PF aponta envolvimento de Elmar Nascimento em esquema investigado pela Operação Overclean

15 setembro 2025 às 09h25

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A Polícia Federal (PF) identificou indícios de participação do deputado federal Elmar Nascimento (União-BA) em um esquema de fraude a licitações e desvio de recursos públicos na Bahia, investigado pela Operação Overclean. A apuração envolve contratos de limpeza urbana e pavimentação em municípios do interior do estado.
Segundo relatório da PF, a atuação de Elmar estaria ligada a emendas parlamentares enviadas para Campo Formoso, administrada por seu irmão, o prefeito Elmo Nascimento (União). A prefeitura firmou dois contratos com a empresa Allpha Pavimentações, considerados suspeitos de superfaturamento, no valor de R$ 51 milhões. A companhia pertence aos empresários Alex e Fábio Parente, alvos da operação.
Planilhas, encontros e repasses
Os investigadores apontam que licitações em Campo Formoso teriam sido fraudadas por Francisco Nascimento, primo do deputado e atual vereador, que na época era secretário-executivo da prefeitura. Conversas dele com o responsável pela licitação indicam favorecimento à Allpha Pavimentações.
Uma planilha apreendida com Alex Parente registra repasses de R$ 493 mil a Amaury Albuquerque Nascimento, primo e assessor de Elmar. A PF ainda menciona a compra de um apartamento pelo deputado para a filha do empresário Marcos Moura, conhecido como Rei do Lixo e também investigado.
O relatório enviado ao Supremo Tribunal Federal (STF) não resultou em medidas contra o deputado. O ministro Nuno Marques rejeitou os pedidos da PF e da Procuradoria-Geral da República (PGR), que considerou frágeis os elementos para ações contra Elmar. Também foram negados o afastamento e o bloqueio de bens do prefeito Elmo Nascimento.
Por outro lado, o ministro autorizou o afastamento de Marcelo Andrade, então presidente da Codevasf, estatal ligada ao caso e indicado pelo deputado.
Emendas e encontros
A PF destaca que Elmar se reuniu com Alex Parente em Brasília, em 28 de novembro de 2022, duas semanas antes da liberação de recursos. A suspeita é de que o encontro serviu para tratar de contratos financiados por emendas do parlamentar.
Mensagens trocadas entre investigados também citam a presença do senador Davi Alcolumbre (União-AP) nesse encontro. A defesa de Elmar nega a reunião e afirma que não houve participação do deputado em negociações envolvendo os empresários.
As investigações apontam ainda que Elmar destinou R$ 40 milhões a Campo Formoso via chamado “orçamento secreto”. Com esses recursos, o município realizou licitações de pavimentação de R$ 45 milhões e R$ 12 milhões, entre o fim de 2023 e o início de 2024.
Movimentações financeiras suspeitas
Relatórios do Coaf mostram que Amaury Nascimento movimentou valores incompatíveis com sua renda entre abril de 2024 e janeiro de 2025. Ele também teria feito pagamentos a uma empresa da qual a esposa do deputado é sócia, levantando suspeitas de repasse indireto de recursos a Elmar.
O que diz a defesa
Os advogados do parlamentar classificaram como “normais” os diálogos que tratam de datas de inauguração de obras em Campo Formoso. Afirmaram ainda que os indícios são frágeis e lembraram que a PGR não viu elementos suficientes para medidas contra o deputado.
Sobre a empresa ligada à esposa de Elmar, a defesa alegou que ela ainda estava em fase de constituição e não tinha movimentação financeira. Já a compra do apartamento para a filha de Marcos Moura foi classificada como um “negócio regular, registrado em cartório e objeto de financiamento bancário”.
Por fim, a defesa disse que Elmar “desconhece qualquer relação de Amaury com os fatos investigados”.