Considerado um dos Estados mais conservadores do Brasil, Goiás tem se destacado pela eleição de candidatos com ideologias ligadas à religião cristã e ao conservadorismo. Desde 2018, na campanha presidencial em que despontava o então deputado federal Jair Messias Bolsonaro (PL), o tema, inclusive, ganhou força entre os eleitores brasileiros.

O slogan “Deus, pátria e família” foi bastante usado na campanha de Bolsonaro e de seus correligionários, com a inclusão de outra palavra, “liberdade”. Porém, o que muitos talvez desconhecem é que esse lema não foi criado por ele. A frase foi criada por Giusepp Mazzini, considerado um dos pais da unificação italiana, que em sua concepção assume o significado de emancipação. No entanto, atualmente, para os conservadores que adotam esse lema, significa a existência de “somente um Deus, uma única pátria e apenas um modelo de família”.

Com esse bordão, os candidatos com víeis conservador e de direita têm conquistando espaço na política brasileira nos últimos seis anos. Vale lembrar que nas eleições de 2022 o número de parlamentares ditos conservadores eleitos em todo o Brasil foi bastante expressivo e, mesmo com a derrota de Bolsonaro, que é considerado o líder desse movimento, o cenário parece não mudar, pelo menos a médio prazo.

Diante desse contexto e com as eleições municipais de 2024 se aproximando, o Jornal Opção ouviu políticos de direita, pesquisadores e cientistas políticos para entender como está essa situação em Goiás, qual o peso do apoio de Bolsonaro a candidatos nas cidades goianas, se o bolsonarismo poderá decidir eleição no próximo ano. E também, qual a perspectiva para a capital, Goiânia, já que existe a possibilidade de o PL lançar um candidato tido como um conservador extremista.

Para o cientista social, sócio da Santa Dica, Kim Macherini, como o ex-presidente não assume nenhum cargo majoritário, é natural que haja um esvaziamento de seus apoiadores, contudo, até as eleições muita coisa ainda pode mudar. O cientista cita as condenações sofridas por Bolsonaro, que também podem influenciar nesse processo.

Kim Macherini, entretanto, pondera que nas pesquisas realizadas em Goiás, o que se percebe é que o ex-mandatário ainda tem um peso relevante na tomada de decisão do leitor conservador. “Bolsonaro possui muita influência em algumas das grandes cidades goianas. Em outras, os eleitores se dividem em quem é a favor e os que são contra. “

Para o pesquisador, como o quantitativo de votos em uma eleição majoritária é grande, o apoio de Bolsonaro poderá fazer a diferença, principalmente nas cidades onde terá apenas um turno. O cientista lembra que o posicionamento ideológico dos goianos pende muito forte para o centro-direita e o impacto bolsonarista nas eleições não devem ser ignorados pelos adversários.

Kim Macherini, sócio da Santa Dica e Cientista Social l Foto: arquivo pessoal

Já Kaumer Nascimento, que também é sócio da Santa Dica e trabalha como pesquisador há 30 anos, ressalta, porém, que muitos eleitores podem acabar migrando para a esquerda se perceberem que o atual governo federal está realizando uma boa gestão. “Hoje, o que vemos nas pesquisas é que está bem definido essa questão de direita e esquerda. Quem é de direita é Bolsonaro e quem é de esquerda é Lula”, diz.

Kim Macherini pontua que diante da condenação que tornou Bolsonaro inelegível e das acusações que pesam contra ele, alguns eleitores que não são muitos ligados a política tendem a migrar para outros candidatos. Todavia, a grande maioria dos eleitores ditos conservadores parecem não acreditar nessas acusações e seguem fiéis a Bolsonaro. “É uma consequência natural dentro do processo político.”

O PL, partido do ex-presidente, está com uma projeção ambiciosa de eleger no mínimo 100 prefeitos em Goiás. Kim Macherini avalia que a legenda possui o que é essencial para conseguir êxito em campanhas majoritárias, que é dinheiro. “Não é uma meta impossível, com a verba que eles terão em mãos, a viabilização de campanhas se torna muito mais possíveis. O PL sem dúvidas virá com força nessas eleições. “

Kaumer, também concorda com a opinião do colega, porém, alega que deve ser considerado como esses recursos serão distribuídos, como serão as articulações e migrações de partidos. Para Kaumer, não é possível cravar um número de prefeituras que serão comandadas por bolsonaristas, mas avalia que esse número não será pequeno.

kaumer Nascimento, sócio da Santa Dica e pesquisador há mais de trinta anos l Foto arquivo pessoal

De acordo com Kim Macherini, o sul do Estado será a região com mais prefeitos eleitos pela sigla. O pesquisador relata que há uma tendência de posicionamento da população dessa região voltada para a direita. Tanto Kim como Kaumer corroboram da mesma ideia de que o eleitor está mais atento ao que o candidato faz em prol da sua cidade e não somente por questões ideológicas.

