Lula recebe Brasil pior que há 20 anos, avalia economista

05 janeiro 2023 às 14h28

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Bagunça no Orçamento, crescimento menor, inflação persistente: o Brasil que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) assume em 2023 está “pior” do que aquele que recebeu em 2003, no primeiro mandato, segundo economista ouvido pelo Jornal Opção. A questão social continua sendo o principal foco — com a diferença de que hoje o problema é encontrar meios para manter o Auxílio Brasil em R$ 600. A saúde das contas públicas, muito afetadas pela pandemia de Covid-19, será o maior problema a ser resolvido pelo novo governo em 2023, de acordo com o especialista. Analista prevê que a situação econômica brasileira deve se normalizar em 2025.
Há 20 anos, Lula herdava um Brasil que havia acabado de adotar uma nova política fiscal: a meta de superávit primário. A regra determinava que a diferença entre receitas e despesas de um ano, excluído o pagamento dos juros da dívida, deveria ser positiva.
Hoje a regra fiscal adotada é a do teto de gastos, que prevê um limite para o crescimento das despesas públicas, mas já foi “furado” diversas vezes ao longo do governo de Jair Bolsonaro (PL). Cálculos feitos para a BBC News Brasil pelo economista Bráulio Borges, do FGV Ibre (Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas), indicam que os gastos acima do teto somam R$ 794,9 bilhões de 2019 a 2022.
Para o economista Everaldo Leite, as políticas adotadas pelo então presidente Fernando Henrique Cardoso deram um “encaminhamento bastante positivo” para seu sucessor. “De 1999 a 2002, no segundo mandato de FHC, o crescimento médio [da economia] foi de 2,3% ao ano. Com o Lula, essa média aumentou para 3,5% no primeiro mandato e 4,6% no segundo mandato”, avaliou.
O especialista concorda que a situação do Orçamento agora é pior do que a que Lula herdou em 2003. “Sob a ótica das contas públicas, a situação agora é muito pior. Agora Lula vai realmente saber o que é herança maldita, né? Porque quando ele foi eleito pela primeira vez, dizia que tinha recebido uma ‘herança maldita’ de Fernando Henrique Cardoso.”
Principal tema da campanha eleitoral, o Auxílio Brasil será um dos grandes desafios para as contas públicas. O novo governo precisará encontrar meios de manter o benefício em R$ 600 por mês, como prometeu ao longo da campanha, sem estourar o teto de gastos.
Enviada pelo presidente Jair Bolsonaro (PL), a proposta de Orçamento para 2023 prevê auxílio de apenas R$ 405. O valor de R$ 600, de autoria do atual governo, foi aprovado pelo Congresso em julho e tem validade até dezembro. Ao longo da campanha, nem Bolsonaro nem Lula deram pistas de como fariam para manter o valor.
Em 2002, último ano de FHC na Presidência, o PIB (Produto Interno Bruto) do Brasil cresceu 3,1% em relação a 2001, segundo dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). O país manteve essa trajetória de crescimento ao longo dos dois mandatos de Lula, chegando a registrar alta de 7,5% em 2010. Apenas em 2009 o PIB registrou leve queda, de 0,2%.
Em 2021, esse aumento foi de 5%, impulsionado principalmente pela retomada das atividades depois do pior momento da pandemia de covid-19. Mas agora a projeção do último Boletim Focus, que traz expectativas de mercado para a economia brasileira, indica que o país deve crescer menos em 2022 (3,05%) e ficar praticamente estagnado em 2023 (0,75%).
“Nos dois últimos anos de FHC, você tinha um país um pouco arrumado. Hoje temos uma inflação em declínio, o que é importante, mas uma taxa de juros real muito elevada. O que eu vejo é que o Lula pega um país pior do que ele pegou em 2003”, opina.