O mercado imobiliário de alto padrão vive uma fase de consolidação em Goiânia. Apartamentos avaliados em R$ 3 milhões, R$ 5 milhões e até acima de R$ 10 milhões deixaram de ser raridade e passaram a ocupar lugar permanente nos lançamentos das grandes incorporadoras.

O fenômeno não se restringe a um único bairro: espalha-se por regiões estratégicas da capital e altera, de forma visível, a paisagem urbana e o perfil de quem compra. Nos últimos anos, Goiânia passou a conviver com edifícios mais altos, projetos arquitetônicos assinados, plantas amplas, áreas comuns que funcionam como clubes privados e um discurso cada vez mais sofisticado sobre morar bem.

O imóvel de luxo deixou de ser apenas abrigo, tornou-se ativo financeiro, símbolo de status e instrumento de proteção patrimonial. A geografia do alto padrão em Goiânia está relativamente bem definida.

Bairros como Setor Marista, Jardim Goiás, Setor Oeste e Setor Bueno concentram a maior parte dos empreendimentos verticais de luxo, com apartamentos de grandes metragens e vista privilegiada.

Já os condomínios horizontais fechados, como os do eixo Alphaville Goiânia, atendem a um público que prioriza espaço, isolamento e controle de acesso. Em comum, esses territórios oferecem infraestrutura urbana consolidada, proximidade de polos gastronômicos, shoppings, hospitais e vias de acesso rápido, elementos decisivos para o comprador de alta renda.

O mercado imobiliário de alto padrão em Goiânia tem se consolidado a partir de um tripé que envolve localização privilegiada, projetos arquitetônicos autorais e alto nível de exclusividade. A avaliação é do presidente da Ademi-GO, Felipe Melazzo, em entrevista ao Jornal Opção, ao detalhar os critérios que hoje definem um empreendimento de luxo na capital.

Segundo Melazzo, o ponto de partida é o terreno. “Primeiro, a localização exclusiva, ou um terreno exclusivo em frente a um parque, numa localização limpa, e um projeto autoral assinado por arquitetos de renome”, afirmou. A exclusividade do endereço, explica, é um fator decisivo para um público que busca diferenciação desde a escolha do imóvel.

Além da localização, o padrão construtivo aparece como elemento central. “São unidades que trazem alguns itens exclusivos, como a privacidade, além de materiais aplicados na obra com qualidade muito superior ao normal”, disse. Entre esses diferenciais estão “instalações diferenciadas, pisos especiais, utilização de acabamentos nobres como mármores importados e esquadrias com qualidade superior”.

De acordo com o presidente da entidade, essas características não são subjetivas. “Você encontra essa classificação na própria ABNT, que define o que são materiais de alto padrão. Isso é uma exigência do consumidor e reflete diretamente no produto final”, explicou.

Privacidade como ativo de valor

Um dos símbolos mais evidentes desse segmento são os empreendimentos com um apartamento por andar, cada vez mais presentes em bairros valorizados da capital. Para Melazzo, essa configuração é consequência natural do padrão elevado.

“Quando você tem um terreno exclusivo, numa localização ímpar, você gera esse desejo das pessoas de adquirirem esses empreendimentos. E aí você tem, naturalmente, por seu padrão, a exclusividade”, afirmou.

Os prédios costumam contar com elevadores privativos e, em casos raros, até elevador para carros. “Hoje a gente tem em Goiânia apenas um empreendimento com elevador de carro, e ele é exclusivíssimo”, disse. Sobre a quantidade de lançamentos com apenas uma unidade por pavimento, o presidente da Ademi-GO estima um crescimento recente.

“No último ano, acredito que tenham sido lançados algo entre seis e oito empreendimentos com essa característica, principalmente em bairros como Jardim Goiás e Setor Marista”, relatou, acrescentando que não se trata de uma moda passageira. “Não é uma tendência de diminuição. A cada terreno exclusivo que surge, há clientes com potencial para adquirir essas unidades.”

O alto padrão também se reflete nos preços. Segundo Melazzo, os lançamentos de luxo em Goiânia hoje giram entre R$ 17 mil e R$ 22 mil o metro quadrado. “Você tem apartamentos de 500 metros quadrados. Fazendo essa conta, estamos falando de imóveis que chegam facilmente a R$ 10 milhões”, explicou.

