Igreja Deus é Amor vive escândalos no comando após morte de fundador
01 maio 2023 às 12h03

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A Igreja Pentecostal Deus é Amor foi fundada em 1962 pelo missionário David Miranda, que morreu em 2015, e hoje se tornou uma das maiores do segmento no Brasil. Tem mais de 17 mil templos em 88 países. Sua doutrina é uma das mais rígidas entre as denominações religiosas do país: as mulheres não podem cortar o cabelo, fazer a sobrancelha ou se depilar; aos homens, nada de barbas longas ou calças apertadas. Seus membros também não podem frequentar praias.
Em outubro, Léia Miranda, filha de David, foi afastada pela mãe, a diretora Ereni Miranda, do comando da Fundação Reviver e a Associação Beneficente Reviver Help. A justificativa: uma acusação de comportamento sexual impróprio, detonada por um áudio de WhatsApp, cuja voz foi atribuída a Léia. Nele, a pastora supostamente fazia inconfidências sexuais sobre o seu relacionamento com um pastor.
Léia disse ser vítima de armação e acusou seus detratores dentro da igreja de corrupção e “conchavo com a maçonaria”. Depois, citou nominalmente seu sobrinho David Oliveira de Miranda Almeida e a mãe dele – e irmã de Léia –, Débora Miranda. “Falsos, mentirosos, filhos do diabo, escravos de Satanás, agindo desta maneira, pior que ímpios, é como eles estão agindo”, desabafou. Em dois processos distintos, iniciados nas últimas semanas, Débora e David dizem que foram alvos de injúria e difamação e pedem a condenação criminal da irmã/tia.
A história na íntegra do escândalo que atingiu a Deus é Amor está contada por Sérgio Quintella em reportagem para a revista Veja, depois de ter acesso ao processo. “Se Léia possuía insatisfações quanto à condução dos assuntos da instituição pela diretoria, as quais, curiosamente, só afloraram após ser comunicada da medida interna que lhe desagradou, ela certamente poderia tê-las endereçado de maneira não ofensiva, que não estivesse resumida a ataques pessoais”, disse Débora na ação.
Para se defender no caso, Léia processa as redes sociais que continuam a divulgar o áudio considerado constrangedor. Nega que a voz seja a dela e até contratou um perito para avaliar o material – o profissional, no entanto, não conseguiu verificar a integridade do material, pois há montagens e supressões de vozes. “Léia não teve um caso amoroso com o rapaz. Ela é divorciada, mãe de dois filhos adultos, vive em meio evangélico e é necessário ter uma reputação boa, ilibada, livre de quaisquer máculas”, afirma a defesa.
Essa não é a primeira vez que um alto membro da Deus é Amor é afastado depois de escândalo sexual e de brigas entre familiares. Irmão de Léia, David Miranda Filho saiu da congregação em 2015, após vazarem áudios com conteúdo sexual que ele teria enviado a uma jovem. Depois, ele acabou fundando a sua própria instituição, a Igreja Pentecostal Santificação no Senhor, em São Paulo. Agora, na nova briga familiar, ensaia se aproximar de Léia, com quem teve desavenças na divisão da herança do pai.
David Miranda dizia que o nome “Deus é Amor” teria sido revelado a ele pelo próprio Deus durante uma madrugada de oração. A disputa em torno do comando da igreja contrasta com o comportamento rigoroso que o patriarca sempre exigiu de uma família — para ele, o casamento, por exemplo, é uma “instituição divina” e “uma aliança entre o homem e a mulher até a morte”. Como observa o autor da reportagem, para uma instituição construída sobre rígidos alicerces morais, o barraco gospel em curso parece obra do demônio.
