Base rachada: maioria dos votos contra o decreto do IOF veio de partidos com ministérios

26 junho 2025 às 07h45

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Mais de 60% dos votos a favor da derrubada do decreto que reajustava o IOF vieram de partidos que integram o governo Lula e controlam ministérios. Dos 383 deputados que votaram pela revogação do decreto na Câmara, 241 são de sete legendas com cargos na Esplanada: União Brasil, MDB, PSD, PP, Republicanos, PSB e PDT. O número representa 62,9% dos votos “sim” e revela a fragilidade da base governista.
União Brasil, MDB e PSD comandam três ministérios cada; PP, Republicanos, PSB e PDT têm uma pasta cada. Apesar disso, não garantiram apoio ao Planalto. A votação escancarou a falta de controle do Executivo sobre sua própria coalizão.
Essas siglas deram mais votos pela derrubada do decreto do que toda a oposição tradicional junta. O PL, maior partido oposicionista, liderou individualmente com 88 votos, mas o impacto veio mesmo da infidelidade entre aliados.
Já partidos ideologicamente alinhados ao governo — como PT, PCdoB, PSOL e Rede — votaram em bloco pela manutenção do decreto, seguindo orientação do Planalto. No entanto, o apoio não foi suficiente para conter a articulação da oposição e o racha na base.
Nos bastidores, parlamentares relataram falhas de articulação política e ausência de estratégia do governo. O próprio Planalto reconheceu erro de cálculo ao subestimar a independência dos aliados e a força da oposição.
O caso do PSB, com duas pastas ministeriais, foi emblemático: houve divisão interna e sinal de desgaste da liderança presidencial. A falta de punição em votações anteriores também contribuiu para a autonomia dos deputados aliados.
Outro fator foi o perfil das bancadas. Partidos como PL, Republicanos, PP e União Brasil reúnem muitos parlamentares ligados a áreas militares e de segurança, geralmente contrários a medidas de aumento de arrecadação, como o reajuste do IOF.
A derrota levou o governo a considerar mudanças na relação com a base. A ideia é rever a distribuição de cargos e reforçar a fidelização, inclusive com liberação de emendas. O desafio será conciliar governabilidade com uma base cada vez mais fragmentada.
Com votações importantes no horizonte, como a reforma tributária e medidas de ajuste fiscal, a instabilidade da base acende um alerta. Apoio político precisa ir além do discurso — e se confirmar no painel de votos.