Para o dirigente, esses números evidenciam um mercado voltado a um público específico, que busca não apenas metragem ou localização, mas uma experiência diferenciada de moradia. “Antes de tudo, o que define esse produto é a exclusividade: do terreno, da vista, da privacidade e do projeto”, concluiu.

Perfil do comprador

A combinação entre localização estratégica, infraestrutura urbana e qualidade de vida tem atraído não apenas moradores locais, mas também compradores vindos de outros estados. Segundo Felipe Melazzo, é possível traçar um perfil relativamente claro desse público, ainda que diverso.

“Geralmente é um comprador casado, com família. Muitos são empresários de diversos ramos da economia, do agro ou de outros setores, além de profissionais liberais como médicos, advogados e arquitetos”, afirma Melazzo.

De acordo com ele, trata-se de um público heterogêneo, mas com características recorrentes, especialmente ligadas à estabilidade financeira e à formação familiar. A faixa etária também varia, mas segue um padrão ligado ao ciclo de vida.

“Temos desde casais recém-casados, às vezes com um filho pequeno, até famílias de meia-idade. Claro que há exceções, mas esse é o grosso do público”, explica. Outro movimento que vem chamando a atenção do setor é a chegada de compradores de fora de Goiás.

Goiânia passou a exercer um papel regional de destaque, funcionando como capital de referência para o Centro-Oeste. “A gente tem visto muitos adquirentes vindos de outros estados, como Pará, Maranhão, Tocantins, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. Eles acabam fixando residência em Goiânia e mantêm suas atividades comerciais e empresariais nesses outros locais”, observa Melazzo.

Na avaliação do presidente da Ademi-GO, a escolha por Goiânia está diretamente ligada aos atributos urbanos da cidade. “A decisão passa por segurança, escolas, hospitais, restaurantes e pela qualidade de vida como um todo. A estrutura que a cidade oferece pesa muito”, diz.

Quando o assunto são os fatores determinantes para o sucesso de vendas dos empreendimentos de luxo, Melazzo é categórico ao apontar a localização como o primeiro e mais decisivo elemento.

“Quando você tem um terreno exclusivo, bem localizado, esses empreendimentos têm uma absorção muito maior e mais rápida. Já aqueles que são lançados em áreas não tão exclusivas até vendem, mas numa velocidade menor”, afirma.

Além da localização, os projetos autorais se tornaram praticamente indispensáveis nesse segmento. “Temos projetos assinados por escritórios renomados, marcas internacionais e arquitetos que também assinam as unidades, muitas vezes já mobiliadas. Isso agrega valor e diferencia o produto”, explica.

Automação, áreas de lazer sofisticadas e facilidades integradas ao cotidiano dos moradores também entram na lista de exigências. A tecnologia e a sustentabilidade, segundo Melazzo, deixaram de ser apenas discurso de marketing.

“São exigências reais. Hoje não dá mais para pensar o desenvolvimento da atividade sem práticas sustentáveis. Obras mais secas, mais limpas, com menos desperdício de material, já fazem parte do dia a dia do setor”, afirma.

Ele destaca ainda uma mudança gradual na forma de entrega dos imóveis, como estratégia para reduzir impactos ambientais. “Temos provocado o mercado a entregar unidades semiacabadas. Muitas vezes o comprador remove pisos e faz reformas logo após receber o imóvel, o que gera resíduos desnecessários. Essa conscientização já está acontecendo e tende a se intensificar”, conclui.

Sobre o crescimento imobiliário fortemente ligado aos empreendimentos verticais, Melazzo explica que essa predominância não foi apenas uma escolha de mercado, mas resultado direto de limitações legais que vigoraram até recentemente no município.

“Até 2022, Goiânia não permitia, por força do Plano Diretor, o parcelamento do solo em determinadas áreas. Isso restringia bastante o desenvolvimento de condomínios horizontais e fez com que os lançamentos verticais se tornassem a principal alternativa”, explicou.

Com a revisão do Plano Diretor, esse cenário começou a mudar. A atualização da legislação urbanística abriu caminho para a expansão da cidade em áreas específicas, como a região norte da capital, o que viabiliza novos projetos horizontais, especialmente no segmento de luxo.

“Com essa mudança legislativa, a gente passa a ver, sim, a implantação de alguns empreendimentos horizontais. Isso era uma demanda reprimida do mercado e agora começa a ganhar espaço”, afirmou.