 Kaumer esclarece que somente por ser do PL, isso não garantirá ao candidato o sucesso. Tudo vai depender de quem será o escolhido, se tem o aval do cidadão. “O eleitor está mais atento e não quer correr o risco de eleger um candidato que não tenha experiência de gestão”, diz. Kim Macherini, por sua vez, reitera que a sigla também faz diferença nessa escolha, já que o eleitor pode ou não se identificar com a bandeira defendida pelo partido.

Kim Macherini explica que o eleitor goiano ainda é muito conservador. Porém, não significa que os candidatos bolsonaristas mais radicais tenham o apoio desse eleitor. “Os eleitores querem um candidato que resolva os seus problemas e não somente tenha um discurso bonito”, avalia. Para Kaumer, existe sim uma influência, mas o que realmente o eleitor quer saber é se o candidato apresentado terá condições de zelar da cidade e melhorar os serviços para a população.

Rio Verde

Kaumer concorda que Rio Verde tem uma prevalência de eleitores bolsonaristas que são realmente alinhados com as pautas do ex-presidente. Porém, o atual prefeito Paulo do Vale vem sendo muito bem avaliado e isso também é importante. Para o especialista, o candidato que conseguir o apoio do prefeito sairá na frente.

O pesquisador aponta que o candidato bolsonarista em Rio Verde precisará buscar o apoio de Paulo Do vale.

Goiânia

Tanto Kim como Kaumer concordam que em Goiânia a situação é diferente do restante das cidades goianas. Os goianienses são cautelosos na hora de escolher um prefeito e não gostam de correr o risco de eleger um aventureiro, que não tenha passado por experiências anteriores em gestão.

Os pesquisadores ponderam a gestão do prefeito Rogério Crus (Republicanos), que é uma exceção, chegando ao cargo por ocasião do falecimento do candidato eleito Maguito Vilela (MDB), que já era bem experimentado em cargos executivos, tanto municipal, como estadual. Os cientistas ratificam que, na capital, os eleitores não levam tanto em consideração as questões ideológicas na hora de votar e, sim, a experiência desse candidato.

Nesse sentido, os pesquisadores são unânimes em afirmar que o possível candidato Vanderlan Cardoso (PSD) sai na frente de todos os outros, inclusive do nome do PL, Gustavo Gayer. Para os dois cientistas, apesar de Gayer se identicar com o posicionamento mais radical dos bolsonaristas e ter sido bem votado na capital, obtendo 83.604 votos, o eleitor deverá manter a coerência de sempre escolher o mais experiente.

Marcos Marinho, professor e consultor de marketing político, argumenta que a conversão do voto do Bolsonaro em qualquer candidato é relativa, isto é, não é direto. Para o Legislativo, talvez essa migração ganhe força, mas para o Executivo o eleitor pensa melhor antes de votar ideologicamente. “O simples fato do candidato ter o apoio de ex-capitão não significa que redundará em votos. ‘

Marcos Marinho, professor e consultor de marketing político l Foto: arquivo pessoal

O professor esclarece que em uma eleição para escolher o seu prefeito, o cidadão quer saber se o político tem capacidade para governar e realizar os anseios da população e não se ele é amigo de A ou B. De acordo com o consultor, com Bolsonaro fora do poder, o ganho para o munícipe é quase zero.

Na avaliação do pesquisador, o eleitor bolsonarista é ideológico, ele acredita naquilo que é dito por Bolsonaro, por isso ele tende a ser mais conservador e a buscar pautas que estejam alinhadas a isso.  Porém, não há propostas de melhorias práticas das demandas de cada município, são pautas morais, costumes. “Não são políticas que visam a população mais necessitada. “

Marinho analisa que o eleitor do Bolsonaro acabará fazendo uma pesquisa para saber se o candidato bolsonarista tem força política e estará apto a governar. Não basta somente estar de acordo com o que pensa Jair Messias Bolsonaro. “Em várias cidades existe forças políticas locais que são captadoras de votos”, pontua. “O simples fato de o candidato ser apresentado por Bolsonaro não lhe garantirá uma vitória”, avalia o professor.

Candidatos

O ex-deputado federal Major Vitor Hugo (PL), que já foi cogitado para ser o candidato a prefeito por Goiânia e Anápolis, e agora poderá sair para vereador da capital, garante que aqueles candidatos que obtiverem o apoio do Bolsonaro terão grande chance de saírem vitoriosos nas eleições de 2024.

