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Nas duas mais importantes cidades do interior do Estado, partidos governistas continuam sem grandes opções para 2016. Em Goiânia, jogo está equilibrado

Afonso Lopes

De tão clássica, a frase a seguir chega a ser protocolar: se as eleições fossem hoje… a base aliada estadual teria pouquíssima ou nenhuma chance de vencer em Anápolis e em Aparecida de Goiânia. Claro que deve-se levar em conta também uma outra máxima irrefutável quando o assunto é eleição: certeza mesmo só depois de apurados os votos. De qualquer forma, a verdade é que a base aliada estadual não conseguiu ainda nem ao menos articular um plano de ação para tentar virar o jogo eleitoral nessas duas cidades. Em Anápolis, o prefeito João Gomes conseguiu dobrar os irmãos Gomide, Rubens e Antônio, e será candidato à reeleição sem enfrentar dissidências em seu partido, o PT. Em Aparecida, a popularidade da administração do prefeito Maguito Vilela coloca qualquer candidato que ele apoiar diretamente à frente do pleito.

Se essa é uma perspectiva ruim nas duas mais importantes cidades do interior do Estado, a base aliada pelo menos vai conseguindo equilibrar teoricamente a disputa pelo principal trono municipal da política goiana, o da capital. A dependência total do principal partido concorrente, o PMDB, de uma nova candidatura de Iris Rezende a prefeito, reduz a margem de manobra dos peemedebistas, enquanto o PT amarga uma herança eleitoral que até aqui não é nem um pouco animadora graças aos desgastes sofridos pela atual administração, tanto em nível municipal quanto em nível nacional. Iris é, sim, um fator que causa certo desequilíbrio nesse jogo, mas provavelmente não se apresenta mais com a força eleitoral de outros tempos.

Aparecida de Goiânia

Os seis anos e meio de governo de Maguito Vilela na cidade fizeram diferença no horizonte administrativo. Até então, Apare­cida era praticamente uma cidade-dormitório de Goiânia. Hoje, principalmente com a integração quase total entre a sede da cidade e seus bairros limítrofes com a capital, e um bem forrado plano de pavimentação, tornaram a cidade um lugar muito mais atrativo do ponto de vista da urbanização e do potencial econômico. É certo que essa política administrativa não nasceu com o atual prefeito, mas ganhou um grande e definitivo impulso através dele.

Em tese, e ainda distante do período mais intenso das definições de candidaturas, o que se observa é que a base governista de Maguito tem total controle das ações políticas na cidade. Com um pouco de habilidade, o processo de escolha do candidato do grupo tende a ser bastante tranquilo, até por causa da enorme perspectiva de poder que rondaria essa candidatura. Mas mesmo que o processo de afunilamento cause algum ruído, dificilmente as condições gerais vão sofrer mudanças tão profundas que altere esse quadro. O candidato de Maguito é, antes mesmo de ser definido, favorito.

A base aliada na cidade não é exatamente uma novidade para a população aparecidense. E a popularidade eleitoral de seus integrantes também não é muito intensa. O nome mais citado em pesquisas internas dos partidos que foram realizadas no primeiro semestre deste ano indicam que o deputado federal Delegado Waldir (PSDB) é o único que realmente poderia topar frente a frente uma disputa contra um candidato ungido por Maguito. O problema é que Waldir sempre disse que quer disputar a Prefeitura de Goiânia, e não a de Aparecida.

Anápolis

Entre os anapolinos, a situação do prefeito João Gomes também é bastante favorável. Herdeiro do trono de Antônio Gomide, que deixou o cargo após a reeleição para disputar o governo do Estado, em 2014, ele dava sinais no início de que ficaria satisfeito em concluir o mandato e ir embora para casa. Mas, não. Esses planos mudaram. João Gomes tomou gosto pela coisa, e demonstrou que estava disposto a usar seu direito natural de buscar a reeleição. A contragosto ou não, os irmãos Rubens Otoni, deputado federal, e Antônio Gomide, ex-prefeito, perceberam que bater de frente com João Gomes fragilizaria totalmente o PT na cidade, e compuseram politicamente pela reeleição.

Em comparação com o governo de Gomide, João faz um bem temperado feijão-com-arroz. É mais do que suficiente para colocá-lo em condições muito boas na disputa do ano que vem. A base aliada anapolina tem três segmentos distintos, liderados pelo ex-prefeito Ademar Santillo, por Ridoval Chiareloto e pelo deputado federal Alexandre Baldi, o três tucanos, e não se sabe até agora quem vai representar a base unificada. De qualquer forma, enfrentar um prefeito em processo de reeleição e que tem boa popularidade não é tarefa simples.

Goiânia

Se em Aparecida e em Anápolis as perspectivas não são nada boas para a base aliada estadual, em Goiânia o quadro geral mudou bastante. A impopularidade do prefeito Paulo Garcia, que já não é tão alta quanto foi no ano passado, ainda é imensa. Se no campo administrativo ele conseguiu pelo menos controlar as crises agudas, no ramo político a situação é de descontrole total.

Exatamente por conta desse aspecto, a coligação com o PMDB, de Iris Rezende, está com os dias contados. Para se ter uma ideia, um grande número de críticos contumazes de Paulo não se encontra na base aliada, mas entre os peemedebistas. Essa instabilidade política evidentemente tem reflexos também eleitorais.

O PT vem fazendo o que pode para não melindrar ainda mais a complicada relação com o PMDB, e quase sempre aparece algum bambambã do partido para vender otimismo em relação à manutenção da aliança entre as duas siglas nas eleições do ano que vem. É uma boa estratégia essa, mas que não tem qualquer efeito prático. A aliança PT/PMDB em Goiânia é como numa casa em que falta pão: todo mundo briga, e ninguém tem razão.

Isso, de certa forma, dá uma mexida no enorme patrimônio eleitoral que Iris Rezende tem na capital. Não é possível dimensionar se essa mexida é grande ou pequena, mas ao se observar todo o conjunto da obra, pode ser que Iris, caso realmente venha a se lançar candidato a prefeito mais uma vez, entre na disputa com bem menos força do que em vezes anteriores. Além de ter sido o principal avalista de Paulo Garcia nas eleições de 2012, Iris, caso se confirme a in­tenção de ser candidato, disputará a sua sexta eleição consecutiva em oito possíveis, das quais apenas com duas vitórias. Aja fôlego, mesmo para um monstro sagrado da política goiana como ele.

Paralelos

No balanço geral do grande triângulo político-administrativo de Goiás, composto por Goiânia, Aparecida e Anápolis, onde votam mais de 32% de todos os eleitores registrados no Estado, a base aliada continua sem qualquer esperança em Aparecida e em Anápolis, e deixou os aparelhos e pode estar em recuperação em Goiânia. É claro que isso não tem nada de definitivo. É apenas a leitura de um quadro atual e ainda distante da disputa, em outubro do ano que vem.

Um dado bastante curioso é o comportamento político, com revezes administrativos, dos prefeitos dessas três cidades. Maguito Vilela desde sempre e João Gomes um pouco depois de sua posse, mantiveram uma relação bastante amistosa e sem grandes tensões políticas com o governador Marconi Perillo. Paulo Garcia, graças inclusive a um certo distanciamento da influência peemedebista em seu comando administrativo, só agora tem se aproximado do Palácio das Esmeraldas. Coin­cidência ou não, nesse paralelo comparativo, Maguito e João colhem a tranquilidade da aprovação popular para seus governos, enquanto Paulo somente agora ensaia alguma recuperação realmente palpável na imagem de seu governo.