Apesar dessa nova possibilidade, Melazzo pondera que a verticalização continuará tendo peso decisivo em Goiânia, sobretudo por atender a um estilo de vida cada vez mais valorizado pela população urbana.

“Existe uma preferência clara por morar em locais que concentram comodidades. O empreendimento vertical oferece isso: mobilidade urbana, menos dependência do carro e a chance de resolver a rotina diária a pé”, disse.

Para o presidente da Ademi-GO, o conceito da “cidade de 15 minutos” ajuda a explicar essa escolha. “Tudo o que você precisa está ali ao redor da sua casa. Esse é o grande benefício de optar por morar em empreendimentos verticais”, resumiu.

Foto: Kasane

Perspectivas para o segmento premium

Ao projetar o futuro do mercado imobiliário de alto padrão, Melazzo avalia que o cenário permanece favorável, sustentado pelo desempenho econômico do estado. “Goiás tem demonstrado, na última década, uma pujança econômica muito forte, principalmente pela sua regionalidade e pela força do agro”, afirmou.

Ele destaca que os investimentos em infraestrutura, já em andamento ou planejados, devem ter impacto direto na geração de riqueza. “Estamos falando de obras em energia elétrica, rodovias e até ferrovias. Isso melhora o modal logístico, impulsiona a produção agropecuária e atrai novas indústrias”, disse.

Segundo Melazzo, esse movimento se reflete diretamente no mercado imobiliário. “Quando você gera riqueza, você também distribui essa riqueza. E isso se transforma em renda, qualidade de vida e consumo de imóveis de padrão mais elevado”, explicou.

Dados recentes sobre migração reforçam esse diagnóstico. “Goiás foi o segundo estado que mais recebeu migrantes no Brasil. Essas pessoas vêm em busca de oportunidades, emprego e qualidade de vida, o que amplia a demanda por moradia”, pontuou.

A chegada de grandes equipamentos de saúde e educação também entra nessa conta. “Quando você tem a implantação de hospitais de referência ou novas faculdades de medicina, isso atrai médicos, profissionais da saúde e outros trabalhadores qualificados. Essa cadeia inteira acaba puxando a necessidade de novas moradias”, afirmou.

Para Melazzo, o resultado é um ciclo contínuo de crescimento. “É uma roda que gira de forma favorável. Com crescimento populacional, migração e aumento da renda per capita, o segmento premium tende a continuar em expansão em Goiânia”, concluiu.

Advogado Felipe Melazzo | Arquivo Pessoal

Secovi-GO

O mercado imobiliário de alto padrão em Goiânia vive um ciclo contínuo de expansão, sustentado pelo bom desempenho econômico do Estado e, sobretudo, pela força do agronegócio. A avaliação é do presidente do Secovi-GO, Antônio Carlos da Costa, em entrevista ao Jornal Opção.

Segundo ele, o setor está longe da saturação e segue se reinventando, tanto na verticalização quanto nos condomínios horizontais e nos empreendimentos corporativos.

“Como o Estado tem um crescimento do PIB acima da média do país, a gente está no terceiro maior pico de crescimento, e isso gera renda. Principalmente ligada ao agro, essa riqueza faz surgir novos consumidores todos os dias”, afirma.

De acordo com o dirigente, a economia goiana tem efeito multiplicador. A renda gerada no campo se espalha por diferentes cadeias produtivas, irrigando também o setor imobiliário.

“O agro é o nascedor da riqueza, do diferencial competitivo de Goiás e do Mato Grosso. Essa riqueza gerada vai irrigando várias outras cadeias produtivas que vêm na sequência, e o mercado imobiliário é uma delas”, diz.

Para Antônio Carlos, enquanto o agronegócio mantiver bom desempenho, a tendência é de crescimento contínuo do setor imobiliário. “Eu diria que é um mercado muito pujante. Para 2026, se o agro for bem, ele fomenta todo um mercado na sequência”, projeta.

Novidades e diversificação de produtos

O presidente do Secovi-GO observa que o mercado de alto padrão não cresce apenas em volume, mas também em diversidade de produtos e conceitos, sempre respeitando os limites estabelecidos pelo Plano Diretor da capital.

“Vai surgindo novidade à medida que aparecem ideias mais novas, dentro do que o plano diretor permite. Isso acontece tanto em empreendimentos verticais quanto horizontais e também no segmento corporativo”, explica.