Para o Major, basta ver o grau de apoio que o ex-presidente ainda tem da população não somente de Goiânia, mas em todo Estado, o que se repete em todo Brasil. Vitor Hugo avalia que o bolsonarismo ainda é muito forte em Goiás. “Toda vez que vem aqui, é recebido por multidões. Isso mostra que ele não está morto, sendo um grande captador de votos”, disse.

O ex-deputado, afirma que o PL terá candidatos nas principais cidades goianas, no entanto, será uma base composta por outros partidos aliados, o que, segundo ele, aumentará as possibilidades de êxito. “O importante para nós é o fortalecimento da direita com um todo, tendo o PL como o principal vetor”, reitera.

Vitor Hugo assegura que os bolsonaristas ainda são a maioria em Goiás e irão fazer a diferença nas eleições municipais. “Não tenho dúvidas de que o bolsonarismo sairá mais fortalecido nessas eleições, fazendo maioria nas câmaras municipais e no executivo”, ressalta.

Em relação à sua própria candidatura, Major Vitor Hugo pondera que ainda será decidido, que está conversando com o seu líder, Bolsonaro, e os dirigentes do partido, e também com as suas bases para tomar a decisão correta. “É muito provável que serei candidato, mas não sei ainda qual será a cidade e a que cargo”, comunica.

Lissauer Vieira (PL), ex-presidente da Assembleia Legislativa do Estado de Goiás, será o candidato da sigla em Rio Verde, município do sudoeste goiano, com mais de 225 mil habitantes. A cidade que se tornou a segunda maior produtora de soja do país é um reduto de bolsonaristas.

Bolsonaro obteve uma votação expressiva na cidade, com 69,385 votos, o equivalente a 61, 90% do total. Os números podem dar ao candidato apoiado por ele uma soberania nas urnas. Lissauer avalia que por ser uma cidade forte no agronegócio, o víeis bolsonarista predomina.

Para Lissauer, que também é produtor rural, as três molas propulsoras das ideologias de direita são: os evangélicos, os militares e o agro. Esses segmentos são muito forte e podem decidir uma eleição. “A representatividade do Bolsonaro está muito viva em toda região sudoeste. “

O ex-parlamentar ratifica que está em busca de mais aliados para dar mais robustez a sua própria candidatura, incluindo o grupo político que administra a cidade. Lissauer lembra que os oito anos como parlamentar e especificamente os quatro como líder do Legislativo o cacifaram com respeitabilidade, com relacionamentos e até mesmo com experiência administrativa para ser o próximo prefeito de Rio Verde.

Lissauer Vieira parabeniza a gestão do atual prefeito Paulo do Vale, (UB). “Essa gestão é um exemplo para Goiás, com uma média muito boa”, disse. No entanto, Lissauer ressalta que nos próximos anos, a cidade viverá novos desafios e ele está preparado para enfrentá-los.

 Alguns produtores do município não veem com bons olhos a candidatura de Lissauer, pois guardam o ressentimento por ocasião da votação da chamada taxa do agro, o Fundeinfra. O candidato, entretanto, garante que a grande maioria dos agricultores do município estão fechados com ele. “Aqueles que ainda tem mágoa é porque talvez não acompanharam ou não tiverem a informação correta de como se procedeu a votação. Eu votei contra, eu fui contra e continuo sendo contra”, pontua.

Lissauer Vieira diz que como produtor rural também paga a taxa, sendo onerado da mesma forma que os demais, e chama a vitória do governo de uma imposição por parte do governador Ronaldo Caiado (UB) naquele momento. “Temos que entender que vivemos em um país democrático onde a maioria vence. Nós fomos voto vencido naquela oportunidade, ou seja, perdemos uma votação”, argumenta.

Lissauer sublinha que não somente em Rio Verde, mas em outras cidades da região sudoeste o bolsonarismo se mantém vivo. O candidato expõe que está em tratativas várias candidaturas do PL nos municípios, como Jataí, Santa Helena, Mineiros, Quirinópolis, com o já pré-candidato deputado Paulo Cezar Martins do próprio PL, e outros munícipios menores que compõe a região.

Para Jataí, Lissauer defende o nome de Vitor Gaiardo para o executivo, por ser um protetor do setor produtivo foi presidente do sindicato rural da cidade, foi um dos responsáveis pela eleição do senador Wilder Morais (PL). De acordo com o Ex-parlamentar, Gaiardo, é um grande líder. “O processo político precisa de pessoas com o perfil do Vitor Gaiardo”, ressalta.

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