Divisão do PMDB em dois grupos é nociva à oposição governista
21 setembro 2017 às 09h41

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A 1 ano e 13 dias da votação em primeiro turno das eleições de 2018, peemedebistas mostram divergência quando o assunto é o candidato ideal para disputar a chefia do Executivo estadual


Em 1998, um considerado novato na política goiana, aos 35 anos, que havia sido eleito uma vez para deputado estadual, cargo que ocupou entre 1991 e 1994, e depois deputado federal a partir de 1995, foi alçado à condição de novidade contra um grupo político que já comandava o governo de Goiás por 16 anos. A partir de 1982, o PMDB saiu vitorioso de quatro eleições consecutivas à chefia do Executivo goiano e comandou o Estado entre 1983 e 1998. Foi justamente um ex-filiado ao PMDB, Marconi Perillo (PSDB), quem tirou dos peemedebistas o controle da gestão.
Apelidado de “tempo novo”, o grupo que tem como figura maior Marconi superou nas urnas o PMDB nas eleições de 1998 com o discurso de que a velha política estava com os dias contados e que chegava a hora de um novo momento para Goiás. Com a manutenção da retórica, o tucano e seus aliados mantiveram o favoritismo eleitoral nas votações de 2002. Em seguida apostaram no vice-governador Alcides Rodrigues, então no PP, com a reeleição em 2006. Até que o peessedebista voltou em 2010 e chegou ao terceiro e quarto mandatos à frente do Executivo goiano.
Depois de quase 19 anos à frente do Estado, o grupo marconista trabalha com o discurso da consolidação da pré-candidatura natural do vice-governador José Eliton (PSDB), que deve assumir o governo em abril de 2018. Ao final do próximo ano, a base aliada tucana completará 20 anos e terá de enfrentar o desgaste natural de tanto tempo no controle do Executivo. Só que o grupo do PSDB e seus partidos unidos não se sente, até o momento, tão ameaçados nas urnas pelos adversários. E só há uma explicação para isso: a desunião e discordância de duas alas do PMDB na tentativa de definir os rumos eleitorais da sigla.
Enquanto estava no PMDB, Marconi viu grandes lideranças goianas serem eleitas ao cargo de governador, como o prefeito de Goiânia, Iris Rezende, em 1982 e 1990, o ex-prefeito de Aparecida de Goiânia, Maguito Vilela, no ano de 1994, e aquele que o tucano considera sua inspiração política, o ex-governador Henrique Santillo em 1986. Santillo e Marconi migraram para o PSDB no mesmo ano, 1995.
Assim como o governador saiu do PMDB ao lado de Santillo, José Eliton, indicado pelo então deputado federal Ronaldo Caiado (DEM), hoje senador, à vaga na chapa marconista em 2010, decidiu sair do Democratas por desentendimentos com o presidente estadual do DEM. Restou a Caiado a aliança com Iris em 2014, que lhe rendeu o mandato no Senado. E o parlamentar do Democratas conseguiu figurar entre os opositores ao governo federal de Dilma Rousseff (PT) com certo destaque.
Só que a partir da posse de Michel Temer (PMDB) na Presidência da República, Caiado não figura com tanto protagonismo no Senado, já que tem um perfil bem definido do confronto de ideias e uma atuação nata de oposicionista, como faz em relação ao governo estadual. E precisa cada vez mais do apoio do PMDB e da liderança do prefeito Iris Rezende, aos 83 anos, para se manter com chances de se candidatar ao cargo de governador em 2018.
Desavenças
Assim como no caso do desentendimento com José Eliton, Caiado viu seus aliados saírem aos poucos do Democratas. Entre os últimos presidentes da Assembleia Legislativa, os deputados estaduais Helio de Sousa, em 2016, e José Vitti, no ano de 2013, abandonaram o DEM e migraram para o ninho tucano. O mesmo aconteceu com outros prefeitos que eram tratados pelo senador como parceiros. Mesmo com todos os fatores negativos, Caiado, em um momento ainda distante da disputa eleitoral do ano que vem, aparece em primeiro lugar nas pesquisas como o nome mais lembrado pelos goianos para 2018.
Mas para que essa força se consolide, Caiado precisa do apoio de Iris e do PMDB, que não se entende entre duas alas: a união caiadista e irista contra a do pai Maguito Vilela com o filho Daniel Vilela. Aos 67 anos, o senador democrata busca uma aliança dos partidos de oposição em torno de sua candidatura, mas ainda não conseguiu consolidar qualquer sigla de peso nesse grupo. E nada garante que o prefeito de Goiânia, na hora da definição dos candidatos, não vire as costas para Caiado e abra mão de se lançar ao cargo de governador, como fez em 2014 com Júnior Batista, o Júnior do Friboi, e em 2016 ao voltar atrás sobre a aposentadoria política.
Do outro lado do PMDB estão o ex-governador e ex-prefeito de Aparecida, Maguito, de 68 anos, e o deputado federal Daniel Vilela, aos 33 anos. Presidente estadual peemedebista a contragosto de Iris, Daniel aparece como uma novidade em um cenário de lideranças importantes e históricas do partido, mas que insistem em apoiar nomes que não condizem com as exigências de um mundo cada vez mais digitalizado.
Ninguém pode negar a importância e liderança de Iris para Goiás e sua influência sobre o eleitor da capital. Mas é preciso também admitir que “a melhor administração” da vida do prefeito, prometida na campanha de 2016, está longe de acontecer. A crise na saúde está escancarada, assim como as explicações que precisam ser dadas ao eleitor sobre promessas não cumpridas como a de solucionar o problema do transporte público no início da gestão, além da adoção de práticas usadas pro ele há quatro décadas que não fazem mais sentido: mutirões.
E, com a nomeação de um secretário municipal de Finanças – Alessandro Melo da Silva –, ligado a Jorcelino Braga, que é presidente estadual do PRP e foi secretário da Fazenda na gestão de Alcides Rodrigues (PRP), a tendência é que haja uma proximidade entre Caiado, Iris e Jorcelino. Se for essa a intenção, é um ato que mostra a escolha por lideranças isoladas com frágil reforço ao projeto eleitoral caiadista.
A opção do PMDB pelo possível apoio à pré-candidatura de Caiado ao governo afasta uma reaproximação dos peemedebistas do PT, união considerada mais natural pelo grupo dos Vilela. Inclusive, há do lado de Maguito e Daniel uma nova força dentro do PMDB chamada Gustavo Mendanha, prefeito de Aparecida. Com 34 anos, o político alçado ao Executivo aparecidense pelo apoio de Maguito tem sido tratado como uma revelação na gestão da cidade, que vive ainda um ambiente de transformação depois de dois mandatos bem sucedidos do mais velho da família Vilela.
A oposição terá em 2018 a árdua missão de enfrentar, caso se consolide, uma candidatura de José Eliton respaldada pelo apoio de Marconi ao governo e que pode ter na mão os estimados bons frutos do programa de investimentos Goiás na Frente em centenas de municípios, tanto da base quanto de outros partidos. Caso peemedebistas não consigam se organizar na busca de um discurso de mudança e desgaste dos 20 anos de governo do “tempo novo”, a eleição pode ganhar contornos melancólicos ao deixar de ser o período de discussão de projetos.
O que deveria ser a oportunidade de apresentar ao goiano opções diferentes de gestão do Estado entre 2019 e 2022, seja pela continuidade do “tempo novo” ou a mudança por uma proposta renovada, tende a se tornar uma disputa narcisista para consolidar um ou outro nome na marra. E o relógio, impiedoso com atrasos, cobra com urgência uma organização coerente da oposição e do PMDB. l