Essa capacidade de renovação, segundo ele, é um dos fatores que mantêm o setor aquecido, com lançamentos voltados a públicos distintos, mas sempre ligados à renda mais elevada. Quando o assunto são os bairros mais valorizados, Antônio Carlos afirma que regiões tradicionais continuam liderando o mercado de alto padrão.

“Ainda continua muito forte o Setor Marista. O Jardim Goiás também tem um guia de empreendimentos diferenciados”, afirma. No entanto, ele destaca o avanço de novas áreas, especialmente na região norte da cidade, que começa a despontar como uma nova fronteira imobiliária.

“A região norte recentemente tem começado a desenvolver empreendimentos de médio e alto padrão. É uma nova fronteira”, resume. Segundo o presidente do Secovi-GO, áreas como o Goiânia 2 passam por um processo crescente de verticalização, impulsionado por investimentos de incorporadoras e por mudanças no perfil da demanda.

“Vai surgir investimento vertical naquela região. A tendência de alguma parte da sociedade buscar a região norte faz muito sentido”, observa. Entre os fatores que explicam esse movimento estão a proximidade de universidades, centros de pesquisa, áreas verdes e a melhoria da infraestrutura viária.

Foto: Kasane

Crescimento urbano, água e sustentabilidade

Antônio Carlos ressalta que qualquer expansão precisa respeitar limites ambientais, especialmente relacionados aos recursos hídricos. “A água é o bem mais precioso que a gente tem. Ninguém está imaginando crescer em áreas sensíveis, como a bacia do João Leite. Mas existem vetores de crescimento possíveis, respeitando totalmente essa questão”, afirma.

Na avaliação dele, a tendência é o surgimento de condomínios horizontais de baixa densidade, com muito verde, voltados à qualidade de vida. “Vejo movimentação de condomínios horizontais, com baixa densidade, muito verde, respeitando o meio ambiente. Isso traz uma qualidade de vida muito grande”, diz.

Outro fator decisivo para a valorização imobiliária é o desenvolvimento de novos eixos urbanos. O dirigente cita a Perimetral Norte e o eixo da Goiás Norte como vetores de transformação econômica.

“Esse eixo vai criar um vetor de desenvolvimento econômico muito forte. Empreendimentos de classe média, média alta, vão surgir mais próximos desses novos centros”, explica.

Para Antônio Carlos, o mesmo fenômeno já pode ser observado em outras regiões da cidade e da Região Metropolitana, como a saída sul em direção a Hidrolândia, impulsionada por polos logísticos, industriais e novos empreendimentos.

“Vai surgindo empresa, polo industrial, logística, aeroporto, e isso tudo traz riqueza. Naturalmente, começa a demandar habitações de médio e alto padrão”, afirma. Na visão do presidente do Secovi-GO, Goiânia segue uma lógica cada vez mais marcada pela criação de centralidades urbanas, em que moradia, trabalho e serviços se aproximam.

“A cidade vai criando suas centralidades. Onde gera emprego e renda, o metro quadrado se valoriza e passa a demandar habitação de padrão mais alto”, diz. Esse movimento está diretamente ligado a mudanças de comportamento da população.

“As pessoas não querem atravessar a cidade todo dia. Se a vida delas está formatada na região norte, elas querem morar ali, com o padrão que têm”, conclui.

Lugar para viver

Segundo o presidente do Secovi-GO, a maior parte dos compradores de imóveis de luxo na capital busca, antes de tudo, um lugar para viver. “Eu diria que entre 70% e 80% dos imóveis de alto padrão são adquiridos para moradia”, afirma o dirigente.

De acordo com ele, a exceção fica por conta dos terrenos. “Terreno, sim, as pessoas compram muito como investimento, esperando a valorização para depois vender. Mas quando o imóvel já está construído, pronto para morar, a lógica muda completamente”, explica.

Esse perfil influencia diretamente o processo de decisão do comprador. Diferentemente do investidor clássico, que busca oportunidades de valorização, quem compra para morar prioriza fatores ligados à rotina cotidiana. “Ele pensa na vida da família, na proximidade da escola dos filhos, do trabalho do casal, no tempo de deslocamento”, diz Antônio Carlos.

Segundo o presidente do Secovi-GO, nesse contexto, a negociação de preço tende a ser secundária. “Quando é moradia, ele não está focado em barganhar. Ele quer facilitar a vida dele”, resume.

