode começar na segunda e não na primeira posição. Especialmente se o deputado federal Delegado Waldir conseguir viabilizar sua candidatura pelo PSDB. Em pesquisas internas, Waldir sempre tem surgido com bastante força, especialmente na faixa do eleitorado onde Iris sempre reinou absoluto.

Um outro ponto de desgaste ainda não pode ser exatamente dimensionado. O apoio e empenho dele na eleição do prefeito Paulo Garcia em 2012 terá um custo. Paulo não conseguiu fazer seu governo realmente deslanchar, embora tenha se recuperado bastante. Esse custo eleitoral para Iris dependerá diretamente da avaliação do eleitor nesta reta final do mandato do prefeito. Quanto mais Paulo Garcia se recuperar, menor será esse custo.

Há ainda um fator de risco difícil de ser mensurado. Iris tem se tornado “arroz de festa” nas eleições. Em 2002, ele disputou e perdeu para o Senado. Em 2004, se elegeu prefeito de Goiânia. Quatro anos mais tarde, em 2008, foi reeleito com quase 80% dos votos válidos, mas apenas dois anos depois ele estava fora da Prefeitura para disputar e perder o governo do Estado. Em 2014, voltou a disputar e perder para governador. Se confirmada sua candidatura no ano que vem, será a sexta vez em 14 anos.

Se existem riscos para Iris Rezende, na base aliada estadual a situação ainda é bastante nebulosa. O nome com maior densidade inicial é do deputado federal Delegado Waldir Soares, do PSDB. Interna­mente, algumas pesquisas de sondagem junto ao eleitor goianiense mostram que ele chega a liderar, inclusive quando confrontado diretamente com Iris Rezende. É uma baita vantagem, mas não significa nada além de perspectiva futura que poderá ou não se confirmar durante uma campanha.

Há também um outro aspecto a ser levado em conta. Waldir é ainda uma incógnita quanto à sua capacidade de debater temas variados, especialmente os mais problemáticos e que exigem soluções complicadas. Ele tanto poderá surpreender pela desenvoltura com que debaterá tais temas como pode se revelar uma decepção. De qualquer forma, há um ponto extremamente positivo em Waldir enquanto pré-candidato: ele está realmente determinado. Como se costuma falar, ele tem se apresentado com o “olhar do tigre”, e candidatos com esse olhar só perdem eleição para adversário que tenha essa mesma característica.

Waldir também terá que passar por um processo de migração de sua imagem, hoje fortemente tematizada no combate à violência e à bandidagem. Não é um processo fácil, e requer bastante sutileza para não gerar a impressão de artificialidade. Talvez o melhor caminho para ele é a prestação de serviço que a prefeitura tem obrigação de oferecer aos cidadãos — esse, por sinal, é um dos pontos mais frágeis da imagem de Iris Rezende, muito mais afeita ao gerente tocador de obras.

No próprio PSDB há outros nomes. O principal deles é o do presidente da Agetop e principal ponta-de-lança do governo Marconi Perillo, Jayme Rincón. Ele é bastante convincente em debates diretos contra os opositores, mas sua candidatura sofreu um forte abalo com a denúncia do Ministério Público Estadual contra o ex-deputado estadual Tiãozinho Costa e um dos diretores da agência, José Musse. A denúncia, pelo menos até agora, não atingiu Rincón, e ele assegura que não vai atingir, mas não se tem ainda melhor informação sobre a impactação do caso à imagem dele.

Nos demais partidos da base aliada também há ótimas referências eleitorais para a disputa do ano que vem em Goiânia. Principalmente no PTB e no PSD. A viabilidade de qualquer um desses nomes, porém, passa necessariamente pela definição inicial do PSDB, se bancará nome próprio ou não.

Em resumo, o quadro sucessório goianiense está longe de ser definido, mas um candidato já segue sua velha rotina rumo às urnas: Iris Rezende.