Escola do Legislativo da Assembleia de Goiás mantém rede de funcionários fantasmas

01 dezembro 2022 às 16h30

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*Atualizada às 17h15
A Escola do Legislativo Estadual tem sustentado uma rede de funcionários fantasmas ligados ao diretor Teófilo Luiz dos Santos. Em um grupo de WhatsApp descrito como ‘servidores isentos’, ao qual o Jornal Opção teve acesso com exclusividade é possível identificar 55 participantes de dois estados: São Paulo e Goiás, além do Distrito Federal.
O espaço coletivo foi criado no dia 1º de julho de 2020. Porém, é possível observar as mensagens disponíveis a partir do dia 17 de junho deste ano. As conversas, inclusive, foram enviadas por uma das secretárias de Teófilo, chamada Wallesca Borges. No texto, ela envia um comunicado aos servidores alertando sobre a assinatura da folha de ponto.
“Bom dia, sejam bem-vindos! Esse grupo são dos servidores isentos lotados na Diretoria da Escola. Todo mês solicitamos a presença de vocês na escola para vir assinar. Aos que foram lotados recentemente, o Diretor Teófilo aguarda vocês para conhecê-los. Estamos funcionando das 7h às 13h”, publicou no grupo, às 10h31 de uma quinta-feira.
Uma vez por mês
Se passando por um funcionário fantasma, o Jornal Opção entrou em contato com Wallesca para que fosse adicionado no grupo, sob a alegação que teria mudado de contato.
A secretária, no entanto, afirmou que o grupo dos ‘servidores isentos’ foi desfeito e apagado há alguns meses, devido ao risco de serem denunciados. A jogada teria sido orientada por um superior, possivelmente o diretor Teófilo.
No entanto, mesmo com a exclusão do espaço coletivo, as regras para os funcionários fantasmas continuavam as mesmas: ir apenas uma vez ao mês no local, entre o dia 1º e 5, para assinar a folha de ponto.
“Mas é todo início de mês, tá. E qualquer dúvida é só perguntar, ligar. Estamos aqui à disposição. O único grupo que ainda se mantém ativo é o dos servidores que registram ponto. Mas precisando estamos aqui”, escancarou Wallesca.
Atendimento
O colaborador ilegal, além de ter cinco dias para assinar o documento, também pode estar presente na escola localizada no Palácio Maguito Vilela, no Parque Lozandes, em Goiânia.
O atendimento aos colaboradores fantasmas é realizado na sala 00 7, no bloco A, em dois turnos. Pela manhã, a responsável por atender é uma outra secretária chamada Isabel Figueiredo. Já no período da tarde, o trabalho é realizado por Wallesca. No entanto, ela alerta que como nesta sexta-feira, 2, será o jogo do Brasil, o atendimento será realizado apenas pela manhã.
Sem conhecimento
Procurado, o diretor Teófilo informou não ter conhecimento do grupo e que nenhum servidor é ligado à ele, apenas aos deputados. Para ele, o seu nome foi usado como uma forma de ‘desgastá-lo’.
“Não tem rede, não tem ninguém meu lá. Todo mundo é ligado a algum deputado. Existe uma resolução na Assembleia que permite a isenção de ponto das pessoas do interior, mas eles precisam fazer relatórios. Faço questão de que cada servidor faça um relatório de produtividade”, explicou.
O presidente da escola, deputado Lissauer Vieira (PSD), também afirmou não ter conhecimento dos servidores. Questionado sobre a quantidade de servidores fantasmas, ele disse que não poderia comentar uma coisa que não tinha conhecimento, além de dizer que as informações eram ‘vagas’ por ‘não ter nomes’.
“Como vou comentar uma coisa que eu não sei o que é? Não estou entendendo a intenção de vocês, se é me prejudicar. Até porque vocês pegam uma informação, não me falam o que, querem que eu comente uma coisa que eu não sei o que. Quem são essas pessoas? É uma coisa muito vaga”, justificou.
A Alego informou que as denúncias foram encaminhadas aos setores responsáveis para que o fato possa ser apurado e, caso seja confirmado, irá tomar as medidas cabíveis.
Após a publicação da matéria, o presidente da Alego informou que vai apurar se há qualquer irregularidade e tomar todas as medidas punitivas cabíveis, se for o caso. Ele comentou ainda que o grupo citado foi durante a pandemia e que não é oficial.
“O grupo foi criado em 2020, justamente no momento em que foi adotado o home office e a isenção de ponto. Os trabalhos já retornaram presencialmente mas há casos, específicos, de servidores que ainda permanecem em home-office. São 50 nomes e isso que será apurado para ver se há ou não alguma irregularidade nos casos”, afirmou Lissauer.

Fantasma Alego
A rede foi descoberta pelo Opção 11 dias depois do jornal trazer à tona a existência de Cairo Santos Macedo Junior, que estava lotado na Diretoria Administrativa, com cargo de assessor nível IV.
Segundo denúncias apuradas pelo Jornal Opção, apesar de constar na folha de pagamento da Casa no mês de setembro, com remuneração bruta de R$ 3.754, o suspeito trabalha como massagista em Lisboa (Portugal). Ele teria sido indicado pelo presidente da Casa, deputado Lissauer Vieira (PSD), a pedido do pai do rapaz, que é radialista em Rio Verde.O caso agora é investigado pelo Ministério Público de Goiás (MP) e pelo Tribunal de Contas do Estado de Goiás (TCE-GO).