Já no caso de compra na planta, com foco em investimento, a lógica se inverte. “Aí ele prioriza uma boa negociação, a segurança jurídica e, principalmente, a solidez da empresa. Ele quer ter certeza de que aquilo que foi prometido vai ser entregue”, afirma. A expectativa, nesses casos, é ganhar com a valorização do imóvel ao longo da obra.

Foto: Kasane

Verticalização, condomínios e planejamento urbano

O avanço de empreendimentos de alto padrão, sejam prédios verticais ou condomínios horizontais, também tem impacto direto na dinâmica urbana da cidade. Para Antônio Carlos, o crescimento de Goiânia segue uma regra básica: a demanda do mercado. “O maior regulador do crescimento da cidade é o mercado. Se está sendo lançado e vendido, é porque existe demanda”, afirma.

Ele destaca, no entanto, a importância de instrumentos de planejamento urbano para evitar distorções, como os vazios urbanos. Um dos mecanismos citados é o princípio da contiguidade, previsto no Plano Diretor. “Só se aprova um empreendimento se ele estiver contíguo a uma área já consolidada. Isso faz com que a cidade cresça de forma contínua, sem pular áreas”, explica.

Segundo o dirigente, a ferramenta foi uma proposta do próprio setor. “Foi uma ideia nossa, do Secovi, e eu defendo muito porque é planejamento de cidade.”

Outro ponto defendido por ele é a adoção do Plano de Urbanização Básica (PUB), que antecederia as ocupações. “Não é para aprovar obra, mas para planejar a região: pensar densidade, sistema viário, drenagem. Isso permite que a cidade chegue com mais sustentabilidade e qualidade de vida”, argumenta.

Drenagem, retrofits e cidade “esponja”

A questão da drenagem urbana aparece como uma das principais preocupações. Para Antônio Carlos, tanto as novas ocupações quanto áreas já consolidadas precisam incorporar soluções que reduzam os impactos das chuvas. “A cidade precisa funcionar como uma esponja”, diz.

Entre as alternativas, ele cita a criação de bacias de retenção, poços de retardo e áreas verdes que ajudem a desacelerar o fluxo da água da chuva. “Se você não faz isso, a água chega com muita velocidade nos fundos de vale”, alerta, mencionando, em especial, os riscos associados à bacia do Córrego Anicuns.

Ele também defende intervenções estruturais, como lagos urbanos, especialmente na região norte e leste da cidade. “Um lago melhora a umidade, traz benefícios não só para o entorno, mas para a cidade inteira”, afirma.

Do ponto de vista demográfico, o presidente do Secovi-GO avalia que Goiânia ainda tem espaço para crescer, mas não indefinidamente. “A população tende a se estabilizar. A região metropolitana deve chegar a algo em torno de 3,5 milhões de habitantes”, projeta.

Com essa estabilização, o foco do mercado deve migrar. “Daqui a pouco, os retrofits do centro vão ganhar força, absorvendo parte da população. A cidade vai se consolidar e novas demandas vão surgir”, avalia.

Foto: Kasane

Goiânia no cenário nacional do alto padrão

Questionado sobre a posição de Goiânia no mercado nacional de imóveis de luxo, Antônio Carlos cita capitais e estados que apresentam dinâmica semelhante. “Cuiabá está crescendo muito, Vitória é uma capital muito pujante, Curitiba e cidades de Santa Catarina também têm desempenho parecido com Goiás”, afirma.

Ele ressalta, no entanto, que São Paulo segue em outra escala. “Em volume absoluto de unidades, VGV e valor de metro quadrado, São Paulo sempre vai ser maior. Mas, quando a gente olha o crescimento percentual, Goiânia está no mesmo nível desses mercados que mais avançam no país.”

Na avaliação do dirigente, o desafio comum a todos eles é o mesmo: crescer sem perder qualidade urbana. “Planejar a cidade hoje é o que vai garantir qualidade de vida no futuro. E isso passa, necessariamente, pelo mercado imobiliário.”

Presidente do Secovi-GO | Foto: Arquivo pessoal

Opus

A consolidação do mercado imobiliário de alto padrão em Goiânia é resultado de um processo que combina crescimento econômico regional, migração qualificada e uma mudança clara no perfil do consumidor.

Essa é a avaliação do gerente geral comercial da Opus Incorporadora, Gabriel Santos, em entrevista ao Jornal Opção. Segundo ele, a aposta da empresa nesse segmento antecede o boom recente.

“Há 19 anos, quando a Opus foi criada, a gente identificou que esse cliente do segmento vertical não estava sendo abastecido. Existia uma grande fatia de mercado descoberta, e foi ali que decidimos entrar”, afirma.

Nos últimos anos, especialmente no período pós-pandemia, esse movimento ganhou força. De acordo com o executivo, Goiânia passou a atrair migrantes com alto poder aquisitivo, vindos principalmente de outras regiões do país.

“Não são migrantes da classe trabalhadora. São pessoas que vieram em busca da qualidade de vida, da assistência à saúde, Goiânia é referência hospitalar, e de educação para os filhos”, diz.

Gabriel Santos aponta que o público comprador de imóveis de alto padrão em Goiânia é bastante definido. “Hoje, eu arrisco dizer que cerca de 70% do nosso público está concentrado em três perfis: o pessoal do agro e da pecuária, os profissionais da área da saúde e os da área jurídica”, explica.

Esses grupos, segundo ele, muitas vezes se sobrepõem. “Muitos médicos, juízes e desembargadores também têm renda no agro. Às vezes não é a renda primária, mas é uma renda secundária muito forte”, observa.

Além desse perfil tradicional, a cidade também passou a receber compradores do Sudeste. “Há uns três anos, vemos clientes vindos de São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte. Eles preferem ter a família em Goiânia e manter o trabalho fora. Pela localização central, o deslocamento é fácil”, afirma.

Moradia ou investimento

A diferença entre quem compra para morar e quem compra para investir, segundo Gabriel, é nítida. “O investidor faz uma compra racional, baseada em números. Já o consumidor final faz uma compra emocional”, resume.

No cenário atual, com juros elevados, o investimento imobiliário exige mais cautela. “Hoje, muitas vezes, compensa mais manter o dinheiro aplicado do que comprar um imóvel para investimento”, avalia. Ainda assim, a Opus tem observado a entrada de pessoas físicas em seu primeiro investimento imobiliário.

“É pulverizado. Normalmente é uma unidade por pessoa. Raramente alguém compra duas ou mais para investimento”, diz. Projetos com apenas um apartamento por andar continuam sendo, segundo o executivo, um símbolo do segmento de luxo, desde que trabalhados com cautela.

“Luxo, no meu ponto de vista, não é só matéria. O alto padrão é o acabamento, o piso, o revestimento. O luxo supera isso: é serviço, é experiência, é relacionamento com o cliente”, afirma.

Ele cita como exemplos os empreendimentos com plantas totalmente personalizáveis e serviços de consultoria incluídos. “Hoje, muitas vezes, o cliente nem precisa contratar um arquiteto, porque a gente já oferece esse serviço. É o que as grandes marcas de luxo estão fazendo: menos logomarca e mais experiência”, compara.

A estratégia de lançamentos também reforça esse conceito. “A gente lança esses imóveis de forma pausada. Absorveu um, lança outro. Se eu coloco muita unidade desse perfil no mercado, deixa de ser exclusivo e deixa de ser luxo”, afirma. Entre os exemplos citados estão empreendimentos no Setor Marista e na região da Praça do Sol.

Foto: Kasane

Funcionalidade acima da ostentação

Questionado sobre itens considerados símbolos máximos de luxo, como elevadores para carros, Gabriel pondera que nem sempre a ostentação atende às necessidades reais do cliente. “Um elevador para carro ocupa cerca de 40 metros quadrados da área privativa. A gente prefere entregar esses 40 metros a mais de sala”, explica.

Em vez disso, a empresa tem apostado em soluções funcionais, como vagas adaptadas para caminhonetes de grande porte e garagens fechadas para carros de luxo. “O cliente de luxo não gosta de ostentar. Ele gosta da experiência. Ele paga uma diária de R$ 50 mil num hotel, mas não quer mostrar marca nenhuma”, afirma.

Para Gabriel Santos, o maior desafio para novos lançamentos de alto padrão em Goiânia hoje não é a falta de compradores, mas de terrenos adequados. “Não basta estar bem localizado. O terreno precisa ter posição correta, insolação adequada e formato que permita uma planta que agrade esse cliente”, explica.

Com a escassez crescente de áreas disponíveis na capital, a disputa por terrenos que reúnam todas essas características se intensifica. “Hoje, sem dúvida, a maior dificuldade é terreno. Falta de terreno”, conclui.

Gabriel Santos | Foto: Arquivo pessoal

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